Uma das cantoras mais importantes do século 21 e nome referencial do movimento tropicalista, Gal Costa morreu nesta quarta-feira (9), aos 77 anos, depois de embalar gerações com sua voz única e marcante. Para quem ainda não conhece a fundo a discografia da cantora, o jornalista e DJ Set Harlen Felix selecionou dez discos que considera fundamentais em sua trajetória musical.
Último disco de inéditas da cantora, “A Pele do Futuro” trouxe Gal Costa dialogando com a nova geração da música, em particular a também saudosa Marília Mendonça, que compôs e divide os vocais em “Cuidando de Longe”. Um disco pautado pela soul e disco music que resgata a sensualidade que sempre fez parte da identidade dessa cantora única.
O repertório sempre esteve a favor nas escolhas de Gal Costa, que se reafirmou relevante na MPB da virada do milênio com esse disco que equilibra força e sutileza. Ao longo de quinze faixas ela passeia por nomes como Tim Maia (“Imunização Racional”), Caetano Veloso (“Aquele Frevo Axé”), José Miguel Wisnik (“Assum Branco”), Adriana Calcanhoto (“Esquadros”) e Luiz Gonzaga (“Qui Nem Giló”).
Composta por Jorge Ben e Arnaldo Antunes, “Cabelo” foi a marca registrada do vigésimo segundo disco de Gal Costa, que traz uma sonoridade baseada no reggae e ritmos latinos. “Plural” presenteou os brasileiros com “Cabelo”, uma canção que celebrava a diversidade do País de uma forma bastante emblemática.
7º) Mina D’Água do Meu Canto – 1995
Ok! Tem gente que até pode dizer que este não é um álbum tão relevante, mas para mim, é uma declaração de amor a duas pessoas importantes na carreira de Gal Costa: Caetano Veloso e Chico Buarque. Em seu vigésimo quinto álbum, a cantora mostrava que sua voz estava plena forma, entregando interpretações únicas para canções de Caetano e Chico que já habitavam o imaginário afetivo dos brasileiros.
Um marco na popularidade de Gal Costa na cena cultural brasileira, “Profana” vendeu 400 mil cópias em dois meses de lançamento. Com canções certeiras como “Vaca Profana” e “Chuva de Prata”, que teve participação especial do grupo Roupa Nova, a cantora se revelava integrada ao seu tempo, celebrando o feminino pelo seu jeito mais profano.
“Caras e Bocas” é, de certa forma, um disco definitivo para Gal Costa romper com uma fase mais rebelde e experimental para abraçar de vez o público e se tornar uma das grandes vozes femininas da MPB. Gal não era restrita a uma bolha da sociedade, ela era de todos, e provava isso com esse álbum carregado de sensualidade.
É o primeiro disco de Gal Costa, cujo lançamento foi adiado pela Phillips após a prisão de Caetano Veloso pelo aparelho repressivo da ditadura militar. Por isso, é considerado o álbum que encerrou a tropicália. Gal, que já havia gravado “Domingo” com Caetano e “Tropicalia ou Panis et Circencis” com a galera do movimento tropicalista, revela-se mais moderna nesse trabalho, flertando com outros ritmos para além da bossa nova.
Um culto ao que há de mais brasileiro e popular na música, o álbum “Índia” revela uma Gal engajada e provocadora. A capa, que trazia um close da cintura da cantora vestida de tanga, foi censurada à época – uma censura que levou quatro décadas para ser derrubada. Na contracapa, a cantora estava de seios de fora vestida de índia. Só restou a gravadora revestir o álbum com um plástico azul, o que aumentou ainda mais a curiosidade das pessoas.
2º) Fa-Tal – Gal a Todo Vapor – 1971
Fruto de uma série de shows feita no Teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro, sob direção de Wally Salomão, “Fa-Tal” revela a versatilidade da “musa do desbunde”, que passeia desde a tradição de Ismael Silva e o folclore baiano à vanguarda de Caetano Veloso e Jorge Ben. Nesse trabalho, ela deu interpretações definitivas para clássicos como “Pérola Negra” (do então novato Luiz Melodia), “Vapor Barato” (de Jards Macalé e Waly Salomão), “Como Dois e Dois” (de Caetano) e “Sua Estupidez” (de Roberto e Erasmo Carlos).
Segundo trabalho solo da cantora, ‘Gal’ é, sem dúvida, o disco mais impactante de sua carreira. A capa do artista tropicalista Dicinho já dava pistas da pegada experimental do disco. Inspirado em nomes como Janis Joplin e Jimi Hendrix, o álbum flerta com o rock psicodélico internacional, mas sem deixar de impor sua identidade tropicalista. Com produção de Rogério Duprat e a participação de Gil, Caetano e Jards Macalé, Gal apresenta um de seus melhores e mais ousados trabalhos.
Texto: Harlen Felix / Notícias do Bem
Foto: Foto promocional do disco Bossa Tropical crédito: Marcos Hermes