O Sesc Rio Preto recebe a exposição Assojaba Tupinambá Umbeumbesàwa: o manto tupinambá conta e canta a história, que traz um manto tupinambá, criado por Glicéria Tupinambá, liderança da comunidade Serra do Padeiro, na Bahia, e uma das curadoras do projeto, ao lado de Augustin de Tugny, Benjamin Seroussi, Juliana Caffé e Juliana Gontijo.
Gratuita, a exposição apresenta ao público uma coletânea de trabalhos em vários formatos e técnicas dos artistas Edimilson de Almeida Pereira, Fernanda Liberti, Gustavo Caboco, Jardim Miriam Arte Clube (JAMAC), Lívia Melzi, Mariana Lacerda, Nathalie Pavelic, Patrícia Cornils, Povo Tupinambá da Serra do Padeiro, Rogério Sganzerla, Sophia Pinheiro, e de obras da própria artista curadora.
Nas histórias e tradições dos Tupinambás, os Encantados são entidades espirituais que transitam entre os mundos visível e invisível, sendo guardiões da memória ancestral e da conexão com a natureza. Eles são evocados em cantos, rituais e histórias transmitidas oralmente, orientando o povo tupinambá pelos caminhos da vida e da resistência. Assim, o manto tupinambá, com suas penas e tramas, carrega em si a presença desses Encantados: mais do que uma vestimenta, para esses povos, ele é um elo espiritual que os conectam aos seus antepassados e à força da natureza.
Glicéria, resgatando um saber que quase se perdeu com a colonização, confecciona um novo manto com técnicas ancestrais, resgatando um saber que perdura entre os anciãos da comunidade. Por séculos, os mantos tupinambás estiveram distantes de seus verdadeiros donos, espalhados por acervos estrangeiros. O intuito da exposição é renovar essa conexão e celebrar a potência desses espíritos e seu retorno ao imaginário coletivo, reafirmando a importância da preservação cultural e da identidade tupinambá.
Essas criações são trabalhos feitos no coletivo, pois contam com a contribuição de outras aldeias indígenas, seus saberes ancestrais, suas relações com a natureza e com o mundo espiritual. Para os Tupinambás, os sonhos também desempenham um papel fundamental, pois é por meio deles que os Encantados se comunicam com seus povos, orientando e fortalecendo sua cultura e tradições. Cada manto possui aproximadamente 4 mil penas que caem naturalmente, sem sofrimento animal e com uma mescla variada de plumagens de pucaçu, periquito, arara vermelha, arara azul, arara amarela e penas de peru, de galinha e de pavão, todas recolhidas no território da aldeia Serra do Padeiro (BA) ou adquiridas através de parcerias com comunidades indígenas locais e de outras regiões do país.
Observar os pássaros e ir em busca das suas penas se transforma numa rotina das aldeias, como esses materiais não estão à venda e não são objeto de comércio, tudo provém de uma relação harmônica e respeitosa com comunidades de seres humanos e não humanos. A montagem da exposição para além das capitais, se torna uma forma de democratizar o acesso à arte e ao conhecimento histórico, permitindo que mais pessoas se conectem com a riqueza da cultura tupinambá.
“Ao trazer a exposição para um novo território, ela cria um espaço de reflexão sobre a história dos povos originários, suas contribuições e sua resistência ao longo do tempo. A presença do manto tupinambá, por exemplo, desperta o interesse sobre sua simbologia e importância, gerando questionamentos sobre o apagamento histórico das culturas indígenas no Brasil e sua revitalização. Além disso, a exposição pode promover atividades educativas, como rodas de conversa, palestras com lideranças indígenas, oficinas e visitas mediadas, tornando o aprendizado mais acessível e envolvente. Esse tipo de ação também estimula a desconstrução de estereótipos e incentiva o reconhecimento da diversidade cultural indígena, mostrando que essas culturas são vivas e contemporâneas”, afirma Glicéria, que também esteve à frente da repatriação do Manto Tupinambá guardado por séculos no Museu Nacional da Dinamarca, e que hoje se encontra o Museu Nacional do Rio de Janeiro.
O significado do manto
Os mantos tupinambás eram símbolos de poder e espiritualidade, usados por caciques, pajés e figuras de liderança. Feitos com penas de pássaros, especialmente do guará – de cor vermelho vibrante –, eram peças sagradas, carregadas de significado. A confecção do manto exigia técnicas e conhecimentos tradicionais, passados de geração em geração.
Para o povo tupinambá, cada manto era único e representava uma conexão profunda com os espíritos, a natureza e os ancestrais. Quando os europeus chegaram, esses mantos foram levados e espalhados por museus na Europa. Mais do que um objeto, o manto retorna como símbolo vivo da luta dos povos indígenas pelo reconhecimento de sua cultura e território. A chegada da exposição ao Sesc Rio Preto reforça a importância de olhar para a história com outros olhos – não apenas como um passado distante, mas como uma memória viva, que pulsa no presente.
Serviço
Assojaba Tupinambá Umbeumbesàwa: o manto tupinambá conta e canta a história
Até 26/10 (terças a sextas, das 13h às 21h30, sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30)
Sesc Rio Preto (Av. Francisco das Chagas Oliveira, 1331)
Grátis
Foto: Method_ad/Divulgação
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Sesc Rio Preto recebe exposição com manto tupinambá
Exposição reúne obras que exploram ancestralidade indígena, identidade, arte e resgate cultural