Que o ano de 2020 foi duríssimo, não é nenhuma novidade. Todos nós, em diferentes localidades do globo, vivemos as duras regras estabelecidas pela pandemia da COVID-19, tendo de nos adaptar às novas formas de trabalho, de relacionamento, de interação social e, principalmente, a estarmos distantes das pessoas que amamos. Mas, nem por isso, o tempo deixou de seguir seu curso.
Apesar dos cuidados sanitários e das novas formas de vivermos confinados em nossos lares, vivemos alegrias, em como todos os anos anteriores a 2020. E vivemos tristezas, medos, surpresas… e foi exatamente uma surpresa que salvou meu ano.
Minha amada esposa, Débora, é bastante engajada à causa animal, sendo sempre solícita em ações e doações – e adoções. Nossa casa hoje é habitada por Débora, por mim, por Menininha e Maria, nossas cachorrinhas, e também por Chico, Joey, Sancho e Bento, nossos gatos. Além disso, temos Marley e Duke, que acabaram ficando sob tutela de minha mãe, e lá vivem muito, muito felizes. Nessa enorme patota, meninos e meninas, cães e gatos, vivem em perfeita harmonia, talvez por saberem que vieram todos da rua, deixando pra trás as dificuldades, a falta de comida e abrigo e, principalmente, a falta de amor.
Menininha, a protagonista dessa história, foi resgatada e amparada pela minha esposa em abril de 2017, durante um período em que estive no exterior. E a danada não veio sozinha: trouxe seu bebê, Duke, que de tão pequeno, ainda cheirava a leite. Com o passar dos anos, Menininha foi envelhecendo, foi ficando debilitada e tudo bem, sabemos como são essas coisas. Mas algo estranho acabou acontecendo.
No dia 10 de novembro, logo pela manhã, Menininha entrou em nosso quarto cambaleando, e tombou. Ficou ali, no chão, imóvel, paralisada. Imediatamente fomos atendidos por nossa veterinária clínica, Dra. Maria Teresa Schiavetto, que nos orientou sobre as possibilidades daquele quadro clínico, diagnosticado como um derrame. Ao mesmo tempo em que nos orientou sobre medicações, Dra. Teresa nos recomendou levar Menininha para um veterinário especialista em reabilitação, o Dr. Gustavo Giunchetti – que como grata surpresa, descobrimos ser irmão da Dra. Rafaela Giunchetti, especialista em Oncologia Veterinária, que já tinha salvado o Marley, diagnosticado com um tumor de grau 4 em 2015.
Os dias que se seguiram à paralisia da Menininha foram muito tristes. Um animal que nos olha com amor, que espera de nós uma resposta, compartilhou conosco sua angústia e, mesmo sem respostas concretas, recebeu todo amor, carinho e cuidados que estavam ao nosso alcance.
Durante quatro semanas Meninha fez visitas diárias à Dra. Teresa, que nos ofereceu os melhores tratamentos, os melhores medicamentos, e um acompanhamento primoroso, como sempre; fizemos também duas visitas semanais ao Dr. Gustavo, que realizou sessões de cromoterapia, ozonioterapia, acupuntura, além da fisioterapia, tão necessária. Em alguns dias, víamos melhoras; em outros, além de não ver progresso, parecia que voltávamos à estaca zero.
Fomos persistentes, e encontramos em nosso animal de estimação uma qualidade que parecia ser quase sobre-humana: a vontade de viver. E, felizmente, assim aconteceu. Ela voltou a ter equilíbrio, a comer, a andar, a balançar o rabo de alegria, a correr. Ela voltou a viver…
Hoje, enquanto finalizo esse texto, olho para a Menininha e vejo o quanto ela está suja de terra, o que se tornou possível não apenas pelos tratamentos, mas pelo carinho e a atenção dispensados a ela pelos profissionais que estiveram ao nosso lado. E ela não foi apenas curada. Os resultados foram além: ela rejuvenesceu. E voltou a correr atrás da moto do vigilante; a rolar no quintal; a subir, descer e sujar os sofás; a uivar para os barulhos estranhos…
Retomo a frase atribuída a Gandhi que dá nome a este texto para concluir: nenhum dos resultados obtidos teriam sido possíveis se não tivéssemos amor pelos nossos animais, é certo. Além disso, acreditamos que nenhum avanço teria sido possível se não estivéssemos cercados de profissionais tão humanos e que têm tanto amor pela profissão que escolheram. À Dra. Teresa e ao Dr. Gustavo, o nosso muito obrigado.