Prevalência da circulação de variante mais contagiosa do vírus da Covid-19 na cidade está associada a aumento de casos graves e mortes entre março e abril deste ano. Vacinação protegeu idosos de uma maior mortalidade
Estudo realizado pelo Laboratório de Pesquisas em Virologia da Faculdade de Medicina de Rio Preto – Famerp e no Hospital de Base (HB) de Rio Preto, em parceria com Unesp, USP, Fundação Bill & Melinda Gates, Universidade de Washington, University of Texas Medical Branch e pela Secretaria Municipal de Saúde, apontou a introdução e o domínio da variante P1 (Gamma) no município. A vigilância genômica de SARS-CoV-2 em Rio Preto e região é realizada desde outubro de 2020.
A P1 apareceu em Manaus, no ano passado, e rapidamente se espalhou para todas as regiões do País. Atualmente, é considerada uma “Variant of Concern” (VOC) pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As análises para este estudo foram realizadas com dados epidemiológicos do município e com um total de 272 genomas completos de SARS-CoV-2 de Rio Preto e região. Esses genomas foram classificados em 12 linhagens, sendo as mais prevalentes as variantes B.1.1.28 (5,6%), N.9 (4,6%), P.2 (11%) e P.1 (72,4%). O estudo ainda analisou as taxas de transmissão do vírus e sua correlação com as taxas de isolamento social.
Os achados reportam a introdução e rápida disseminação e prevalência da P1 em Rio Preto a partir de fevereiro e sua substituição às oito variantes de SARS-CoV-2 que circulavam até o momento. “O domínio dessa variante está associado ao aumento de casos graves (127%) e mortes (162%) em março e abril de 2021, se comparado ao período anterior à introdução de P1, sendo ela presente em mais de 96% dos genomas sequenciados a partir de março desse ano”, disse o virologista Maurício Lacerda Nogueira, pesquisador da Famerp.
Esse aumento foi maior em grupos mais jovens, indicando que pessoas com idades entre 45 e 64 anos apresentam duas vezes maior risco de morte relacionado à infecção com a linhagem P1, provavelmente devido a menor cobertura vacinal nessa faixa etária no período do estudo.
O estudo apontou ainda um aumento de 109% de casos graves em indivíduos abaixo de 70 anos, enquanto nas pessoas acima de 70 anos (faixa etária já imunizada) houve aumento de apenas 19%.
Os dados reforçam os efeitos benéficos da vacinação e a necessidade de uma imunização rápida e massiva na população. Estudos de vigilância genômica e esforços de vacinação são essenciais para reduzir a disseminação e transmissão do SARS-CoV-2 e, portanto, o surgimento de novas variantes, além de oferecer proteção contra formas graves da doença.
Segundo Nogueira, “este estudo comprova a maior gravidade e o grande impacto que a variante P1 causou em Rio Preto, com reflexos significativos na mortalidade dos jovens. Demonstramos com dados epidemiológicos que o isolamento social está diretamente relacionado à taxa de transmissão (R), sendo muito claro o efeito benéfico do lockdown parcial de março, sem o qual o esgotamento do sistema hospitalar seria inevitável. Ainda fica evidente o excelente papel das vacinas usadas na época (majoritariamente Coronavac) na proteção de casos graves e óbitos. Em conjunto, os dados nos deixam mais otimistas com o aumento do numero de vacinados e a queda nas taxas de transmissão”.
O projeto foi financiado pela FAPESP, Rede Coronaomica (Finep-CNPq-Ministério da Ciência e Tecnologia), Instituto Butantan e pelos National Instiututes of Health (Estados Unidos).
O estudo completo está disponível em formato de preprint e pode ser lido na íntegra, em inglês, neste link.
Texto: Priscila Carvalho/Comunic/Divulgação
Fotos: Divulgação