Doulas se dedicam a prestar assistência respeitosa às mulheres antes, durante e depois do parto

AMIGAS DO PARTO

Doulas se dedicam a prestar assistência respeitosa às mulheres antes, durante e depois do parto

Afeto e cumplicidade são as palavras que definem melhor o que acontece na relação entre uma gestante/mãe e sua doula – palavra que vem do grego (significa “mulher que serve”) e é utilizada para referir-se àquela que dá apoio físico, emocional e informativo antes, durante e depois do parto. A profissão é milenar e o papel da doula é cuidar do bem-estar da futura mãe e garantir conforto durante todo o período. As técnicas aplicadas, as conversas, as orientações e o apoio emocional se estendem também aos companheiros e, muitas vezes, a formação de vínculos intensos – que vão além do âmbito profissional – é inevitável. Mais do que isso, a doula torna-se uma presença fundamental para muitas mulheres que buscam se sentir mais confortáveis, encorajadas e tranquilas para passarem pelo momento mais importante de suas vidas. “Quando recebo o chamado de uma gestante, saio de casa pronta para servi-la para que ela tenha conforto, autoconfiança, privacidade, conexão, força e o respeito necessário para transcender a si própria nessa intensa trajetória de parir. Ser doula é acolher, acalentar, respirar junto,  acreditar na capacidade de alguém até quando ela mesma duvida”, afirma Talita Miranda, que está há três anos em São José do Rio Preto/SP e já acompanhou dezenas de nascimentos na cidade.

Antes do parto, a doula dá orientações sobre os procedimentos, conversa sobre a gravidez, ensina técnicas de relaxamento e alongamento, faz chás, massagens, incentiva a mulher física e emocionalmente, entre tantas outras coisas. Durante o parto, que pode ser hospitalar ou domiciliar – ela faz uma espécie de “mediação” entre a equipe de atendimento e o casal. Também ajuda a parturiente a entender os termos médicos, a encontrar posições mais confortáveis durante o trabalho de parto, propõe banhos, massagens, relaxamentos e técnicas de respiração, além de encorajar a mulher. E finalmente depois que o bebê nasce, a doula visita as famílias e as orienta, especialmente sobre os cuidados com o recém-nascido e a amamentação. No entanto, é importante reforçar que a profissional não substitui o pai ou acompanhante e nem a equipe médica. Seu trabalho, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é dar assistência à mulher por meio de técnicas naturais e não farmacológicas. A doula é como se fosse aquela mãe, avó, sogra, tia ou amiga da gestante: está ali para ajudar sem interferir no papel dos outros envolvidos.

Amizade, suporte e persistência

Ariana,

A técnica de enfermagem Julia Vanegas trabalhou em um hospital da cidade e, num primeiro momento, não tinha interesse na área da obstetrícia. Depois de perder o emprego e passar por um aborto espontâneo, a amiga Nathalie Gingold indicou um curso em Votuporanga, a 82 km de Rio Preto. “Ao ler a grade do curso, me apaixonei e resolvi fazer para curar minha perda gestacional. Na primeira semana, o curso foi de intensa terapia para mim. Fui em frente e logo depois da conclusão apareceu a primeira oportunidade de acompanhar uma gestante. Foi aí que eu me encantei com esse universo”, conta. A relação entre elas se estendeu e agora, grávida de oito meses, Julia está sendo acompanhada pela sua primeira doulanda. Mesmo gestante, ela não deixou de lado a profissão e só parou de atuar recentemente para dar atenção exclusiva à própria gestação e ao parto. Ela conta que acompanhar partos estando grávida foi muito inspirador: “Cada gestante que acompanhei me fortaleceu muito”.

O nascimento da pequena Teresa certamente foi uma das inspirações de Julia. O casal Ariana Pereira e José Carlos Falcoski contou com o apoio dela durante todo o processo e Ariana diz que o auxílio foi fundamental.  “Minha bebê estava encaixada até três dias antes do parto, mas na reta final ela desencaixou e nós tivemos que marcar uma cesárea. A surpresa veio quando, depois de um atraso no centro cirúrgico, a cesárea precisou ser adiada e, então, nós fizemos uma sequência de exercícios durante o trabalho de parto para a bebê se posicionar e deu certo: de repente ela fez um movimento e encaixou, nascendo alguns minutos depois, de parto normal. A Julia foi fundamental nesse processo, ela ficou conosco o tempo inteiro, acreditando e incentivando”, conta. Segundo a doula, “Ariana foi uma verdadeira guerreira, a determinação dela foi decisiva”. Mesmo após o parto, Julia continua fazendo o papel de ajudar a mãe: “Sempre que eu preciso, ela me socorre. É muito bom contar com o apoio de quem está mais habituada a um processo que nós não conhecíamos, transmite segurança”, finaliza.

