Programa reduz mortes de crianças durante a estação chuvosa na África

CIÊNCIA DO BEM

Programa reduz mortes de crianças durante a estação chuvosa na África

Um projeto que diminuiu as taxas de mortalidade, reduziu os surtos e reforçou os sistemas de saúde na região Sahel, na África, por meio da distribuição de medicamentos antimalária para milhões de crianças, enfrenta dificuldades na distribuição de mantimentos, segundo especialistas e autoridades de saúde.  O inovador projeto “Access-SMC”, financiado pela “Unitaid” e executado pelo “The Malaria Consortium” em parceria com a “Catholic Relief Services”, intensifica o uso de medicamentos sazonais contra a malária para as crianças menores de cinco anos em sete países ao longo do Saara.

Os 67 milhões de dólares destinados ao projeto de três anos visam atingir 10 milhões de crianças no próximo ano – eventualmente, até 25 milhões de crianças em Sahel podem se beneficiar. Testes clínicos demonstraram que a intervenção pode reduzir o número de crianças que ficam doentes ou que morrem de malária em 75%.

O tratamento consiste em até quatro doses mensais. A cada mês, agentes comunitários de saúde entregam a primeira dose antes que os pais consigam as próximas. Rádios e anunciantes alertam as pessoas sobre o esquema. Isto é maravilhoso, porque a maioria dessas crianças teriam tido malária. Então estamos falando de milhões de crianças sem malária, que provavelmente teriam tido antes, disse Diego Moroso, diretor do projeto Access-SMC.

Eu perguntei a uma mãe no Chade como iam as coisas e ela disse, ‘eu posso dormir nesta estação’. Eu estava pensando que ela estava falando sobre as crianças, mas ela falava sobre a sua saúde também porque agora ela não tem que cuidar de três ou quatro crianças que costumavam ficar doentes todo o mês. Isso é um fardo tão pesado”, continua. Moroso participou de uma reunião realizada em Londres para avaliar o progresso na intensificação da intervenção. No ano passado, 3,2 milhões de crianças receberam os medicamentos, o projeto espera atingir mais de 6 milhões este ano.

É muito barato, está concentrado em um determinado período de tempo, é facilmente planejado e é entregue com os recursos adequados. Quando olhamos para a Nigéria, por exemplo, mesmo com US $ 40 milhões por ano, poderíamos ter 11 milhões de crianças tratadas, disse Moroso. A Nigéria é responsável por mais de 25% das mortes por malária na África e, apesar de uma recente queda na taxa de prevalência de 42% das crianças menores de cinco anos em 2010 para 27% em 2014, a carga permanece elevada durante a estação chuvosa de Julho a Outubro , de acordo com o ministro da saúde Dr. Osagie Ehanire.

Ele disse que a intervenção tem diminuído as mortes por malária pela metade em crianças menores de cinco anos nas áreas onde o projeto foi implementado e isso se traduziu em benefícios mais amplos. Há menos despesas para as famílias envolvidas, eles podem usar o dinheiro para outras atividades. Há uma melhoria na frequência escolar. Os pais podem ir para os seus trabalhos, ir para os campos e não precisam se preocupar com seus filhos pequenos, disse ele.

Distribuir os medicamentos continua sendo um desafio, embora as coisas tenham se tornado mais fáceis, disse ele, graças aos ganhos militares contra Boko Haram – um dos maiores grupos terrorista da Nigéria – isso graças ao presidente Muhammadu Buhari, que assumiu o cargo no ano passado. Até um ano atrás, 14 governos locais estavam sob o controle do Boko Haram, e foi totalmente inacessível, disse Ehanire. [Agora] todos os 14 governos locais foram libertos.

As autoridades esperam que o projeto possa ser combinado com outras iniciativas, como a de trabalhadores de saúde que viajam a áreas remotas para administrar medicamentos contra a malária, que também poderão distribuir vitaminas, ajudar as crianças desnutridas ou até administrar vacinas.

Ehanire disse que a Nigéria esperava para integrar a cobertura de saúde universal. Os parceiros internacionais poderiam ser muito úteis e nos ajudar a trabalhar com o Ministério da Saúde para fazer contribuições técnicas e financeiras, disse ele.

O principal desafio é garantir o fornecimento de medicamentos, uma vez que não existe um mercado privado e apenas um fabricante principal, a Guilin Pharmaceutical, disse Moroso. Pedidos precisam ser oportunos e o financiamento tem de ser solicitado e confirmado a tempo, disse ele.

Havia tratamentos de 71 milhões financiados este ano, [mas] o fabricante só será capaz de produzir 67 milhões, devido a limitações de capacidade. Queremos tentar mudar isso com um planejamento melhor , disse ele, acrescentando que eles também estão esperando para persuadir outra empresa para fabricar os medicamentos.

SMC também está sendo usada em Burkina Faso – país africano –, onde, de acordo com o Dr. Yacouba Savadogo, diretor do Programa Nacional de Controle da Malária, a malária é a causa de metade das visitas médicas e 30% das mortes nos centros de saúde. É particularmente difundida entre os mais vulneráveis, no qual encaixa a população rural e os agricultores, o que é de cerca de 90% da população. Estudos mostram que 40% dessas pessoas morrem por causa da malária, disse ele.

Em 2015, vimos uma redução de 25% da doença nas zonas onde o projeto foi realizado, acrescentou, embora tenha ressaltado que os pais garantem administrar os medicamentos, o que continua a ser efetivamente um desafio.

Outra dificuldade é o financiamento, embora o governo tenha garantido um empréstimo do Banco Mundial. Em 2016, nós queríamos cobrir 70 distritos, mas só tivemos dinheiro para 56. Portanto, há 14 distritos que não são cobertos com um custo de cerca de US $ 1,6 milhão. O que não é muito, mas está faltando, disse Savadogo.

Fonte: The Guardian 

Tradução: João Vitor Boni

Edição: Vânia Nocchi

05/07/2016

05/07/2016 13:38

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