O tempo, realidade ou ilusão?

O tempo

Realidade ou ilusão?

Para Drummond, o sujeito que teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, “industrializou a esperança”. De acordo com o poeta de Itabira, “doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos”. Já Quintana é mais radical: “Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos!”.

OSeja como for, ambos os poetas estão certos. Tão certos quanto Dalí ao representar relógios derretendo (ou seria apodrecendo?) no quadro “A persistência das horas”. Tudo talvez não passe de uma miragem, uma metáfora a nos confundir sobre a realidade das coisas.

E o tempo, quem sabe, seja apenas uma ilusão, um delírio. E aquilo que os artistas sábios revelam em palavras e cores, nós pobres mortais sentimos como ninguém. Este correr das horas, em um tempo cada vez mais intangível. Num plano em que as peças se movem com agilidade quase sobrenatural.

No mundo midiático, regido pelo instantâneo, o tempo que corre não é o tempo do relógio. É o tempo do clique. É o tempo que leva para a nossa digital imprimir uma nova letra na tela virtual, uma carinha triste ou sorridente, curtir ou manifestar alguma expressão de aprovação ou reprovação. Sim, a vida não é mais aquela regida pelo tic-tac do relógio do vovô. Tic-tac nada diz na era da tecnologia à plena velocidade, em que os dados, imagens e sons cavalgam em nuvens high-tech recheadas de bites e bytes.  

Tudo é o agora. E tudo se resume nesse agora. Para a professora de filosofia Ana Regina Filgueira Dinardi, o tempo atual é exatamente regido por essa força invisível e onipresente. E isso, sem dúvida, induz a todos a querer se mover com a mesma velocidade com que as coisas acontecem no plano virtual.

“Claro que é uma grande ilusão. Pois racionalmente, se formos analisar, não há como seguirmos no mesmo compasso em que as coisas acontecem nesse mundo virtual. Mas todos creem que pode. Então tudo vira uma grande urgência, e no fim ninguém tem mais tempo pra nada. O jantar ou almoço é entrecortado por olhares no monitor do celular, a atenção ao próximo é compartilhada com o foco no teclado a responder algo que pensamos ser urgente. Tudo, uma grande ilusão”, avalia a professora.

Para ela, o modo de vida atual vende a ilusão da instantaneidade, reforçada pela publicidade igualmente veloz e persistente. “O tempo de hoje tem uma demarcação completamente diferente. Não é mais pela folhinha do calendário, mas pelos eventos e festas. É propaganda de carnaval, de grandes shows e acontecimentos transmitidos pela mídia e bombardeados nas redes sociais. Quando mal nos damos conta, já é Natal e mais um ano se foi. É, sem dúvida, a era do instantâneo.”

O bancário Reginaldo Aparecido Bezerra tem exatamente essa sensação, de que o tempo é escasso e as 24 horas, insuficientes. “Simplesmente não consigo fazer tudo que preciso dentro do mesmo dia. É uma coisa de maluco. E aí fico vendo as propagandas e começo a ficar angustiado, porque anunciam datas que parecem tão longe, mas que logo estão aí. E a gente fica até perdido”, diz.

IdelmaPara a jornalista e empreendedora social Idelma Luiz dos Santos, o tempo que conta é o tempo vivido com a família e os amigos. “O melhor é não se prender tanto ao universo tecnológico e dedicar momentos que são únicos na nossa vida. É muito importante saber conciliar isso, ou então a gente acaba perdendo o real valor das coisas”, afirma. O bom humor, de acordo ela, é aliado importante para administrar o tempo que voa.

A boa notícia, conforme a professora Ana Regina, é que sempre é possível encontrar um tempinho no meio do tempo corrido. “É preciso disciplina, como um exercício, uma caminhada. A tecnologia não é a vilã da nossa vida, ela apenas não pode ditar a nossa vida. Precisamos dar um tempo pra nós, seja caminhando sem pressa por meia hora em uma praça, seja se reunindo em torno de uma mesa com amigos ou parentes sem celular ligado. Coisas simples, mas que nos fazem muito bem”, explica.

Como nos ensina o próprio Drummond, o tempo não passa no abismo do coração. “Lá dentro, perdura a graça do amor, florindo em canção. Não há tempo consumido nem tempo a economizar. O tempo é todo vestido de amor e tempo de amar”. Que assim seja em 2018, 19, 20…! 

Texto: Redação / Notícias do Bem
Fotos: Ricardo Boni / Notícias do Bem

15/12/2017

15/12/2017 13:32

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