Como cuidar da saúde mental em tempos de Quarentena?
A terapeuta emocional Cidinha D´Agostino conversa sobre a influência da mente nesse período
E quem pensou que o ano de 2020 seria assim? Com um vírus completamente novo e perigoso atrapalhando a vida de milhares de pessoas, fazendo a rotina de muitos mudarem. De repente ficar em casa se tornou a única escapatória para não se contaminar, a preocupação se tornou um sentimento costumeiro e os níveis de ansiedade e stress de toda a população aumentou.
A lista de afazeres duplicou. Agora temos que lidar com algo invisível, cuidar da nossa saúde e dos outros, entender (e explicar) que ficar em casa significa ter empatia e solidariedade com o próximo, não sair para as ruas sem máscara, e o principal, lidar com a solidão ou aprender a conviver com que você mora. É hora de colocar o cérebro para trabalhar ainda mais e cuidar da sua sanidade mental.
Batemos um papo com a terapeuta emocional Cidinha D´Agostino sobre o atual momento em que estamos vivendo. Cidinha fala um pouco sobre como cuidar da mente em tempos de isolamento, como se adaptar e ser produtivo em uma nova rotina e o que fazer para diminuir a ansiedade e o stress.
Como cuidar da saúde mental em tempos de Quarentena?
Cidinha: Estamos vivendo um período muito difícil e isso não tem como negar. Além da ameaça de morte também temos tantas outras ameaças com todas essas mudanças que aconteceram na nossa rotina. Nós brasileiros somos um povo muito ansioso e obviamente que essa situação aumenta muito os níveis de ansiedade. Então, imagino que o necessário para acomodar, para não ficar muito estressado é selecionar as informações. É necessário que a gente observe, e preste atenção nas informações falsas, procurando na internet fontes confiáveis para termos certeza do que estamos adquirindo como informação. Acredito que devemos diminuir a quantidade de horas que a gente fica olhando televisão e celular. Diminuir o tempo de ver notícias, claro que é importante se informar, mas sempre com um tempo estabelecido. A quantidade deixa a pessoa ansiosa, pois é uma notícia ansiógena, então temos que saber selecionar e quantificar essas informações.
O que fazer para continuar sendo produtivo e otimizar o tempo?
Cidinha: Para quem está trabalhando de casa o certo é estabelecer um horário para acordar e trabalhar. Otimizar a mente é colocar sempre uma roupa apropriada, como se a gente tivesse indo para o trabalho e não ficar com roupa de dormir. Saber ocupar o tempo, deixar a TV e o celular só para informações necessárias e conseguir conduzir os nossos pensamentos para aquilo que agente se propôs no agora. Uma nova rotina, um novo jeito de trabalhar.
Como evitar a ansiedade e os pensamentos negativos? E porque eles surgem?
Cidinha: Somos nós que direcionamos os pensamentos, fazemos aproximadamente 60 mil pensamentos por dia e a grande maioria desses pensamentos são feitos no automático, mas eles são induzidos pela nossa mente consciente, então se estamos sempre alimentando uma ideia negativa, obviamente a gente vai reproduzir esses pensamentos. Tem que trazer a ideia de que nós podemos fazer essa mudança e tirar esse medo e insegurança da mente, temos que entender que estamos vivenciando esse isolamento e que pode aflorar sentimentos de abandono e rejeição. Temos que aprender a mudar esses pensamentos e começar a ver junto com todas essas noticias ruins o que é o melhor para eu pensar/fazer dentro da situação, sempre buscando pensamentos calmos e tranquilos para acalmar a mente. Uma mente muito ansiosa não reflete direito, não pensa direito e não terá resultados positivos.
Como não perder o foco e educar a mente?
Cidinha: A globalização contribui muito para a pandemia mental, as pessoas hoje, pela facilidade da internet, sabem das notícias em tempo real e vão fazendo comparações e ficando cada vez mais aflitas. Mas o que temos que considerar é que a nossa mente sempre está focada em alguma coisa. Se eu estou focada no negativo, obviamente que eu estou criando ideias negativas, temos que aprender a criar uma possibilidade boa e positiva dentro desse caos. É importante vasculhar o que pode ser verdade, agradecer o que eu tenho de bom e sempre buscar aquilo que deseja, pois só vou conseguir o que quero, quando penso no que quero.
Quais dicas e hábitos para uma mente saudável?
Cidinha: Quantas vezes a gente reclamou que não tinha tempo para fazer as coisas que gostava? Agora é um momento propício pra gente avaliar todas essas situações, avaliar tudo aquilo que a gente queria ter feito e imaginou não ter tempo. Eu acredito que é tempo de despertar em nós dons que temos como: pintar, cozinhar, escrever, ler, fazer exercícios físicos, ouvir músicas, ver filmes antigos. Podemos fazer muitas coisas para estreitar a relação do seu eu espiritual para fazer com que você se senta acolhido e amado. Se depois de tudo a gente não conseguir, eu acho que uma boa opção é terapia online, um bom profissional sempre encaminha pra pensamentos construtivos e positivos.
