VISIBILIDADE TRANS
Conheça a história de amor e transformação de Gabriel Trevisan
“Desde os meus 4 anos, eu já dizia que era um menino. Eu gostava de ficar na rua brincando de futebol, soltar pipa. O tempo foi passando e cada vez mais eu me sentia como um menino. Eu falava que eu queria ser chamado de Gabriel, mas minha mãe sempre dizia: Você é menina, tem que se vestir como menina, tem que brincar como menina – e eu por ser apenas uma criança tinha que obedecer.
Cresci e com 14 anos tomei a coragem de chegar para minha família e dizer a verdade. No começo foi difícil para eles. Mas, eles estiveram sempre do meu lado. Meu pai e minha mãe deram todo o apoio que eu precisava.
Aos 16 anos, descobri ser um homem trans. Foi muito difícil, entrei em depressão, não conseguia olhar no espelho, não gostava de tirar fotos. Quando as pessoas me tratavam no feminino, eu chorava, brigava e não aceitava.
Após dois meses, pedi ajuda para minha mãe… E ela me apoiou e então fomos atrás de informações e ajuda psicológica. A partir daí, comecei a entender o que estava acontecendo comigo. Com o passar do tempo, fui fazendo exames, acompanhamento médico e a cada dia que se passava era um sorriso diferente que se libertava de dentro de mim.
Hoje, com 18 anos sou um HOMEM realizado, independente e estudante de contabilidade. Por onde passo, eu sou reconhecido como Gabriel Trevisan e isso não tem preço!”.
Esse é um relato verdadeiro do estudante universitário de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, de Gabriel Trevisan, dado com exclusividade para o Notícias do Bem.
Gentilmente e com uma simpatia que não tem tamanho, Gabriel nos deu a honra de contar a sua história. Em um bate-papo informal com a nossa equipe, ele, acompanhado de sua mãe, Adriana – sempre muito carinhosa e protetora com o filho -, falou que não foi fácil o caminho percorrido até se reconhecer como um homem trans. Entre as suas maiores dificuldades estavam as dúvidas, como a de qualquer outro adolescente, o preconceito e a falta de informação sobre o universo trans – afinal, até há pouco tempo não se falava abertamente sobre o assunto nas mídias, não se via personagens trans em novelas, por exemplo, em algumas famílias e rodinhas de amigos o tema era e, muitas vezes, ainda é tabu. Nesse caso, a internet ajudou muito, pois foi lá que ele viu relatos e informações que fizeram com que ele se encontrasse.
Na conversa, Adriana muito emocionada nos disse que a família sofre junto, mas que o amor e o desejo incondicional de ver seu filho feliz são maiores do que qualquer coisa. “Ainda hoje, eu às vezes me pego chamando o Gabriel de ‘ela’ e eu falo que ele tem que entender que é um processo de muita mudança, que não é fácil para gente também, mas que sempre vamos apoiá-lo”, relata a mãe.
RESPEITO
A intolerância parte de algumas pessoas e, às vezes, até vinda de representantes de instituições, que deveriam levar informação e promover a conscientização sobre empatia e respeito – é o maior medo dos homens e mulheres trans e suas famílias. O Brasil tem um triste título de ser o país com mais casos de agressões e mortes de pessoas travestis e transexuais. Um quadro que precisa, urgentemente, ser mudado!
Muito longe de querer impor a sua verdade para quem quer seja, o que as pessoas trans querem é respeito. “Todo dia você escuta o que você não quer, passa por situações que você não gostaria de passar. Se você vai se relacionar com alguém, você passa por constrangimentos… A maioria fala que ser trans é uma escolha, mas se fosse isso, eu jamais escolheria sofrer. Temos que acabar com o preconceito. O preconceito não leva a lugar nenhum. A sociedade não precisa aceitar, mas respeitar, assim o mundo seria muito melhor”, ressalta ele.
Em sua luta, Gabriel tem conquistado, dia a dia, o reconhecimento como homem trans, mas há muitas barreiras que precisam ser vencidas. Em seu registro ainda está o nome que recebeu ao nascer, mas que ele espera que isso mude judicialmente.
A história de Gabriel é uma em meio a de tantas outras pessoas, que de repente não têm a mesma sorte que ele teve de encontrar esclarecimento e ter o apoio da família e amigos. São pessoas que muitas vezes sofrem caladas por não poderem se expressar e serem como são. Para essas pessoas ele deixa um recado. “Nunca desista de ser quem você é! Barreiras pequenas e grandes irão aparecer. Você terá que enfrentar elas sempre de cabeça erguida. Colha informações, orientações, o que você puder adquirir, para você vencer as dificuldades. Não se entregue completamente para a tristeza. Antes, eu me sentia um peso na minha vida, uma pessoa mascarada. Hoje, eu sinto uma liberdade de ser quem eu sou, quem eu sempre fui. Sou feliz! Sou eu!”.
Saiba mais por meio da sétima arte – indicações de filmes com temática Trans:
Tom Boy | Direção: Céline Sciamma
Transamérica | Direção: Duncan Tucker
XXY | Direção: Lucia Puenzo
Minha Vida em Cor de Rosa | Direção: Alain Berliner
DIA DA VISIBILIDADE TRANS
Neste domingo, 29 de janeiro, é o Dia da Visibilidade de Travestis e Transexuais. A data, que foi instituída pelo movimento LGBT em 2004, tem o objetivo de ressaltar a importância da visibilidade e o respeito aos transexuais e às travestis na sociedade brasileira.
Em alusão à data, neste mês, está acontecendo uma série de atividades em diversas regiões do país. Confira abaixo a programação de São José do Rio Preto. Caso você não seja da cidade, verifique em seu município, junto aos órgãos públicos e aos grupos de apoio LGBT, e participe!
26/01 (quinta-feira)
SarauTRANScedental
Local: Casa das Janelas- Rua Alfredo Braga, 286 – Vila Maceno.
A partir das 19h – A Casa das Janelas em parceria com o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Nacional realizará o SarauTRANScendental: Bate-papo com homens e mulheres trans + Declamação de poemas + PUTOperformance! – Entrada R$ 2,00
31/01(terça-feira)
Local: Rua do Rosário, 1903 – Vila Curti.
17h às 20h – Exibição dos vídeos e documentários LGBT, seguido de debates e orientações. Divulgação dos serviços oferecidos pelo CPSDH LGBT, rede Atenção Especializada para a População T, legislação e distribuição de brindes e materiais de prevenção.
Realização: GADA Rio Preto – Gratuito
O QUE É ORIENTAÇÃO SEXUAL? É uma expressão usada para determinar as preferências sexuais de cada pessoa, sobre qual gênero ela tem atração afetiva ou sexual, são elas:
Heterossexual – Pessoa que sente atração pelo gênero oposto.
Homossexual – Pessoa que sente atração pelo mesmo gênero.
Bissexual – Pessoa que tem atração sexual por mais de um gênero ou por dois gêneros.
Assexual – Pessoa que não sente atração por nenhum gênero.
Pansexual – Pessoa que tem atração por todos os gêneros.
Fonte: Comunicação GADA
O QUE É IDENTIDADE DE GÊNERO? Essa expressão é usada para determinar o gênero com o qual a pessoa se identifica, independentemente do gênero que lhe foi imposto antes de seu nascimento.
Cisgênero – Pessoa que se sente confortável física e psicologicamente com o sexo que nasceu
Transgênero – Pessoa que sente uma incongruência entre seu gênero biológico e sua identidade de gênero, mas que se considera homem ou mulher.
Neutro ou não-binário – Pessoa que se recusa a se denominar homem ou mulher, não se considerando pertencente a nenhum dos dois tipos de gênero impostos pela cultura e pela sociedade
Questionamento de gênero – Alguém que ainda tem dúvidas sobre seu próprio sexo
Bigênero – A pessoa que tem características tanto femininas como masculinas (intersexo e andrógino)
Fonte: Comunicação GADA
Reportagem: Thais Alves / Notícias do Bem
Fotos: Ricardo Boni / Notícias do Bem
26/01/2017
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