O VALOR DA EDUCAÇÃO
Diego acredita no poder da educação para mudar vidas
“Somos como maestros de uma grande orquestra, sozinhos não fazemos nada, nosso papel é sensibilizar os demais”. É assim que Diego Mahfouz Faria Lima, diretor da escola Municipal de Ensino Fundamental Darcy Ribeiro, do bairro Santo Antônio, em São José do Rio Preto/SP, e ganhador do Prêmio Educador do Ano de 2015, que destaca as melhores iniciativas na área da educação no Brasil, descreve o seu trabalho.
A tarefa de “orquestrar” na educação não é fácil e não era uma coisa que Diego sonhava em ser “quando crescer”. Para ele a descoberta da vocação chegou através de uma oportunidade em meio à dificuldade.
Depois de terminar o ensino médio, ele descobriu que tinha um programa de incentivo à formação de novos professores que oferecia uma bolsa de um salário mínimo e foi essa a maneira que ele encontrou de “seformar”. O dinheiro da bolsa era necessário e usado para ajudar na casa, que tinha sua mãe que estava em tratamento de câncer e seu pai que trabalhava como servente de pedreiro. As condições eram difíceis.
Arregaçando as mangas
Em cerca de 10 anos como professor, Diego deixou sua marca por onde passou. Em 2014, ele foi chamado para ser diretor da escola Municipal Darcy Ribeiro, na época considerada uma das mais violentas e com um dos maiores índices de evasão escolar da cidade e região.
Ele sabia que a tarefa não seria fácil, por isso não esperou as aulas começarem e, antes do primeiro dia de aula, realizou uma pesquisa que de cara mostrou um triste dado. “Descobri que os estudantes tinham vergonha da escola. Muitas janelas estavam sem vidros, portas e banheiros quebrados, faltava pintura. Os professores por sua vez, com tantos problemas, não se sentiam pertencentes àquela comunidade escolar.”, comenta o diretor.
Para mudar essa realidade, Diego resolveu pedir para outros colégios da cidade sobras de tinta e assim poder renovar as salas de aula. Sua atitude inspirou professores, funcionários, alunos e a comunidade que doaram mais materiais e tempo, ajudando na reforma. O que era para ser apenas a pintura das classes transformou-se na revitalização da escola inteira.
De braços abertos
Antes do início do ano letivo, o diretor se reuniu com professores e chamou a comunidade para uma reunião. Na reunião compareceram apenas nove pais de um universo de mais de mil alunos.
Sem desistir de seu propósito, no primeiro dia de aula, ele e os professores foram receber os estudantes na porta e na apresentação inicial mostraram um vídeo com imagens da reforma para sensibilizá-los sobre a valorização e preservação do espaço. “Um dos maiores desafios foi conquistar a credibilidade da comunidade e dos estudantes, fazer com que eles acreditassem que poderíamos mudar a realidade da escola”, revela Diego.
A voz dos alunos
A reforma do espaço físico foi muito incentivadora para todos, mas a mudança maior foi atingida a partir do momento em que os alunos ganharam voz – com a criação de um Grêmio Estudantil, de projetos de mediação de conflitos, instalação de reuniões periódicas com todos os alunos- e a escola foi aberta à comunidade que pode utiliza a biblioteca e as quadras para atividades no final de semana.
Em 2013, o índice de evasão escolar foi de 202, com a revitalização do espaço e a implantação de diversos projetos extracurriculares esse número caiu para dois, em 2014. Entre os projetos estão o grupo de estudo “Clube de Astronomia”, o música nas escolas com o “Camerata Jovem Beethoven”, o Prata da Casa, que incentiva os talentos da escola a se apresentarem às sextas-feiras, que era o dia de maior número de faltas, além de atividades junto com os pais de esporte e artes.
“A escola mudou muito, o ambiente é outro. Essa abertura em envolver a família no desenvolvimento escolar da criança foi muito importante. Eu mesmo já participei de um dos projetos, o ‘Jardim Sustentável’, junto com a minha menina mais velha, em que trabalhamos a reciclagem e o artesanato com caixas de leite. Minha outra filha está aprendendo a tocar violino no projeto Camerata. Sem essas iniciativas elas não teriam a oportunidade de participar de projetos como este”, comenta Ana Lucia Pinheiro Dutra, moradora do Bairro Caetano II e mãe das alunas Anaelly Pinheiro Maciel, de 11 anos, e Rita de Cássia dos Santos Dutra de 12 anos).
Para fazer o bem
De todos os prêmios que o diretor recebeu pela iniciativa, o maior deles, com certeza, é a satisfação em fazer parte do desenvolvimento e proporcionar com isso o sorriso dos estudantes e profissionais que trabalham na escola Municipal Darcy Ribeiro. “Para que a transformação aconteça é preciso acreditar nela, fazer parte dela e para isso é preciso que haja uma mudança de olhar. É necessário enxergar a nós mesmo no outro, assim tudo se transforma”, enfatiza Diego.
Reportagem: Thais Alves
Fotos: Ricardo Boni
15/01/2016
08/01/2016 15:21