Mestra dribla o gelo do Ártico para lecionar

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Mestra dribla o gelo do Ártico para lecionar

Maggie MacDonnell não ensina em Andover ou Eton. Sua classe de aula está no Ártico Canadense, mas especificamente em Salluit, uma aldeia remota dos Inuit, membros da nação indígena esquimó, onde as temperaturas diminuem até -25 °C no inverno e cuja comunidade indígena tem visto a sua parcela de depressão e suicídio juvenil aumentar.

Apesar de um alto nível de rotatividade na região, com muitos instrutores saindo devido ao estresse das condições remotas e difíceis, ela ensina em sua pequena escola há mais de seis anos. No entanto, não é apenas a tenacidade que levou MacDonnell a vencer o Prêmio Global de Professores deste ano, (Global Teacher Prize), um prêmio no valor de US $ 1 milhão, superior ao valor em dinheiro do Prêmio Nobel.

O comitê de seleção global por trás do prêmio (criado pelo filantropo escolar Sunny Varkey) ficou impressionado com a dedicação de MacDonnell a uma coisa que a maioria dos professores, em geral, fazem pouco caso: a comunidade em torno da sala de aula.

Quando MacDonnell chegou pela primeira vez em Salluit, ela foi recebida por uma sala de cadeiras quebradas, paredes pichadas e mesas quebradas. Não havia livros. Os estudantes designados para a classe – que se enquadram num sistema escolar falido que foi criticado por especialistas em educação – estavam sofrendo com muitos problemas sociais e econômicos que afetam seus bairros para prestar atenção em temas como história e matemática.

Não é uma história glamourosa, diz MacDonnell sobre seu primeiro dia, que ela lembra para Quartz* enquanto estava em uma recente viagem a Nova York para falar em um evento de educação nas Nações Unidas. Eu tinha um lápis para cada criança. Havia uma grande desconfiança. Eu vi que não funcionaria e eu disse, vamos caminhar – e então fomos sair, visitando a comunidade. Nós nos sentamos junto à água. Comprei-lhes cheeseburgers.

MacDonnell, que treinou programas de jovens e trabalhou durante cinco anos na África antes de decidir retornar para o Canadá para ensinar comunidades indígenas, percebeu imediatamente que um currículo educacional padrão era limitativo e irrelevante para seus alunos. Ela começou desde o início, ensinando as habilidades de vida de seus alunos, como compaixão e gentileza, antes de passar para os livros didáticos. Ela construiu um centro de academia e uma cozinha comunitária, convidando as famílias dos estudantes para ambos. Ela começou um programa de prevenção de suicídios em adolescentes que dependia da participação direta de jovens.

Você precisa se conectar às pessoas, diz ela.

MacDonnell diz que uma das maiores falhas que ela vê na educação no mundo é que muitos professores vêem a sala de aula como um espaço separado da vida cotidiana dos alunos. Não sei por que uma educação tem que ser tão distante, cortada da comunidade, diz ela. Enquanto ela reconhece que tem um pouco mais de liberdade de instrução do que muitos outros professores, como aqueles que estão vinculados aos currículos distritais, ela diz que o pior que um professor pode fazer é mostrar as matérias de aula, sem antes considerar os antecedentes e as necessidades de cada aluno.

E pergunto se ela acredita que a tecnologia – especialmente aquela que é voltada para as salas de aula -, pode beneficiar os professores, MacDonnell diz que essas tecnologias assumem um certo avanço, e esse avanço é completamente diferente daqueles estudantes que estão lutando para entender sua própria cultura ou não tiveram uma refeição na noite anterior. Ser capaz de saber quais são os sonhos e aspirações que queremos, acrescenta, é um luxo de classe média.

Como um aplicativo pode gerenciar o comportamento? Como um aluno suicida pode buscar empatia em um iPad? , diz a professora. Tudo isso pode complementar a aprendizagem, talvez, para estudantes altamente motivados com acesso digital. Mas, primeiro, você precisa investir no ensino.”

Fonte: Quartz
Tradução: João Vitor Boni / Notícias do Bem
Foto: Karim Sahib / AFP/Getty Imagens 30/10/2017

30/10/2017 12:32

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