FAZENDO A DIFERENÇA
Jovem transforma a vida de crianças e adolescentes de sua comunidade por meio do RAP
“Cresci no meio da bandidagem. Vi muitos amigos meus serem presos e isso foi me deixando uma revolta. Eu podia muito bem mostrar essa revolta de várias formas – com uma arma, batendo ou fazendo arruaça -, mas eu preferi fazer rap”. Com essas palavras, simples e verdadeiras, o jovem Vitor Hugo dos Santos (20 anos), conhecido em sua comunidade como MC Pelotorious do grupo de rap PoetkGang, conta como a música mudou o rumo da sua história.
Vitor, que nasceu e cresceu no bairro Jardim Nunes, zona Norte, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, uma das regiões mais carentes da cidade, tem um talento indiscutível, o dom da palavra. É emocionante ouvir suas histórias e rimas, mas muito mais do que isso, ele cativa a todos pela garra, vontade e atitude de fazer a diferença.
Quem o vê passar, de bermudão, camisa larga, tênis no pé e boné, não imagina que mesmo tão jovem, ele já é uma grande inspiração dentro de sua comunidade e, principalmente às crianças e adolescentes, que todas as semanas, aprendem com ele a arte do rap no Projeto sociocultural Aquário – Pescando Vidas, no bairro Vila Toninho. O projeto atende cerca de 200 pessoas, oferecendo gratuitamente atividades como aulas de arte, dança e esporte e potencializando oportunidades e talentos.
Com humildade, Vitor, que terminou o ensino médio, revela que sua graduação para se tornar um professor voluntário no projeto foi a escola da vida. Em suas aulas, que acontecem todas as quintas-feiras, à noite, os participantes discutem temas como drogas, amor, respeito, visão de comunidade, cumplicidade, perdão, família, assuntos que viram rimas e se transformam em arte, na forma de histórias cantadas. “O rap traduz o dia a dia, é um desabafo de tudo que está dentro de nós”, explica o professor.
A PORTA DE SAÍDA
Durante a 4ª edição do projeto Jardim Cultural, que aconteceu no último dia 25 , a equipe do Notícias do Bem teve a honra de conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido por esse jovem e seus colegas no projeto Aquário. Nesse dia, encontramos Tamires do Carmo dos Santos, de 16 anos, uma das alunas do Vitor que nos conta como o rap ajudou em seu desenvolvimento. “Sempre fui muito ligada na minha, muito ligada no meu mundo. No começo das aulas, eu era a que menos falava na turma. Com o tempo, eu aprendi a me expressar, sem mentir, nem ter medo”, diz Tamires.
Como um genuíno professor, Vitor se orgulha de seus alunos e cada vez mais tem a certeza do poder transformador da arte que escolheu para se expressar. “Muitas pessoas pensam que o rap é estilo de malandro e maloqueiro e às vezes até nos julgam pela roupa e jeito de falar. Diferente disso, o rap é simplicidade, é a nossa realidade. O rap é uma porta de saída para a tristeza, ele é uma porta de saída para o mal e tudo aquilo que te aflige, é uma maneira de você tirar as suas angústias de dentro de você. O rap me tirou de muita coisa que eu poderia ter feito na vida, me salvou de uma forma que eu sou muito grato, por isso eu escrevo, por isso eu canto”, nos ensina MC Pelotorious.
Para conhecer esse lindo projeto do qual Vitor e seus alunos fazem parte, acesse a fanpage do Projeto Aquário e saiba como você pode ajudar nessa ação e fazer parte dessa transformação.
A RAIZ DA RIMA
A origem do rap traduz bem o que representa até hoje esse estilo musical. O rap começou, na década de 1960, na Jamaica, quando surgiram os sistemas de som, que eram instalados nas ruas dos guetos jamaicanos para animar bailes. Nesses bailes, os mestres de cerimônias, ou MCs, faziam discursos cantados onde comentavam assuntos como a violência das favelas de Kingston (capital da Jamaica), a situação política, sexo e drogas. No início de 1970, devido à crise econômica e social, muitos jamaicanos emigraram para os Estados e introduziram, principalmente, na periferia de Nova York, a tradição dos sistemas de som e do canto falado. O rap, que faz parte de um dos pilares do movimento hip hop, foi ganhando força e se expandindo para o mundo.
No Brasil, o ritmo chegou por volta de 1980, tendo grande destaque por todo o país, na década de 1990, com o grupo paulistano Racionais MC’s, que lançaram músicas que ser tornaram verdadeiros clássicos do estilo como Fim de Semana no Parque, Homem na Estrada, “Diário de um detento”, que abordavam temas como a vida na periferia de São Paulo e o dia a dia nos presídios. Entre os artistas brasileiros de rap temos nomes como Gabriel Pensador, Marcelo D2 (Planet Hemp), MV Bill e Emicida que se destacam no cenário e abriram portas para talentos da nova geração como Rashid,Projota, Kamau, Criolo, entre tantos outros.
Reportagem: Thais Alves / Notícias do Bem
Fotos: Ricardo Boni / Notícias do Bem
12/10/2016 22:12