Todo mundo quer ser feliz, afinal a felicidade existe? Conseguimos ser felizes em tempos de quarentena? Ou ela está ligada as relações interpessoais?
Cidinha: Nós estamos vivendo de fato uma realidade com tantas incertezas, estamos sendo ameaçados por um inimigo invisível e isso gera muito insegurança, da uma impressão que a gente perde o pseudo controle que a gente pensa que tem das coisas. Então isso gera uma ansiedade muito grande e faz com que a gente desestabilize essa ideia de felicidade. Mas a felicidade é algo muito mais concreto, por mais que ela não seja palpável ela é a mistura da alegria com a paz, um momento que temos que buscar dentre todas as notícias, um momento de verificar, observar aquilo que a gente tem de bom e equilibrar a nossa mente para trazer essa ideia de segurança. Obviamente que todos nós sairemos dessa pandemia perdendo alguma coisa, ninguém ficará isento, mas acredito também que todos nós podemos ganhar muito com isso, não deixa de ser um aprendizado, não deixa de ser algo que mostra a nossa fragilidade e que mostra que unidos somos muito mais do que imaginávamos. Então, acredito que a gente tem que aproveitar no bom sentido desses aprendizados, estávamos muito voltados para uma ideia egocêntrica e a situação fez com que entendêssemos que podemos mais juntos.
Como o consciente e o inconsciente podem nos ajudar ou nos prejudicar?
Cidinha: Nós temos a mente consciente que vem de consciência e a mente inconsciente que não tem consciência. Então, a consciente está ali para criar pensamentos e a inconsciente está ali para realizar a quantidade de pensamentos que esse consciente manda para ela. Eu sempre vou criar aquilo que estou pensando, falando, vendo, são imagens que eu mando para o meu inconsciente que não pensa. Se eu mando coisas negativas, se eu estou pensando, falando, me comportando, vendo coisas negativas, eu vou mandando essas imagens para o meu inconsciente, que sem pensar cria uma crença que via buscar e atrair para mim. Se penso positivo, eu crio uma realidade positiva e aquilo que eu penso negativo, eu crio uma realidade negativa. Então, a nossa mente inconsciente não sabe o que é certo e errado, o que é bom ou ruim, o que é verdade ou mentira, se queremos ou não. Ela está ali para realizar a quantidade de imagens que a gente manda pra essa mente inconsciente. Então vamos pensar no melhor e buscar o melhor para nossa vida, que o melhor virá.
Qual a importância das relações interpessoais? E quais as dificuldades encontradas com o distanciamento social?
Cidinha: Obvio que a relação presencial foi totalmente alterada, mas a gente tem um grande recurso que podemos utilizar que é a tecnologia para nos aproximar das pessoas e lidar com esssa ideia de isolamento. Eu acredito que para isso ser suprido, a gente tem essa facilidade do Whatsapp, do Instagram, do Facebook, chamada de vídeo. E toda essa comunicação pode e deve ser mantida, para manter o amor e calor sem o toque e sem a presença.
Qual a importância da meditação? É o único caminho para se autoconhecer?
Cidinha: É comprovado cientificamente que a meditação alinha os nossos pensamentos, é uma prática muito poderosa para acalmar a nossa mente. Quando é ensinado a meditar, eles ensinam a prestar atenção na respiração, então pensamos no “inspirou, expirou” para ficarmos apenas com esse pensamento na cabeça. Já ouvi pessoas falarem que meditar é pensar em nada, mas não tem como, a nossa mente não para de pensar. Na verdade, meditar é ter um pensamento e isso descansa a nossa mente. O contrário quando estamos com a mente ativa, pensa em uma coisa, pensa em outra, e nesse trânsito de pensamentos é que cansa a nossa mente. Então é muito importante meditar, pois com a recorrência dessa prática a nossa mente vai ficando mais clara, ficando mais produtiva.
Mas meditar não é o único caminho para se autoconhecer. Sem reflexão, sem buscar o que somos, para quê viemos, a gente não chega a lugar nenhum. Tem que se conhecer e valorizar as suas qualidades para projetar mais na nossa vida e entender que tudo de negativo tem que mudar, fazer um esforço para fazer ter essa mudança. Temos a possibilidade de mudar os pensamentos, então inconsequente mudamos os sentimentos e com a repetição de pensamentos, mudamos o nosso comportamento criando uma nova realidade na nossa vida. Toda crença na nossa mente é construída com repetição de imagem, então temos que conhecer e valorizar as nossas qualidades, tentando sempre melhorar aquilo que queremos, buscando evolução, da paz interior, resiliência e empatia. Pois nós não vivemos sozinhos e sim em comunidade e quanto mais nos organizamos internamente, mais fácil fica a convivência do lado externo.
05/06/2020
05/06/2020 11:43