Em família

Nascimento

Uma coisa que Julia faz questão de ressaltar é que a presença ativa do parceiro/pai é muito importante para que o processo seja ainda mais incrível: “Tem muito pai que quer participar, mas não sabe como e o que ele tem que fazer ou não no parto. Nós, as doulas, também damos suporte a esse companheiro e, assim, presenciamos momentos de integração emocionantes”, conta. Adrielli do Carmo Polaini Jacomassi é mais uma das mulheres que foram acompanhadas por Julia e comprova o que ela diz. A doula orientou o futuro pai quanto a exercícios e técnicas que poderiam ajudar a esposa, com o objetivo de tranquilizá-la e tornar os momentos antes, durante e depois do parto ainda mais especiais. Também trouxe informações valiosas sobre a gravidez, alterações hormonais e a importância de transmitir segurança à mulher. Segundo Adrielli, a participação de Ivan foi fundamental e a relação entre eles ficou ainda mais forte depois da chegada de Isaac: “Além da atuação com a força física – ele era o único que dava conta de me segurar -, ficou o tempo todo do meu lado, me incentivando, dando forças, dizendo que eu era capaz, que o nosso pequeno estava chegando. Ele foi muito forte e ficou comigo até o fim. Naquele momento, não nasceu só o bebê, nasceram um pai e uma mãe também”.

Parto feliz

Nathalie Gingold, citada no início dessa reportagem, tornou-se doula mais ou menos por acaso. Antes de engravidar pela segunda vez, entrou em contato com uma profissional bastante conhecida do Distrito Federal. “Ela me mostrou um novo universo e eu comecei a estudar. Aqui na região, há três anos, pouco se falava sobre o assunto e, como eu recebia muitas perguntas a respeito do parto domiciliar, acabei criando um grupo virtual com encontros semanais – o grupo Gaia. O objetivo era apenas trocar ideias, informações, orientar essas futuras mães, mas uma das mulheres me pediu para ser a doula dela e esse foi o meu primeiro trabalho”, conta. Nathalie se apaixonou pelo ofício e optou por fazer um curso de formação de doula na tradição, uma espécie de aprofundamento da prática. Hoje, depois de ter feito mais de 20 trabalhos na área, sente-se realizada: “Esse trabalho fez despertar o melhor de mim. Quando eu ajudo uma mulher, eu estou também me ajudando e aprendendo muito sobre a vida. É algo que eu quero fazer para sempre”.

Casa

Na Casa Florescer da Vida, Nathalie faz parte da equipe coordenada pela parteira Lucélia Caires Almeida. No local, elas acolhem gestantes, puérperas e mulheres com diversas atividades como rodas de conversa, oficinas, massagem, yoga, reiki, entre outras. “O nosso objetivo é cuidar do primeiro direito humano e mais fundamental: o direito de nascer bem, independente se o parto é domiciliar ou hospitalar, sem fanatismo, mas em busca da abertura de consciência”, conta Lucélia. Semanalmente, ela realiza rodas de conversa com gestantes e casais grávidos. “Junta, a equipe acolhe cada gestante e sua família como única e seus anseios, inseguranças, medos e certezas também. E nesta roda todos trocamos experiências, em busca do gestar, parir e maternar com a consciência do amor incondicional e da profundidade emocional e energética de cada um destes processos, amparando a mulher e a família em cada etapa – que vai muito além do parto”, explica. Lucélia entende que no hospital ou em casa, em qualquer tipo de parto, o protagonismo da mulher deve ser respeitado: “Parir com dignidade é direito e o nascimento é sagrado. O objetivo de nosso trabalho é promover um parto feliz, levando em conta a importância do bem-estar da mulher. Essa consciência nós procuramos construir durante as rodas. Nosso principal foco é a segurança da mãe e do bebê, com consciência e responsabilidade”.

Outro olhar

O

Ilze Ferreira acompanha a atuação das doulas de outro ponto de vista. Fotógrafa, uma de suas especialidades é registrar partos e, por isso, está acostumada à presença dessas profissionais no momento do nascimento de uma criança. Ela, que costuma dizer que seu trabalho é ver com a alma e captar o sentimento de cada situação, acredita que o parto é um momento único e muito intenso. “Por isso, o preparo físico e emocional ao longo da gestação costuma ajudar bastante. Vejo a doula como um elemento chave-facilitador”, conta. Ilze acredita que a presença da doula contribui bastante para a realização de seu trabalho: “Opapel dela no parto é muito importante e quando está ajudando nos exercícios para progressão do parto, consigo captar o movimento, a entrega da mãe e suas expressões e isso tudo deixa as imagens perfeitamente verdadeiras”. Ela é responsável por algumas das imagens incríveis que ilustram esta reportagem. Imagens que mostram que, no nascimento de uma criança, o trabalho da doula ajuda a produzir momentos e resultados emocionantes.

Reportagem: Vania Nocchi / Notícias do Bem

Fotos: Ricardo Boni / Ilze Ferreira / Dani Garbiatti

07/12/2016

07/12/2016 00:54

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *