Educadora e MÃE – Depois de ser mãe decidi ter minha própria escola

ESPECIAL DIA DAS MÃES

Educadora e MÃE – Depois de ser mãe decidi ter minha própria escola

Na vida não há um manual com indicações exatas a seguir quando o assunto é ser mãe, o que existe é o amor, puro e verdadeiro. Nesta semana, para celebrar o Dia das Mães, comemorado neste domingo, 14 de maio, o Notícias do Bem traz para você alguns relatos sobre esse amor e a transformação de vida de algumas mulheres com a chegada da maternidade.

Para abrir essa série de relatos, a pedagoga e mãe do Pedro (3) e do Antonio (1) Natúcia Cristina Cunto Tadei conta sobre sua experiência com empreendedorismo materno e como é ser mãe e educadora ao mesmo tempo.

MINHA VIDA COMO EDUCADORA E MÃE

Eu sempre me identifiquei como professora, desde criança e trabalhei como professora, desde muito jovem, quando me formei. Toda a minha constituição como ser humano foi dentro da escola. E como todo mundo sabe, um professor trabalha muito.

Quando comecei a trabalhar, tinha uma carga tripla – manhã, tarde e noite – e não cabia no meu plano ser mãe, porque eu cuidava tanto de tantas crianças que eu não tinha tempo, não por falta de desejo. Mas com o passar do tempo eu consegui diminuir a carga horária de trabalho, eu passei em um concurso público. Eu trabalhava antes, 60 horas semanais e eu passei a trabalhar 40 horas. E foi aí que eu comecei a pensar em ser mãe e, em 2013, eu tive o Pedro.

NatuciaA maternidade me transformou profundamente, porque é uma entrega profunda, é um renascimento. Todo mundo fala que “quando o bebê nasce, nasce também uma mãe”, mas na verdade renasce uma mulher, um ser humano que antes não existia mesmo.

Nesse período, aconteceram muitas transformações, desde o interesse por um parto humanizado, que eu busquei, mas não consegui ter um parto normal. Esse era um grande sonho para mim e nesse momento já fui resignificando um monte de coisa na minha vida.

Na época, eu continuava no cargo público, como coordenadora pedagógica e o Pedro teve que ir para escola muito pequenininho, com quatro meses e meio, uma vez que eu retornaria ao trabalho quando ele completasse 5 meses.

Lembro que foi muito doloroso esse momento de separação, de ter que deixar ele na escola em período integral, e eu como professora, como educadora, sabia como seria uma escola ideal, mas eu não encontrava esse serviço e mesmo assim eu precisei voltar ao trabalho, afinal as necessidades básicas chamam. Comecei a trabalhar e foi muito difícil, mas ao mesmo tempo foi um reencontro, pois eu sempre amei a área de educação, então estava tudo bem, o deixá-lo na escola é que não era fácil.

A decisão
Passado um tempo, tive o meu segundo filho, Antônio, e houve todo um resgate daquele momento que eu já tinha passado, resgate pelo parto humanizado e todo o processo de adaptação e foi nessa busca que eu voltei a pensar na entrada na escola dele também e comecei a planejar. No meio do caminho muitos questionamentos, sem encontrar uma escola, e nessa procura, meu marido, Diogo, falou “bom, já que a gente não acha, vamos abrir uma” e minha reação foi “Você está louco? Eu sou funcionária pública, com um bom salário, uma carga horária satisfatória…”, mas aquilo mexeu comigo e ficou no meu pensamento. 

Eu tinha muito desejo de colocar todo esse ideal de educação em prática e juntou tudo isso com esse sonho que começou a nascer e eu grávida do Antônio, nascia aí a escola Luz da Vida.

Eu pensava que para abrir o meu negócio e dar certo era necessário apenas ter uma escola de qualidade, mas a verdade é que ter uma escola de qualidade é uma obrigação do negócio e que eu precisava de um diferencial. Buscamos orientação no Sebrae, para tirar as dúvidas, para que esse sonho saísse do papel e virasse realidade.

Quando o Antonio tinha 15 dias, alugamos o espaço da escola e começamos a reformar. Nisso o Pedro estava com dois anos de idade. Eu tive que administrar um novo negócio, um filho recém-nascido e o ciúmes natural de irmão mais velho. 

Foi bem trabalhoso, demandou muita energia e no dia 4 de janeiro de 2016 abrimos em São José do Rio Preto a Luz da Vida e o Pedro e o Antônio vieram para cá. Hoje, temos 50 crianças na escola, de 4 meses até 5 anos e 11 meses. 

Luz da vida
escolaNosso maior diferencial é valorizar a infância, o tempo, o ritmo, a individualidade e a vida de cada uma. Aqui, não temos salas de aulas e não temos alunos, o que temos são crianças. Essa perspectiva muda completamente o nosso atendimento. Aqui, não chamamos os profissionais de educação de professores e sim educadores e todos que aqui trabalham são educadores, do profissional da área, ao estagiário até o responsável pela alimentação e limpeza. Todo o projeto pedagógico é voltado para isso. Tradicionalmente, as crianças desenvolvem atividades, têm matérias, disciplinas, aqui elas vivem experiências.

Em toda a primeira infância, a criança é governada muito pelo movimento, e por isso muitas vezes elas são vistas como muito agitadas, mas essa é a natureza da criança. Ela vive a vida enquanto ela se movimenta e tradicionalmente nas escolas isso é formatado, de maneira que ela sossegue que ela fique calminha, boazinha. Na Luz da Vida a gente permite que os pequenos vivam a essência de ser criança e a criança faz bagunça, faz arte, ela vive genuinamente todos os sentimentos. Costumamos dizer que a verdade está com a criança, justamente por causa dessa essência que está ai, que se mostra genuinamente, e que a gente vai se moldando com o tempo e na vida a adulta a gente faz coaching para reencontrar…

Empreendedorismo materno
Ser mãe e ao mesmo tempo educadora não é fácil, tem algumas idealizações sobre o empreendedorismo materno, a mãe perto das crianças, que é mais difícil do que imaginei.

Sobre ser dona da escola em que seus filhos estão, com o passar do tempo eu fui percebendo uma necessidade de fazer algumas separações, pois eu entendi que era importante para eles terem essa divisão entre o espaço familiar, o escolar e o de convivência social. A escola cumpre muito essa função da criança poder estar longe dos pais e, no caso dos meus filhos, o tempo todo, eles têm o olhar da mãe e isso muitas vezes pode limitar.Se o Pedro batia em algum coleguinha, como e quem agir a mãe ou a educadora? Eu coloquei alguns limites e os educadores da escola têm total autonomia para eles tomarem as devidas providências com todas as crianças e assim como com os meus filhos.

Com o tempo o mais velho, o Pedro, entendeu completamente essa divisão. O Antonio, que é o mais novo, ainda passa por momentos de choro quando me vê e preciso trabalhar. E me peguei em certas ocasiões passando escondida por ele para não desestabilizar, mas fui vendo que isso era muito artificial e que a realidade é que eu estava aqui mesmo e que precisávamos aprender a lidar da maneira mais verdadeira, como parte da experiência da vida deles, de ter uma mãe que é dona da escola. Cada dia é uma nova descoberta, um novo aprendizado…

Natucia Cristina Cunto Tadei

08/05/2017

08/05/2017 08:24

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