BRINCAR É COISA SÉRIA
Conheça os benefícios da brincadeira no desenvolvimento humano
Pega-pega, esconde-esconde, queimada, amarelinha, pega-ladrão, bolinha de gude, pular corda… Quem não se lembra dessas brincadeiras que marcaram a infância há algumas décadas? Os tempos mudaram. Hoje em dia, a tecnologia, a violência das cidades e a longa jornada de trabalho de pais e mães acabam afetando o modo como as crianças brincam. Mas isso não significa que a brincadeira deixou de ter importância. Ao contrário, brincar é uma das melhores maneiras de aprender valores e estimular a criatividade. Nas férias, serve para espantar o tédio e, no período letivo, para relaxar. Resumindo: brincar só traz benefícios, inclusive para os adultos.
Para as crianças, a brincadeira vai muito além da fantasia – é um processo contínuo de aprendizagem, de descoberta. Para a empresária Ayla Farias, que tem uma brinquedoteca móvel e participa de eventos, além de desenvolver oficinas artísticas e sensoriais, “Brincar é a mais importante ferramenta de desenvolvimento do ser humano. É brincando que a criança cria, imagina, se concentra, imita e, consequentemente, desenvolve capacidades importantes como a memória, a coordenação motora, a interpretação, a linguagem, a curiosidade e a atenção”. Sendo assim, graças a inúmeros benefícios, fica claro: a brincadeira desenvolve motora e intelectualmente, além de ser uma ótima oportunidade para se fazer amigos.
Tecnologia: como lidar?
Atualmente, brincar na rua, como se fazia antigamente, não é tão comum. Nas grandes cidades, condomínios com áreas de lazer de certa forma resgatam a cultura da brincadeira de rua. Mas os computadores, smartphones e tablets chegaram para ficar (e os pequenos adoram). O importante, nesse caso, é ter equilíbrio e consciência. Tauane Alamino, mãe de Jorge Augusto, de dois anos e nove meses, acredita que a tecnologia limita o desenvolvimento porque oferece possibilidades prontas. “Mas nossas crianças nasceram num mundo tecnológico, conectado. Não dá pra negar isso a eles enquanto nós, adultos, continuamos tanto tempo no celular e no computador”. O pequeno gosta de desenhos e séries, mas Tauane faz questão de filtrar tudo. “Sem violência, sem preconceito, sem machismo e sem exagero. Porque depois isso vai para a brincadeira”, reflete.
Brinque com os pequenos
Tauane e Jorge Augusto brincam juntos todas as tardes depois que ele sai da creche. Após uma rotina muitas vezes cansativa, já que ela é atriz, cartomante e confecciona slings, sentar no chão e se divertir com o pequeno é o caminho que ela escolheu como mãe. “Dessa forma ele me enxerga como uma amiga, alguém com quem ele se diverte. É um jeito também de conhecer meu filho de igual pra igual. Durante a brincadeira, não tem imposição de autoridade, ele me reconhece como um ser humano. A gente ri, imagina e cria junto”, conta.
Tauane está no caminho certo, segundo especialistas. Brincar junto fortalece os laços afetivos, além de ser uma ótima oportunidade de transmitir valores e descobrir as preferências e os pensamentos dos pequenos de forma lúdica. Celular, e-mails, computador, trabalho… Tudo isso deve ser esquecido na hora de brincar com as crianças. A qualidade dos momentos vale muito mais do que a quantidade. Brincar, se divertir, rir, correr, subir em árvore, rolar na grama, cair, se sujar… Isso conecta e promove um conhecimento mútuo importante para a relação, além de ser saudável e divertido.
Em família
Diferente de grande parte dos lares modernos, a casa de Ana Cândida Carvalho tem uma turma grande. Ela, que cresceu em uma família de quatro irmãos, tem três filhos – Rafaela, de 14 anos, João Gabriel, de oito, e Pedro, de cinco. “Ter vários irmãos influenciou na decisão de ter três filhos. A diferença entre a Rafaela e o João é grande. O Rodrigo [marido] só tem um irmão muito mais velho e as nossas realidades diferentes nos levaram a planejar o Pedro para depois do João, assim eles dois poderiam brincar juntos e, lá na frente, serem companheiros”, conta.
A rotina de quem tem vários filhos é muito corrida. E com tantas demandas – em casa e fora – nem sempre é possível arrumar tempo para levar as crianças em parques, clubes e praças. Por isso, quem tem pelo menos um irmão para compartilhar os momentos em casa dificilmente sente tédio. “Os meninos gostam muito de brincar juntos. Brincam todos os dias. A Rafa, como já é adolescente, não está mais na fase de brincar, mas ajuda os dois com as tarefas da escola. Assim, eles se conhecem, compartilham, se divertem e ficam cada vez mais unidos”, reflete Ana Cândida.
Brincar também é coisa de adulto
Tati Rabêllo, pós-graduada em Ludicidade e Desenvolvimento Criativo de Pessoas pela Transludus (instituição baiana), produziu o vídeo “Recorte Brincar” durante o curso, concluído no fim do ano passado. A provocação, feita com adultos, traz questões como “Você brincava de quê?”, “Você brinca?” e “Brincar pra quê?”, com o objetivo de abordar o tema e resgatar a importância da brincadeira. Segundo ela, brincar serve para conectar, para reabastecer o corpo de alegria, felicidade e energia e para pensarmos na vida de outra forma. No vídeo, os entrevistados contam como eram as brincadeiras no passado e o que fazem, atualmente, para se divertir. “O problema é que a sociedade acha que brincar é coisa de criança”, relata Pola Ribeiro, cineasta e gestor público.
Jogar bola, dançar, pintar, bordar, contar histórias, tomar chuva… Existem diversas maneiras de brincar, ainda que seja na vida adulta. Tati considera que “Quando abrimos espaço para a brincadeira nas nossas vidas, seja com nossos namorados, amigos ou filhos, somos tocados pelo espírito lúdico que nos impulsiona para alegria, combustível essencial para a vida. Fomos ensinados a acreditar que o brincar faz parte de uma fase das nossas vidas, faz parte da nossa infância. Mas, como afirma o professor Cipriano Luckesi: ‘brincar é do humano’ e é coisa séria”.
Reportagem: Vânia Nocchi / Notícias do Bem
Fotos: Ricardo Boni / Notícias do Bem
18/07/2016
17/07/2016 23:00