{"id":13093,"date":"2021-02-16T00:00:00","date_gmt":"2021-02-16T03:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticiasdobem.com.br\/arte-territorio-das-lembrancas\/"},"modified":"2021-02-16T00:00:00","modified_gmt":"2021-02-16T03:00:00","slug":"arte-territorio-das-lembrancas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/noticiasdobem.com.br\/noticias-do-bem\/arte-territorio-das-lembrancas\/","title":{"rendered":"Arte, territ\u00f3rio das lembran\u00e7as"},"content":{"rendered":"
No Bem Pensando, desta semana, o ator e diretor na Cia. C\u00eanica<\/a> Fagner Rodrigues descreve a participa\u00e7\u00e3o do projeto Territ\u00f3rio C\u00eanico<\/a>\u00a0em S\u00e3o Jos\u00e9 do Rio Preto. Na a\u00e7\u00e3o, ao longo de seis meses,\u00a0de 16 de maio a 16 de novembro, foram oferecidas oficinas de artesanato, Canto Popular e Teoria Musical, Cultura Digital, Dan\u00e7a Expressiva, Gastronomia, Inicia\u00e7\u00e3o ao Teatro, Percuss\u00e3o, Treinamento para um Corpo C\u00eanico e Viol\u00e3o, com a finalidade de fomentar a arte e todas as suas vertente, uma experi\u00eancia de arte e educa\u00e7\u00e3o que Fagner relata com exclusividade para o #not\u00edciasdobem.<\/p>\n <\/p>\n Como traduzir meu sentimento com a realiza\u00e7\u00e3o do projeto Territ\u00f3rio C\u00eanico, que em seis meses de atividades ofereceu gratuitamente nove oficinas de arte \u00e0 comunidade de Rio Preto? Pensei em um turbilh\u00e3o de possibilidades e caminhos para tentar resumir essa primeira edi\u00e7\u00e3o do projeto da Cia. C\u00eanica. Cabe\u00e7a em movimento, palavras soltas e o medo de cair no discurso de sempre. At\u00e9 que percebi que estava ali na lembran\u00e7a e \u00e9 ali que vai ficar, n\u00e3o s\u00f3 para mim, mas para todos os participantes. Provavelmente poucos alunos das oficinas do projeto v\u00e3o seguir a carreira art\u00edstica, mas isso \u00e9 o que menos importa. O que fica \u00e9 o fazer, o aprendizado e a troca di\u00e1ria. O caminho percorrido \u00e9 muito mais importante do que o ponto de chegada.<\/p>\n Um projeto com foco na arte n\u00e3o pode ter o produto art\u00edstico como elemento fundamental, ele \u00e9 consequ\u00eancia. Olhando para o projeto, vejo suas m\u00faltiplas faces: homens, mulheres, adultos, jovens, crian\u00e7as, idosos, brancos, negros, gordos, magros \u2013 aqui somos iguais, humanos e s\u00f3. Nas aulas, alunos e professores sem hierarquias, todos com as mesmas obriga\u00e7\u00f5es e responsabilidades, caminhando juntos, ensinando e aprendendo simultaneamente com pluralidades de pensamentos. <\/p>\n E se isso se multiplicasse? Ut\u00f3pico? Sim, em um Pa\u00eds onde 1,3 milh\u00e3o de jovens de 15 a 17 anos abandonam a escola. Mais de 50 milh\u00f5es de alunos matriculados na educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica do Pa\u00eds deveriam ter voltado a estudar no in\u00edcio deste ano. Por\u00e9m, um a cada quatro alunos que iniciam o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a \u00faltima s\u00e9rie. Penso que a arte seria combust\u00edvel para combater a evas\u00e3o escolar. Se nossas crian\u00e7as e adolescentes tivessem o contato adequado com a linguagem art\u00edstica durante esse importante per\u00edodo de nossa vida, certamente cresceriam com um pensamento para al\u00e9m das disciplinas regulares. <\/p>\n Perguntaram-me: quer arte na educa\u00e7\u00e3o para que todos sejam artistas? N\u00e3o, eu quero para que todos sejam arteiros, donos de seu pr\u00f3prio pensamento critico. O pedreiro que j\u00e1 estudou canto, o advogado que j\u00e1 dan\u00e7ou, a jornalista que j\u00e1 pintou, a gar\u00e7onete que j\u00e1 leu Nelson Rodrigues, a m\u00e9dica que toca viol\u00e3o \u2013 a profiss\u00e3o futura n\u00e3o importa, nunca ser\u00e1 tarde para se fazer o que se tem vontade. Eu poderia ser jogador de futebol, mas sou ator, como poderia ser assaltante, traficante, ladr\u00e3o, pol\u00edtico corrupto, e n\u00e3o sou, e tenho certeza que n\u00e3o segui esse caminho devido \u00e0 arte que entrou na minha vida ainda na escola.