Primeira criação online da Cênica, ‘Sala de Espera’ reflete sobre fazer artístico na pandemia

Experimento que une as linguagens do teatro e do audiovisual concebido durante a pandemia, “Sala de Espera”, a mais nova criação da companhia Cênica, faz temporada de estreia de 12 a 17 de outubro (terça a domingo), ao vivo e online, com sessões às 21 horas, na plataforma Zoom. A transmissão acontece diretamente do espaço da companhia. Os ingressos são gratuitos e devem ser reservados pelo Sympla. Após as sessões, a equipe artística conversa com o público sobre a montagem.

Sob direção de Fabiano Amigucci e Fagner Rodrigues, a produção é a primeira para o ambiente virtual do grupo, que lança mão da metalinguagem e da autoficção. Nela, o público acompanha quatro atrizes que, depois de 18 meses de encontros mediados pelas telas, e com os teatros ainda fechados, aguardam para entrar em cena. Na espera, mergulham em seus processos criativos, em suas memórias, urgências, dilemas e enfrentam um embate com o tempo, as ausências, as novas formas de presença e com os (in)cômodos de uma casa que agora também lhes serve de palco.

A metalinguagem presente no trabalho propõe um diálogo com o absurdo do universo do irlandês Samuel Beckett (1906-1989), trazendo à pesquisa e à cena a peça “Esperando Godot”, com suas incontáveis possibilidades de representação da espera. As atrizes-criadoras são Andrea Capelli, Beta Cunha, Márcia Morelli e Suria Amanda. O elenco conta ainda com participação especial de Ivete Morelli. 

“Sala de Espera” é uma criação coletiva que partiu de reflexões de integrantes da companhia relacionadas à arte, especialmente ao fazer teatral, e à vida no contexto da pandemia da Covid-19, de isolamento social e desarticulação no enfrentamento e prevenção à doença no país. Relatos trazidos pelas atrizes serviram de base para a construção da dramaturgia, dividida entre os solos “Tentativas”, “Processo”, “Vida” e “Ofício”. A narrativa é ambientada entre quatro cômodos de uma casa – quarto, cozinha, sala e banheiro – e a transmissão ao vivo acontece integralmente em plano-sequência, com a câmera acompanhando cada atuante sob perspectivas distintas, estética que propõe à plateia uma experiência imersiva.

O projeto nasceu em abril de 2020, momento no qual a Cênica, como tantos outros grupos e artistas, teve suas apresentações canceladas. O processo de criação levou 18 meses e a maior parte dos encontros se deu de forma remota. Segundo os diretores, em meio a todo o desolamento que o momento impôs, e ainda impõe, entre perdas humanas, políticas e sociais, foi proposto às pessoas integrantes da companhia o início de uma pesquisa artística experimental a partir de ferramentas virtuais de comunicação, com o desejo de manterem-se vivos e vivas artisticamente e resistindo.

Sobre o processo, a atriz Beta Cunha afirma: “Foi um grande desafio, enquanto mulher, artista, enquanto parte desse coletivo que é a Cênica, produzir em meio a uma pandemia de forma remota, de forma individualizada na construção, porém, sempre compartilhada, nos ensaios, foi e tem sido um grande aprendizado, dos últimos tempos talvez o maior, em meio a toda essa situação na qual nos encontramos. É possível afirmar que a arte cura, que a arte mantém a sanidade”.

Capelli pontua: “O Sala de Espera para mim é uma paixão, com todos os ingredientes que uma paixão possui, a possibilidade de estar viva, do encontro, enquanto tudo era medo e isolamento”.

Para Morelli, estar no projeto “foi como receber um colete salva-vidas” – “tempo de pandemia trouxe tristeza, medo e incerteza e eu, com 12 anos de grupo, estava acostumada a conviver com essa ‘segunda família’, e ficamos com os trabalhos paralisados, ficamos apartados, e Sala de Espera possibilitou estarmos juntes, ainda que de modo virtual”.

Já Amanda assinala, sobre o trabalho: “Daquelas coisas que mexem e transformam a gente dos pés até a cabeça. É uma constante sensação de inesperado”.

À criação somam-se ainda os diretores, além de Homero Ferreira e Ana Magalhães, artistas convidados. Léo Bauab assina a direção de arte e a cenografia; Amigucci, figurinos e adereços; e Luis Fernando Lopes, iluminação.

O projeto é viabilizado pelo Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc nº 36/2020, “Produção e temporada de espetáculo de teatro com apresentação online”.

SERVIÇO: Sala de Espera
De 12 a 17 de outubro (terça a domingo), 21 horas, na plataforma Zoom.
Reserva de ingressos pelo Sympla, em www.sympla.com.br/cenica
Duração: 40 minutos. 16 anos. Grátis
Mais informações: http://ciacenica.com.br/sit/; @ciacenica no Instagram e @cia.cenica no Facebook

Texto: Graziela Delalibera / Divulgação
Fotos: Guilherme Di Curzio / Divulgação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *