Em abril, a programação de cinema e vídeo do Sesc Rio Preto traz um recorte das produções cinematográficas da década de 1920, que dialogam com os questionamentos estéticos e os movimentos artísticos propostos na Semana de 1922. Intitulado de Cinema e cidades: lentes modernistas, o projeto é composto por cinco exibições de filmes, sendo uma delas em rolo de 16mm, além de trilha sonora executada ao vivo e/ou comentários de especialistas. Participam do projeto os músicos Tony Berchmans compositor, pianista e criador do espetáculo audiovisual Cinepiano, Anselmo Mancini, músico, compositor e doutor em audiovisual e do cineasta Donny Correia. As exibições acontecem de 6 a 20 de abril, são gratuitas e os ingressos para as sessões podem ser retirados com 30 minutos de antecedência nas bilheterias das Unidades do Sesc SP.
A programação integra a ação Diversos 22: Projetos, Memórias e Conexões, realizada pelo Sesc SP desde setembro de 2021, com vistas a comemorar, refletir, lidar e problematizar as representações do Centenário da Semana de Arte Moderna e Bicentenário da Independência do Brasil. A programação acontece em rede, ou seja, em todas as unidades do Sesc no Estado de São Paulo até dezembro desse ano, com atividades em diversos formatos e linguagens como seminários, cursos, programas musicais e audiovisuais, exposições artísticas e documentais, espetáculos, publicações e reedições de obras literárias.
No Sesc Rio Preto, a programação do Projeto Diversos 22 teve início em março com a apresentação de dois espetáculos para crianças que trouxeram o universo de Tarsila do Amaral e Heitor Villa-Lobos, além do bate-papo online “Nas margens do Ipiranga”, mediado pelo historiador Bernardo Montemor, que abordou algumas questões sobre nosso processo de independência.
Apesar do cinema não ter registrado presença na Semana de Arte Moderna de 1922, nem como linguagem artística e nem como instrumento de registro, sua essência já nasceu moderna. A tecnologia utilizada para a captação de imagens no início do século 19, despertava a curiosidade e sintetizava toda a movimentação e as transformações que as cidades estavam passando, como seu processo de urbanização, a criação de postos de trabalho e a incorporação dos automóveis no cotidiano. Com isso, todo o movimento existente nas cidades, que nascia com essas transformações, era captado pelas lentes modernas e tecnológicas.
Abrindo a programação, no dia 6, às 19h30, o filme “O Homem Mosca”, uma produção de 1923 que recebeu a direção de Fred C. Newmeyer, teve codireção do roteirista Sam Taylor e atuação de Harold Lloyd, traz o burburinho de Los Angeles na década 20. Transitando entre comédia e drama, humor e romance, a obra narra a história de um homem do interior que se muda para a cidade grande com a esperança de ganhar dinheiro o suficiente para poder buscar a namorada e se casar com ela. Quando a garota aparece, ele finge ser o gerente geral do lugar onde trabalha e realiza uma perigosa ação para promover o estabelecimento e ganhar dinheiro para concretizar seus planos.
A exibição acontece em formato de 16mm e conta com participação de Tony Berchmans, compositor, pianista, professor especialista em música de cinema e criador do espetáculo audiovisual Cinepiano, uma experiência audiovisual na qual Berchmans improvisa a trilha sonora musical ao vivo, utilizando temas de sua autoria e excertos de música folclórica ou clássica, sempre em intenso diálogo com a narrativa dos filmes.
De acordo com a técnica de programação Ana Paula Dias, responsável pelo projeto, “para além das exibições, o Sesc Rio Preto oferece uma experiência diferente do cinema, a sessão de abertura praticamente reproduz o que existia na época, um projetor de 16 mm, o filme em rolo, com reprodução em um teatro, o que é um acontecimento super importante, pois na época não existia sala exclusivas para as projeções, o cinema foi tomando o espaço dos teatros, pois era o ambiente em que era possível fazer essas exibições. É bem emblemático exibir os filmes no teatro!”
