ESTRELA DE BELÉM
História, fé e magia após oito séculos
Quantas atribulações a sociedade viveu em 2020, não? Quantos desafios, tristeza e isolamento fizeram parte de nosso cotidiano… Crianças longe dos amigos e dos familiares, sem poderem abraçar e sentirem-se abraços, aparatos de “guerra sanitária” passaram a fazer parte de nosso traje costumeiro: máscara, álcool gel, tapetes para higienização dos calçados, lavar a mão de tempos em tempos e, em meio a tantas novas exigências, não vimos o tempo passar, e dezembro chegou.
Nessa época do ano, muito se diz sobre as celebrações: uns reafirmam que a convenção do nascimento de Jesus se deu a partir das festas pagãs, como a celebração do solstício de verão, quando as colheitas acabavam e os camponeses faziam oferendas aos deuses para agradecer os bons resultados. É também em dezembro que a comunidade judaica celebra a Hanukkah, o festival de luzes que começa após o por do sol do 24º dia do mês judaico de Kislev, em uma festa que dura oito dias, com velas acesas, e é uma forma de celebrar a dedicação da comunidade na colheita das olivas, que se dava em novembro e cujo óleo ficava pronto em dezembro.
Apesar da história e de diferentes olhares sobre as celebrações em dezembro, o Cristianismo celebra, em 25 de dezembro, o nascimento de Jesus Cristo, filho de Deus, que foi enviado a terra para fazer seu sacrifício e lavar os pecadores com seu sangue de cordeiro.
O nascimento de Jesus está envolto em uma série de acontecimentos próprios da época: com a notícia do nascimento do filho de Deus, o rei Herodes, da Judeia, havia ordenado a execução de todos os meninos recém-nascidos na cidade de Belém, de modo a garantir sua permanência no trono.
Diante dessa ordem, que entrou para a história como o “Massacre dos Inocentes”, José e Maria saíram da cidade em busca de um lugar para receber a criança, que estava para nascer. Não tendo encontrado uma hospedaria, a mitologia hebraico-cristã nos conta que Jesus Cristo, o Rei dos Reis, nasceu em uma manjedoura.
Entretanto, os três reis magos, que estavam esperando pelo nascimento do menino-Deus, saíram em viagem para que pudessem presenteá-lo com mirra (para purifica-Lo e guardar sua saúde), incenso (para manter o bebê protegido, simbolizando a fé e a oração) e ouro (que representa a realeza que somente o filho de Deus tem). Mas, se os reis magos estavam em viagem, e José e Maria saíram de Belém para proteger o filho do Altíssimo, como esse encontro poderia acontecer?
O evangelho de Mateus nos relata que os Reis Magos, conhecedores da ciência Astronomia, seguiram a estrela que despontou no céu para lhes guiar. A estrela guia, também conhecida por “Estrela de Belém”, de brilho sem igual, cujo simbolismo trata do fato de Jesus Cristo ser a luz do mundo, é um fenômeno astronômico raríssimo, que acontece com séculos de distância. E, neste ano, como se Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, quisesse nos presentear com a luz que será capaz de iluminar nossos dias, que virão com muita luta pela vida nessa injusta batalha contra a Covid-19, a Estrela de Belém despontará no céu no dia 21 de dezembro.
De acordo com estudiosos, a última vez em que a Estrela de Belém apareceu no céu, foi em 1623, e não esteve tão perto de nós como estará agora. Esse fenômeno, explicam os especialistas, trata-se do alinhamento dos dois maiores planetas do sistema solar, Júpiter e Saturno, o que resulta em dois pontos intensos de luz.
A Nasa, agência espacial americana, deu uma dica muito importante para quem quiser contemplar a Estrela de Belém: uma hora após o pôr do sol, olhe para o céu do sudoeste. Júpiter se parecerá com uma estrela brilhante e será facilmente visível. Saturno será ligeiramente mais fraco e aparecerá um pouco acima e à esquerda de Júpiter, no dia 21 de dezembro, quando Júpiter o alcançará e eles inverterão suas posições no céu.
Então, não se esqueça: viva a magia da fé. No dia 21 de dezembro, ao por do sol, encontre um lugar em que possa contemplar o enorme brilho de luz que Deus nos enviou para iluminar nossos corações após tantas atribulações vividas em 2020, e encher nossos olhos de luz para caminhar nas estradas que 2021 nos abrirá.
Texto: João Paulo Vani / Presidente da Academia Brasileira de Escritores. Mestre e Doutor em Teoria Literária.
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20/12/2020
20/12/2020 23:48