Filme em realidade virtual ‘O Burocrata’, do Núcleo 2, segue em minitemporada em Rio Pret

Curta é exibido na quinta (2/10), no Plaza Shopping; sexta (3/10), no bairro Santa Cruz; e sábado (4/10), na Praça de Talhado


Dando sequência à minitemporada de estreia, o Agrupamento Núcleo 2 faz a partir desta quinta, dia 2 de outubro, uma série de exibições gratuitas, a maioria ao ar livre, de sua mais nova produção, o curta O Burocrata, que discute temas como alienação, vigilância e ilusão de liberdade na era das realidades simuladas. O projeto do coletivo multimídia de pesquisa e fusão de linguagens artísticas é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) em São José do Rio Preto, sua cidade-sede.

As apresentações serão realizadas no Plaza Shopping (quinta, 2 de outubro, 19h); Praça São Benedito, na Santa Cruz (sexta, 3 de outubro, 19h); e, por fim, Praça da Matriz de Talhado (sábado, dia 4 de outubro, 17h). A produção já passou pelo canteiro central da Avenida José Munia, altura do número 7.085, no bairro Jardim Vivendas, e Praça Setpar (domingo, 28 de setembro, 16h).

As sessões acontecem no formato de videoinstalação imersiva, contendo quatro óculos de realidade virtual exibindo o curta simultaneamente durante duas horas e uma instalação binaural interativa, oferecendo uma sonoridade que envolve o público ouvinte. Além disso, espectadores podem escanear QRCodes para obter informações extras à história.

Com roteiro e direção de Jef Telles, que também interpreta o protagonista, “O Burocrata” acompanha o personagem Daniel, funcionário de uma grande corporação como controlador de pessoas. Detém o poder de tomar decisões em prol de um sistema que rouba o tempo dos sujeitos em troca de um pequeno salário. Em dado momento de sua vida e com a ajuda do professor Diógenes (Diógenes Sgarbi), começa a se questionar sobre o próprio trabalho e o sentido da vida, descobrindo minimamente que é um ser alienado. O sistema rapidamente corrige esse desvio. O funcionário Bruno (gerado por IA), outro controlador, assume o perfil de Daniel, isolando-o por 68 horas num domo próximo à natureza.

O começo
A ideia do projeto começou em 2023, quando Jef Telles concretizou o desejo de trabalhar com vídeo em 360 graus, produzindo O Carteiro. “Eu fui sozinho para um glamping na cidade de Ibiúna e passei quatro dias nesse lugar, finalizando o roteiro e captando imagens que, na época, não sabia exatamente se ia virar um curta de suspense, um vídeo-arte com algo mais lúdico ou um vídeo-poema (acho que no final das contas O Carteiro é um pouco de tudo isso)”, conta o diretor.

Em O Carteiro, a história gira em torno de um ex burocrata que abandona o trabalho formal para viver como hedonista e, guiado pelo prazer e a sensação de liberdade, procura refúgio em um local ermo a fim de novas vivências e reflexões sobre sua existência. “Quando fiz a edição e assisti dentro dos óculos de realidade virtual gostei muito do resultado e pensei que gostaria de contar mais histórias dessa forma, imersivas. Então, me perguntei como continuar a história d’O Carteiro, para onde ele poderia ir, e descobri que seria interessante explorar como aquela personagem chegou naquele lugar. Aí eu escrevi O Burocrata, com uma narrativa mais clássica, de começo, meio e fim, e que acontece antes dO Carteiro”, revela Telles.

A trama de O Burocrata gira em torno desse trabalhador que até então não tinha nome e agora se chama Daniel, um controlador de pessoas que atua junto com sua assistente virtual, a IA Carolina, dentro de um sistema que representa o mundo real, um simulacro, chamado “Hedonista”.

O processo
Antes da escrita do roteiro, Jef Telles convidou o cientista social Diógenes Sgarbi para uma roda de conversa sobre o conceito do trabalho na perspectiva do alemão Karl Max (1818-1883), ponto de partida para a pesquisa. Para Marx, o trabalho no capitalismo torna-se uma mercadoria alienada e explorada – os trabalhadores produzem mais valor do que recebem em salário (mais-valia), enriquecendo os donos dos meios de produção.

Cerca de nove meses depois, durante o processo de escrita, que teve como provocador o cineasta Bruno Lottelli, foi realizado um bate-papo com três artistas audiovisuais; Alexandre Estevanato, Gaia do Brasil e Vinícius Dall’Aqua; sobre linguagens da realidade virtual. A ideia foi ler e discutir o roteiro com olhares diversos e a parceria de outros profissionais interessados no tema.

“As ideias que norteiam o filme são a da alienação, da vigilância e a ilusão de liberdade na era das realidades simuladas. A jornada do personagem Daniel, um burocrata que opera vidas dentro do simulacro ‘Hedonista’ não é apenas a história de um homem tentando romper um sistema, mas também um comentário direto sobre o aprisionamento voluntário em ambientes virtuais e a passividade com que aceitamos algoritmos decidindo destinos”, atesta Telles.  

A produção
Inicialmente, a produção se daria por captações em 360 graus, utilizando locações reais de São José do Rio Preto. Ao longo do trabalho, optou-se por uma plataforma geradora de cenários e a ferramenta mudou o curso de desenvolvimento da obra, trazendo outras camadas para a narrativa como, por exemplo, a atmosfera de um mundo distópico. Isso fez com que o coletivo, depois de inúmeros estudos, gravasse a maioria das cenas em fundo verde, pelo profissional Guilherme Di Curzio.

Ainda durante o processo, o artista Jef Telles produziu um curta infantil chamado A Cabeça do Menino Invisível, sem diálogo com “O Burocrata”, mas que serviu de experimento para a viabilidade do projeto.

Reunindo uma equipe de mais de 20 pessoas, a exibição do filme se dá no formato de vídeoinstalação, onde espectadores, para além dos óculos de realidade virtual, podem escanear QRCodes a fim de obter informações complementares à narrativa. Além disso, instalação binaural interativa cria uma imersão sonora. A obra também conta conta com audiodescrição e interpretação em Libras.

Serviço
Curta “O Burocata” (Agrupamento Núcleo 2 – São José do Rio Preto/SP)
Datas e locais: quinta (2/10), 19h, Plaza Shopping; sexta (3/10), 19h, Praça São Benedito, bairro Santa Cruz; sábado (4/10), 17h, Praça do Distrito de Talhado.
Duração: 11 minutos (total de duas horas de exibição simultânea para quatro pessoas por vez)
Classificação indicativa: 14 anos
Acessibilidade: Libras e audiodescrição
Ingresso: gratuito
Canais: @artenucleo2 e www.nucleo2.com.br

Foto: Reprodução

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