ARTE
Intuição e espiritualidade colorem a vida do artista Guto Silva
A arte está intrinsecamente ligada à vida do tatuador Guto Silva. Natural de Assis, interior de São Paulo, ainda garoto Guto simplesmente desenhava mais do que os garotos daquela época. Entre um traço e outro, entre uma cor e outra, ele começou a vender seus desenhos para os amigos e foi lá, dentro da sala de aula, onde esta relação entre arte e artista, mesmo que muito intuitivamente, começou.
O começo
Um pouco mais tarde, aos 15 anos, uma de suas professoras o chamou para conversar. Ele estava prestes a repetir de ano e para que isso não acontece ela o propôs fazer um desenho com a temática preconceito.
O resultado do desenho foi positivo, impactante e encantou tanto Brígida, a professora, que Guto passou de ano e ainda ganhou o respeito de uma grande admiradora com quem mantém contato até hoje. Ela, acreditando no potencial daquele garoto, comprou telas e tintas, abrindo o caminho de Guto para a arte.
A música
Foi nas ruas de Assis e ente as manobras de skate que Guto curtiu sua adolescência, ouvindo Planet Hemp, Racionais e Rage Against the Machine. O contato com a música ficou mais forte quando, aos 12 anos, Guto, seu irmão Gustavo e uns amigos resolveram montar uma banda de punk rock – a Feto.
Na época a diversão era só fazer um som, mas a banda foi ficando profissional e eles participaram de festivais e até gravaram um CD independente. Do punk rock, eles foram para uma pegada mais Hard Core e New Metal. Foi nesta época que Guto entrou no seu primeiro estúdio de tatuagem – o Estúdio do Didi – que era patrocinador da banda na época, porém a primeira tatuagem só foi feita aos 17 anos.
A escolha foi um olho com um pentagrama – cheia de significados. Para Guto, o olho representa o despertar pela arte. E assim foi aumentando o despertar.
A arte urbana
Com 18 anos, Guto fez suas malas e foi para Bauru para estudar Artes Visuais, na Unesp. Foi neste contexto que aconteceu o encontro de Guto com o Grafitti, entre uma aula e outra ele destilava sua arte pelos muros da cidade sempre de olho nos trabalhos de grafiteiros daquela época como Nerso, Zezão, Luis Augusto Martins, Espeto, Boleta, Da Lata, entre outros caras que deixaram suas marcas na cena do Grafitti. Com a assinatura GTO, Guto aprendeu muito nas ruas e se entregou para a arte urbana.
Foi neste momento que ele conheceu sua parceira, Sarah, incentivadora da arte e apaixonada pelos traços e personalidade de Guto.
Os encontros
Em 2009, Guto resolveu fazer as malas de novo e se mudou junto com sua companheira, para São José do Rio Preto, onde continuou expressando sua paixão pela arte urbana por meio do Grafitti em espaços públicos da cidade.
Entre um traço e outro, Guto deu aulas em escolas e projetos sociais, mas sentia intimamente uma ânsia enorme de viver exclusivamente da arte. Foi então que apostou em colocar sua arte em estampas, investindo na abertura de duas marcas de roupas – Kosmic e Estilo Livre.
Foi então que durante um ritual xamânico, Guto teve um grande encontro espiritual ao questionar o que ele deveria fazer de sua vida, onde uma voz suave feminina disse: “Siga sua intuição. Se o que você quiser estiver alinhado ao seu propósito, nada lhe faltará”, junto veio em sua mente três desenhos que foram colocados em telas e vendidos imediatamente. Havia muito tempo que Guto não desenhava em tela, em papel, há anos sua arte estava sendo expressa apenas nos muros.
Foram seis meses desenhando e vendendo sua arte para amigos e amigos dos amigos. Logo depois deste encontro espiritual, foi convidado para trabalhar com um amigo, passando até então pelo melhor momento profissional de sua vida, porém as horas de escritório estavam o distanciando da arte, do seu propósito.
Nesta época, Guto descobriu que seria pai e em uma conversa com Sarah, passando por uma crise de direcionamento na vida, decidiu que pediria demissão para seguir seu verdadeiro caminho – viver intensamente para a arte.
A entrega
Em momento libertador, Guto comprou um bom kit de tatuagem e ligou para um amigo tatuador Del Portes – que na época estava passando uma temporada em Chapadão do Sul. Del ficou empolgado com a decisão de Guto de se dedicar à tatuagem e logo voltou para São José do Rio Preto para inaugurarem o Atman Tattoo Studio Art, em fevereiro de 2015, quando ele fez uma homenagem àquela voz que o incentivou a seguir seu caminho – a exposição de telas “Doce Voz”.
Para aprender a colocar sua arte na pele, Guto tatuou sua perna, passou dois meses em um estúdio no litoral e agarrou com unhas, dentes, coração e espírito este novo momento de sua vida, passava até 12 horas desenhando, estudando e acreditando na sua arte.
O ritual
De lá pra cá, Guto criou um estilo autentico de tatuar, admirado pelos seus clientes, amigos e outros tatuadores. Suas criações são na linha do BlackWork nos estilos de geometria sagrada, pontilhismo, trabalhos com linhas, ornamentais, tribais e orgânicos.
Seu trabalho vai além do visual. Por todo o processo, considerado por ele, um verdadeiro Rito, é possível identificar influências das culturas de origem primitivas, fonte de seus estudos e praticas de autoconhecimento.
Este ritual possibilita uma vivencia única àqueles que estão dispostos a olhar para a tatuagem além do simples adorno. “o processo da tatuagem tem vários níveis, meu trabalho é extrair o conteúdo contido em cada pessoa, muitas vezes inconsciente, e trazer para a consciência. Através disso, chegar à forma e representação ideal para cada indivíduo. Como se estampasse a alma na pele” afirma Guto.
Para Guto, a música, a conversa e o ambiente interferem diretamente para o cumprimento do ritual de se tatuar. Um dos diferenciais do artista é explicar para seus clientes a importância da dor neste processo. “A dor é ancestral e tem parte fundamental neste ritual, é o climax. Tudo depende da forma de se encarar a dor. É preciso se entregar para passar por este rito”, conta.
A decoração da sala de tatuagem também é um convite ao divino. Entre uma peça e outra de decoração, é possível ver imagens de divindades femininas e a união dos quatro elementos – água, terra, fogo e ar – uma referência à natureza, à espiritualidade e à intuição. Atualmente, dentro do seu verdadeiro caminho, Guto expressa sua gratidão e felicidade em sua arte e vê pelos olhos de sua filha Eloah, Deus e Amor todos os dias.
Mais informações sobre o trabalho do Guto Silva.
Texto: Fernanda Peixe/Notícias do Bem
Fotos: Ricardo Boni/Notícias do Bem
06/07/2017
06/07/2017 17:27