<\/p>\n Em tempos de projetos assustadores, de escolas sem partido e reformas no ensino com cortes de or\u00e7amentos que j\u00e1 s\u00e3o m\u00ednimos, falar de arte e educa\u00e7\u00e3o parece coisa de outro mundo. N\u00e3o \u00e9. N\u00e3o pode ser.\u00a0 <\/p>\n A arte \u00e9 um fazer, \u00e9 um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a mat\u00e9ria oferecida pela natureza e pela cultura. Nesse sentido, qualquer atividade humana, desde que conduzida a um fim, pode chamar-se art\u00edstica.<\/p>\n A arte \u00e9 produ\u00e7\u00e3o, logo, sup\u00f5e trabalho. Movimento que arranca o ser do n\u00e3o ser, a forma do amorfo, o ato da pot\u00eancia, o cosmo do caos.<\/p>\n \u00c9 dif\u00edcil a tarefa de encontrar uma defini\u00e7\u00e3o geral para a arte. Todas essas defini\u00e7\u00f5es de arte envolvendo beleza, verdade, forma, express\u00e3o s\u00e3o sempre hist\u00f3ricas, uma vez que est\u00e3o ligadas a um universo de valores culturais. Cada cultura acaba criando a sua concep\u00e7\u00e3o de arte.<\/p>\n Parece-nos imposs\u00edvel uma defini\u00e7\u00e3o geral e \u00fanica que d\u00ea conta da pr\u00f3pria universalidade da arte e de toda experi\u00eancia art\u00edstica em todos os tempos, porque a mesma exige uma contextualiza\u00e7\u00e3o no espa\u00e7o e no tempo. Mas deixemos de explica\u00e7\u00f5es sobre a arte e vamos ao que me inspira arte.<\/p>\n A cantoria do meu av\u00f4 com sua sanfona vermelha.<\/p>\n O circo que uma vez por ano armava sua lona no terreno da esquina.<\/p>\n A quermesse com o frango assado ganhado no bingo.<\/p>\n A goiabeira e a ansiedade de descobrir se o fruto era branco ou vermelho.<\/p>\n A festa do santo com fogueiras, rezas e as bandeiras coloridas.<\/p>\n A curva do rio e imaginando o que vinha depois dela.<\/p>\n O ch\u00e1 contra bronquite que a v\u00f3 do vizinho me deu escondido de minha m\u00e3e e eu nunca soube o que tinha dentro, s\u00f3 sei que sarou.<\/p>\n O primeiro beijo com a menina do quarto ano e eu ainda estava no terceiro.<\/p>\n O cheiro das velas e das flores no vel\u00f3rio da v\u00f3 Luzia, realizado na sala de casa.<\/p>\n A cachorra Paquita e a confus\u00e3o com a cabe\u00e7a da leitoa assada: eu jurava que era a cadela que tinha ido pro forno.<\/p>\n O papagaio que contava as nossas travessuras no quintal enorme de terra vermelha na casa da v\u00f3 Sanduca.<\/p>\n A pamonha com o milho que peg\u00e1vamos na beira da estrada.<\/p>\n O cheiro do caf\u00e9 torrado em casa e que eu era obrigado a moer manualmente.<\/p>\n A horta do quintal que todo dia alimentava a fam\u00edlia.<\/p>\n O tombo de bicicleta que me fez quebrar o bra\u00e7o.<\/p>\n A Carla, minha primeira paix\u00e3o, que se mudou pro s\u00edtio e eu nunca mais vi.<\/p>\n Minha tia que me prometia doces se n\u00e3o contasse que ela namorava um mo\u00e7o chamado Jesus na fonte da pra\u00e7a.<\/p>\n Esse \u00e9 o meu territ\u00f3rio, s\u00e3o essas lembran\u00e7as que comp\u00f5em a minha forma\u00e7\u00e3o e meu entendimento de vida, o meu tra\u00e7o cultural, minha raiz mais \u00edntima. A cultura n\u00e3o meramente como linguagem art\u00edstica, mas como espa\u00e7o de mem\u00f3ria e identidade.\u00a0 Ap\u00f3s essa edi\u00e7\u00e3o de oficinas do projeto Territ\u00f3rio C\u00eanico, percebi mais uma vez que o fica s\u00e3o os valores que futuramente se tornar\u00e3o lembran\u00e7as e que s\u00e3o a minha arte.<\/p>\n <\/p>\n Fagner Rodrigues \u2013 ator e diretor na Cia. C\u00eanica e coordenador do projeto Territ\u00f3rio C\u00eanico.<\/p>\n \t \t\t\t\t\t\t\t \t\t\t\t\t\t\t \t\t\t\t\t\t\t \t\t\t\t\t\t\t \t\t\t\t\t\t\t \t\t\t\t\t\t\t 09\/11\/2016<\/p>\n 09\/11\/2016 09:12<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Artigo descreve uma experi\u00eancia de arte e educa\u00e7\u00e3o em Rio Preto<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[49],"tags":[],"class_list":["post-13093","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-noticias-do-bem"],"yoast_head":"\nArte, territ\u00f3rio das lembran\u00e7as<\/b><\/h3>\n