No dia 13, às 20h, a exibição “São Paulo: Sinfonia da Metrópole” apresenta a cidade de São Paulo no final da década de 20. A lente objetiva dos diretores húngaros Adalberto Kemeny e Rodolfo Lustig, donos de um dos melhores laboratórios de cinema da época, tece uma narrativa de culto à modernidade, mostrando uma São Paulo semelhante às maiores metrópoles mundiais e em constante progresso. A obra inspira-se no clássico “Berlim – Sinfonia da Cidade (1927)”, para trazer o romance da cidade, seu urbanismo, a labuta diária da grande massa anônima, moda, monumentos públicos, industrialização, fatos históricos, expansão do café, educação e o burburinho do cotidiano.
A exibição, em cópia digitalizada,conta com os comentários de Donny Correia, poeta, cineasta, mestre e doutor em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo (Usp).
Um dos grandes destaques da mostra é a exibição do filme “Um Homem com uma Câmera”, do diretor russo Dziga Vertov, na quinta-feira, dia 14, às 20h.
O filme acompanha uma cidade na União Soviética da década de 20, do dia até a noite, retratando cenas do cotidiano na Rússia e celebrando a modernidade da cidade. A exibição é acompanhada de música composta e executada pelo compositor, mestre e doutor em audiovisual Anselmo Mancini.
Filmado por um período de três anos e extremamente inovador para a época em que foi lançado, em 1929, o filme ficou famoso por apresentar para o público todos os tipos de técnicas de câmera possíveis até então, entre elas dupla exposição, câmera acelerada, câmera lenta, quadros congelados, telas divididas, close-ups extremos, filmagem de trás para frente e animação em stop motion.
Embora pareça se passar em uma única cidade, o filme foi filmado em Moscou, Odessa, Kharkiv e Kiev, quando estas três últimas faziam parte da União Soviética, porém, hoje elas fazem parte da Ucrânia. Preocupado com a forma como o filme seria recebido e que ele poderia ser destruído pelos censores do governo, o diretor Dziga Vertov enviou mensagens para o Pravda, principal jornal da União Soviética, para tentar explicar as intenções do filme e sua posição anticonvencional contra o cinema regular, uma tática que deu certo e criou um maior interesse pela obra.
A sessão que encerra a programação do projeto “Cinema e Cidades: lentes modernistas”, é dupla e conta com a sincronização de trilha sonora executada exclusivamente para os filmes pelo músico Anselmo Mancini, que também participa da atividade trazendo comentários sobre as obras. No dia 20, quarta, às 20h são exibidas as obras Fragmentos da Vida (1929) e Veneza Americana (1925). O primeiro, traz a história de dois vagabundos que vivem de pequenos golpes nas ruas da crescente São Paulo. Um deles, quando mais jovem, presenciou a morte de seu pai, um operário trabalhador da construção civil, que caiu de um andaime. Antes de partir, o pai pediu ao filho que trilhasse o caminho da honestidade, entretanto, passado o tempo, o garoto, agora um vagabundo, procura ser detido pela polícia para não ter que passar o inverno nas ruas.
O longa teve a direção de José Medina, um dos pioneiros do cinema paulista. Realizado com um baixo orçamento, o elenco era composto de artistas amadores, “os protagonistas, Carlos Ferreira e Alfredo Roussy, trazem a experiência do teatro amador, enquanto que Áurea Auremar, realiza sua primeira interpretação.
Já na segunda sessão, o documentário Veneza Americana mostra as obras e a infraestrutura da cidade de Recife no segundo aniversário da administração de Sergio Lorêto, governador do Estado. O porto de Recife, que a partir de 1922 passa a ser dependência direta do Estado, os armazéns, alguns ainda em construção; o cais, capacitado para receber navios e o trabalho nas pedreiras de Comportas, de onde são extraídas as pedras para as obras do porto. O filme foi dirigido Ugo Falangola e por J. Cambière, pioneiros do cinema mudo brasileiro e que juntos, fundaram a produtora Pernambuco Film no início dos anos 1920. À frente dela, realizaram uma série de documentários sobre a capital pernambucana.
Os protocolos de segurança frente à Covid-19 seguem mantidos, e para frequentar as unidades e assistir a qualquer programação é preciso apresentar comprovante de vacinação, para pessoas maiores de 5 anos, com pelo menos a primeira dose, ou esquema vacinal completo para adultos, e um documento com foto. O uso de máscara é facultativo.
Texto: Luana Ligero / Sesc / Divulgação
Fotos: Sesc / Divulgação