Escritora Maria Vilani, mãe do rapper Criolo, fala sobre sua inspiradora trajetória de vida

BAGAGEM LITERÁRIA

Escritora Maria Vilani, mãe do rapper Criolo, fala sobre sua inspiradora trajetória

Cada um, como dono do seu tempo, sabe os desafios enfrentados para trilhar e seguir o caminho que deseja e lutar para realizar aquilo que acredita. Ativista do seu próprio tempo, a escritora, filósofa, militante social, esposa e mãe de cinco filhos Maria Vilani Cavalcante Gomes – moradora do bairro Grajaú, na periferia da cidade São Paulo – viu aos 40 anos de idade a oportunidade de voltar para a escola, terminar os estudos e com o seu conhecimento fazer a diferença em sua comunidade e espalhar o carinho e amor pela arte através dos livros.

O tempo passado, que para muitos poderia ser um grande empecilho, para a escritora somente potencializou a vontade de aprender. Em alguns momentos, dividindo a sala de aula com seus filhos mais velhos, Maria conseguiu terminar o ensino médio, conquistar uma formação universitária e, nesse meio tempo, ainda fundar o Centro de Arte e Promoção Social (CAPS), que funciona no Centro Cultural do Grajaú Palhaço Carequinha e ajuda centenas de pessoas, promovendo gratuitamente atividade socioeducacionais.

Autora de livros como “Varal”, “Cinco contos sem desconto e de quebra dois poemas”, “O Reino de Roselândia” e sua mais nova obra “Penteando a Vida”, uma coletânea de 70 poesias que escritas entre os anos de 1985 a 2015, Maria Vilani esteve em São José do Rio Preto, na última quarta-feira (7/12), participando do projeto “Bagagem Literária”, onde foi convidada a apresentar as obras de sua trajetória leitora ao público.

Durante sua passagem pelo interior paulista, a poeta recebeu a equipe do Notícias do Bem para um bate-papo, onde contou sobre sua trajetória, a satisfação de poder ajudar sua comunidade e a alegria de ver seus cinco filhos criados e envolvidos de alguma forma na arte, entre eles o artista,  cantor e compositor,  Kleber – mais conhecido como Criolo, o rapper paulistano que ganhou projeção em todo o Brasil e internacionalmente com suas músicas que apresentam a poética da realidade da periferia.

Lembranças

Vinda de uma família humilde de Fortaleza, no Ceará, Maria Vilani conta que seu primeiro contato com a literatura foi através de seu pai. “Todos os dias que meu pai chegava do trabalho, ele tinha uma missão que era fazer uma leitura para mim. Ele impunha isso para ele”, comenta a poeta. “E eu muito pequenininha achava tudo muito mágico, porque para mim as letras eram códigos indecifráveis, que ele conseguia decifrar. Era muito mágico e muito bonito. Eu acredito que o meu pai era autodidata. Aos 8 anos de idade, eu o perdi. Quando ele faleceu eu ainda não tinha aprendido a ler, então eu continuei nessa luta para me alfabetizar”, lembra.

Maria diz que, depois da morte de seu pai, ela foi morar na casa de parentes e que uma maneira que ela encontrou para aprender a ler era por meio de retalhos de jornais. “Quando íamos fazer compras nos mercadinhos – as bodegas, como a gente chama no Ceará – eu pegava os pedaços de jornais que eram usados para embrulhar as compras, e essas folhas de jornais eram as minhas cartilhas. Eu fazia comparações com a letra do meu nome, com as letras dos retalhos dos jornais e ali eu me alfabetizei”, revela.

A mudança de mundo

Aos 23 anos, Maria se mudou para a capital Paulista, onde se instalou no bairro do Grajaú, onde mora até hoje. Lá criou, junto com o seu marido Cléon, seus filhos cinco filhos – Cleiton, Kleber (Criolo), Cleane, Maria Aparecida e Cléon Júnior – e desenvolve ações socioeducacionais que tem mudado a vida de muitos moradores de sua comunidade. 

“Eu sempre quis fazer algo a mais do que simplesmente cuidar de mim e de minha família, porque eu entendo a humanidade como uma grande família. Nós não podemos abraçar a todos, mas eu acredito que nós temos responsabilidade sobre a humanidade que permeia o nosso entorno”, explica. “Desde adolescente, eu já desenvolvia um trabalho social voluntário. Em São Paulo, assim que as crianças (os filhos) começaram a se desenvolver a crescer um pouquinho mais, nós começamos juntos a desenvolver esse trabalho comunitário”, complementa.

Há 26 anos, foi criada a CAPS (Centro de Arte e Promoção Social), em que Maria Vilani é um das fundadoras. O Centro de Arte é uma organização constituída por representantes da sociedade civil, ativistas culturais e sociais, todos voluntários, tendo como missão a promoção do ser humano. “Diretamente são cerca de 30 pessoas envolvidas e mais de 200 pessoas sendo atendidas pelos projetos que envolvem arte e conhecimento de uma forma geral. São promovidos recitais, carreatas poéticas, oficinas de artes. Temos também um projeto intitulado Rodas de Construção do Conhecimento em que são abordadas diversas temáticas como o estudo da arte, poesia, assuntos jurídicos como a nossa”, lista a fundadora.

Em mais de duas décadas de ação, milhares de pessoas passaram pelo projeto. “Muitos sonhos foram realizados nessa trajetória, de meninos que não escreviam e passaram a escrever, de pessoas que desenvolveram seus talentos como cantores, na arte, jovens que por meio da oficina de literatura publicaram suas obras. O projeto está marcando essas pessoas e essas pessoas, por meio de suas realizações, estão marcando a nós que dirigimos a instituição”, se orgulha Maria.

Penteando a vida

Como poeta e escritora, ela revela que lançou seu primeiro livro no segundo ano do ensino médio, uma coletânea de poesias. Nas suas escritas a vida é o maior motivo de inspiração. “Tudo me inspira, às vezes uma palavra me faz compor um poema. Sei que a minha poesia chega de forma diferente para cada pessoa, afinal cada pessoa tem um repertório, uma representação, um modo de entender a vida. Mas o intuito é transmitir de alguma forma a beleza, a arte e o amor”, destaca.

Sobre a arte e todas as vertentes Maria é categórica em dizer “A arte não é um caminho, ela é o caminho que nos conduz a nós mesmo”. Ao final do bate-papo, perguntamos qual a Notícia do Bem que ela gostaria que fosse manchete nas mídias. “A humanidade de mãos dadas cantando um hino de louvor à liberdade”, finaliza.

Se você quiser saber mais sobre as obras literárias da escritora Maria Vilani acesse a fanpage da escritora e se quiser conhecer e ajudar as ações socioeducativas acesse a rede social Centro de Arte e Promoção Social (CAPS).

Confira no vídeo um pouco da Bagagem Literária da escritora Maria Vilani, recitada no SESC Rio Preto. Inspire-se!


Reportagem: Thais Alves / Notícias do Bem
Fotos Ricardo Boni / Notícias do Bem
Vídeo: Victor Natureza

11/12/2016

11/12/2016 16:32

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