Festas de reis renovam a fé do povo simples do interior paulista

Tradicional celebração dos Santos Reis foi realizada em diferentes cidades da região no último final de semana


Na fragilidade de seus quase 100 anos, Geraldo Nogueira caminha vagarosamente com seu bandolim durante toda a encenação da Folia de Santos Reis numa comunidade pobre da cidade de Mirassol, em mais uma celebração daquilo que lhe é tão vital quanto o sangue que corre por seu corpo franzino. Resistente a qualquer conselho para se sentar, ele segue firme fortalecido pela fé e pela tradição que faz parte de sua família há nove décadas, por meio da Companhia de Reis Divina Luz.

Seu Geraldo é um dos ancestrais do noroeste paulista de uma das festas folclóricas mais emblemáticas do Brasil, celebrada no último final de semana em diversas cidades da região.

Em Mirassol, a celebração se deu na sexta-feira (6), Dia dos Santos Reis, em uma pequena capela do bairro Aparecida. A capela existe desde o ano 2000, mas a tradição já é antiga no local. E ela será mantida pelo neto de Seu Geraldo, Claudemir dos Reis Nogueira, que integra na companhia de reis.


Religiosidade popular
A Folia de reis, também conhecida como Reisado, é celebrada na religião católica para celebrar a visita dos três Reis Magos (Gaspar, Melchior – ou Belchior- e Baltazar) ao menino Jesus. A celebração dura 12 dias e vai desde 24 de dezembro (véspera do nascimento de Jesus) até o dia 6 de janeiro, data na qual os Reis Magos chegam a Belém.

No momento em que os Reis Magos avistaram no céu a Estrela de Belém, eles foram ao encontro de Jesus e levaram incenso, ouro e mirra para presenteá-lo. Por meio da música, da oralidade, da dança e arte do brincante, a Folia de reis revisita esse momento bíblico como forma de agradecer aos Santos Reis por graças alcançadas e pedir proteção para um novo ano que se inicia.

Palhaço da Companhia de Reis Estrela de Ouro, de Nova Granada

O palhaço brincante
Figura central da Folia de reis, os palhaços personificam a figura dos Reis Magos, como explica o padre Fábio Dungue, da Paróquia Jesus Bom Pastor e São Sebastião, de São José do Rio Preto. “Os Reis Magos enganaram Herodes, que desejava conhecer o Menino Jesus após o nascimento. Por isso, a figura do palhaço, com suas brincadeiras e artimanhas, relembra esse gesto dos Reis Magos para proteger o Menino Jesus”, conta.

No último domingo (8), o padre celebrou a missa que marcou o tradicional encontro de companhia de reis realizado no bairro Eldorado, na Capela de Nossa Senhora da Penha e Santos Reis. O encontro reuniu mais de 15 companhias de Rio Preto e de cidades da região. “É preciso manter essa tradição viva, uma tradição genuína da religiosidade popular, materializada pela fé do povo simples”, destaca Dungue.


Fotos: Ricardo Boni

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