UMA BOA PROSA COM AFETO
ESPECIAL TERCEIRA IDADE – Conheça a história de quem já viveu quase um século
Quando somos jovens, geralmente, não paramos muito para pensar como será a nossa vida quando ficarmos mais velhos e, mais do que isso, muitas vezes nem se quer damos a devida atenção àqueles que já chegaram à terceira idade.
Nesta semana, foi celebrado o Dia de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa (15/06) e, em nossa reunião de pauta, decidimos contar alguma história que trouxesse a terceira idade como tema. Foi assim que chegamos ao encontro do senhor Ludovino Alves de Souza, um jovem de 94 anos, morador do bairro Parque Estoril, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
É incrível pensar o quanto ele já viveu. Quase um século de vida!
Bom de prosa, seu Ludovino conta com orgulho que esbanja saúde, não tem diabetes, nem colesterol, muito menos pressão alta e que sempre pratica exercícios de alongamento para manter o corpo ativo. Mais do que falar, enquanto conversávamos, ele mostrou alguns dos alongamentos, esticando a perna e segurando-a contra o corpo. Confesso que e eu, na casa dos 30 anos, não consigo ter essa mesma elasticidade que ele. “Joguei futebol até os meus 75 anos. Hoje, não consigo mais, mas faço exercícios, sempre que posso vou passear, gosto de dirigir meu carro para ir à cidade, vou aos encontros dos amigos no grupo da terceira idade, no Asa Delta (um Centro Comunitário de Rio Preto), todas as terças e sextas-feiras, para jogar bingo e ficar com os colegas”, revela.
Durante a entrevista, Ludovino contou diversas histórias, como uma de quando ele quase morreu em um acidente de carro, no ano de 1948, quando ele dirigia o “fordinho pé bode”, apelido dado ao carro que ele tinha naquela época. “Foi em uma viagem que fiz com a minha irmã. Alguns raios das rodas do carro estavam quebrados e aconteceu o acidente. Acharam que eu estava morto, tinha batido a cabeça e estava com a cara toda machucada. Meu coração parou sete vezes. O coração trabalhava um pouquinho, depois parava. Trabalhava e parava. O médico que estava me tratando, que era amigo da família, achava que eu não ia sobreviver, mas consegui”, explica ele que, até hoje, guarda em sua carteira a foto do seu “fordinho pé de bode” e faz questão de mostrar quando conta essa história.
“Criado a banha de porco”
Nascido na cidade de Cedral, seu Ludovino morava em uma fazenda e foi “criado a banha de porco e de vaca”, como ele mesmo diz. Trabalhava, de sol a sol, nas plantações de café de seu pai. A vida não era fácil naquele tempo para ele que, depois de quase 30 anos no campo, resolveu ir para cidade. Chegou a morar na capital paulista, onde foi diplomado como contabilista – ele faz questão de mostrar o diploma emoldurado de contabilista, que fica na sala de sua casa. Voltando para o interior, em São José do Rio Preto, ele começou a trabalhar, viajando pela região, como vendedor, e foi como criou seus dois filhos, ao lado de sua esposa, Doralice.
Questionado sobre o que sente saudade do tempo que era mais novo, ele revela que gostava muito de pescar. “Já cheguei a pegar um dourado de 24kg, no Rio Turvo”, relembra o “pescador”. Mesmo não conseguindo ir mais para a beira do rio, seu Ludovino realiza outras atividades do dia a dia e nunca fica parado. Ele conta que vai ao mercado próximo de casa para comprar as coisas que faltam para a casa e que dia desses no caminho às compras encontrou um amigo de longa data. “Um colega, da época de escola, me reconheceu na rua. No começo, eu não sabia quem era, pois ele já está todo ‘enrugadinho’. Eu estou com a pele lisinha, por isso que foi mais fácil para ele saber quem eu era.”, explica ele, com total franqueza, que arranca boas gargalhadas da nossa equipe.
Uma mente eterna
Seu Ludovino sobrevive da sua aposentadoria, “que não dá para muita coisa” como ele ressalta. Em sua casa, ele tem a ajuda de uma funcionária, onde ele vive com sua esposa, dona Doralice (82 anos), com quem é casado há 61 anos. Com muito carinho, ele fala que Doralice é muito bonita, “cheia de curvas”, e que há alguns anos ela foi diagnosticada com Alzheimer. Sem nenhum ressentimento, ou qualquer coisa que mostre algum tipo de rancor à vida, em relação à condição de sua companheira, ele fala, com leveza, sobre o “alzainer”, como ele se refere, da esposa.
Na visita da nossa equipe, Ludovino fez questão que fossemos até o quarto onde estava Doralice, que estava deitada, para descansar, mas mesmo assim nos recebeu com o sorriso no rosto e uma ternura no olhar que fez nossos olhos se encherem de lágrimas. Seu Ludovico estava certo, Doralice é linda, tem curvas e um brilho nos olhos encantador.
– Que bom que vocês estão aqui, voltem sempre!, nos acolheu Doralice.
Com o coração cheio de afeto, nos despedimos do seu Ludovino, questionando-o sobre como ele vê a juventude de hoje. “É muito importante e bom ter a juventude por perto, eles dão energia e alegria para gente, mas os jovens precisam para de resmungar sobre a vida e dar mais valor aos mais velhos”, responde.
“Eu me considero muito feliz, tenho saúde! Nunca imaginei que iria chegar aos 94 anos, na verdade nunca pensei muito sobre isso, trabalhei muito e fui apenas vivendo a vida”, nos ensina Ludovino.
Atenção, carinho e respeito!
Para saber mais sobre as ações e projetos desenvolvidos à Terceira Idade e como poder ajudar, busque informações junto ao Governo Municipal de sua cidade. Em São José do Rio Preto/SP, há o Conselho Municipal dos Direitos dos Idosos (CMDI) que tem como objetivos o controle e a fiscalização dos direitos dos idosos, além de promover e garantir o pleno exercício da cidadania do idoso. O CMDI funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h, na rua Maximiano Mendes, 154, no bairro Santa Cruz. O telefone para contato é (17) 3211 1850. |
Reportagem: Thais Alves / Notícias do Bem
Fotos: Ricardo Boni / Notícias do Bem
17/06/2016
17/06/2016 01:56