Episódio final: Rumo ao Santuário de Aparecida

Sigo para a última parte de minha peregrinação virtual, envolvendo meus últimos dez dias rumo ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida.

No trigésimo primeiro dia, desci às 6h15. No hotel, café da manhã para o peregrino é diferenciado, começa às 6h. Para o restante dos hóspedes, o início é às 6h30.

Tomei meu café, passei na igreja e no mercado, para comprar amendoins, uva passa e uns bolinhos e exatamente às 7h41 estou em frente à Igreja de São Sebastião e começo minha caminhada diária. Para quem tinha na cabeça encerrar o dia em Barra (pequeno vilarejo que fica exatamente na divisa entre Andradas e Ouro Fino) e por ali ficar, o cenário mudou.

Três horas mais tarde, eu estava aos pés da Serra dos Lima. Parei e descansei um pouco. Comi um bolinho e me preparei para a subida. Por ser asfaltada, ela aparenta ser ainda mais íngreme. Nesse momento, passaram por mim três peregrinos, que, a partir do dia seguinte, seriam meus novos companheiros de caminhada, pois, como já disse, sempre estive acompanhado de Nossa Senhora Aparecida, de Deus e do meu Anjo de Guarda.

Capela de Nossa Senhora de Lourdes e uma fonte de água potável.

A subida era um tanto difícil, mas, logo no início, há uma capela de Nossa Senhora de Lourdes e uma fonte de água potável. Subindo mais um pouco há um mirante de onde se tem uma vista incrível. Parei ali e preparei meu isotônico em pó, continuando a caminhada até parar novamente em uma pousada no meio da Serra dos Lima, localizada no quilômetro 271. Ali, encontrei novamente os peregrinos que havia visto lá no início da subida. Eles tinham planos para dormir em Taguá, com reserva de pousada e tudo. Já eu, não tinha reserva e nem sabia até onde ainda ia. Fiquei almoçando e os peregrinos seguiram.

Por volta das 15h, eu estava em Barra e por ali planejava ficar, mas, quando fui carimbar meu passaporte, o rapaz do bar me informou que eu iria ter que ir até Taguá e tentar dormir por lá. Foi aí que o destino me preparou um outro roteiro.

Na saída do lugarejo, há uma igreja e, olhando para ela de frente, tem uma seta amarela indicando para seguir à esquerda. Não vi e passei reto, me dando conta que havia errado minha via somente quilômetros mais tarde.

Passei pelo distrito de São José do Mato Dentro, onde me informaram como retornar ao Caminho. Caminhei em passos acelerados, pois agora meu destino era Crisólia, pequeno distrito de Ouro Fino. Para resumir, já estava escuro e os últimos quilômetros foram somente com a luz da lanterna que carregava na bagagem.

Vídeo do trigésimo primeiro dia – https://youtu.be/FsL31k2phA8

No trigésimo segundo dia, acordo um pouco mais tarde. Como o dia anterior foi muito desgastante por conta do erro no trajeto – e também porque acabei indo dormir tarde – decidi dormir um pouco mais e acordei às 7h30.

Após tomar café, encontrei os amigos peregrinos do dia anterior. Eles haviam pernoitado em Taguá. Disse a eles que seguissem a caminhada e que mais tarde nos encontraríamos novamente. Ah, já estava me esquecendo: eles são o Marcelo, a Fabiana, sua esposa, e Adriana, uma prima do Marcelo, todos de Santo André. Não foi difícil gravar os nomes deles porque estavam escritos nas costas das camisetas que vestiam.

Comecei minha caminhada em frente à Igreja de Nossa Senhora às 8h50 e segui rumo a Ouro Fino. Apertei o passo para alcançar meus amigos, mas, antes, encontrei duas peregrinas de São Paulo. São mãe (Sílvia) e filha (Débora) que saíram no mesmo dia que eu de Águas da Prata, mas só estávamos nos encontrando naquele momento.

Caminhamos mais um pouco e, quando nos demos conta, já estávamos em frente ao Menino da Porteira, em Ouro Fino (MG). Dali em diante eu, o Marcelo, a Fabiana e a Adriana seguimos juntos com a Sílvia e a Débora, caminhando até Inconfidentes. Mas, antes, conhecemos a magnífica Igreja de São Francisco de Paula e Nossa Senhora de Fátima.

Como a Sílvia e a Débora já tinham pousada reservada, ficaram em Inconfidentes. A Silvia e a Débora foram outras amigas que o Caminho me deu. Infelizmente nos separamos ali, mas sempre estávamos conversando via WhatsApp e trocando informações do Caminho.

Nós quatro seguimos. O Marcelo, a Fabiana e a Adriana tinham reservas em uma pousada um pouco para frente de Inconfidentes. Eu, como não tinha reservado nada, fui “na cola” deles. Comemos pastel, visitamos à linda igreja de São Geraldo Magela e seguimos para a pousada, onde chegamos por volta das 16h30. Como a pousada ficava bastante afastada da cidade, nesse dia não fui à missa.

Vídeo do trigésimo segundo dia – https://youtu.be/wFcMb_XhOVM

No trigésimo terceiro dia, saio por volta das 6h25. Meus companheiros de caminhada já foram, mas nós havíamos combinado que nos encontraríamos no percurso. Todos os dias logo pela manhã é bastante frio, mas depois de um tempo caminhando o corpo esquenta.

Já estava bem claro, mas o sol ainda não havia aparecido. Pouco depois das 7h, vejo ao longe um senhor mudando o gado de pasto. Quando me aproximo ele puxa conversa comigo e caminha ao meu lado por alguns metros. Convidou para tomar café, algo bastante corriqueiro por essas bandas, mas lhe respondi que acabara de fazer isso na pousada.

Um dos lugares emblemáticos do Caminho, a Porteira do Céu

O sol aparece e já está abrasador, isso porque não é nem 7h30. Um grupo de bicigrinos passa por mim e um deles me informa que são de São Carlos. Após duas horas e meia de caminhada, encontro meus amigos e continuamos juntos nossa jornada diária. 

Não aconselho ninguém a fazer isso, mas eu optei por fazer o Caminho só, para que pudesse me compenetrar em minha peregrinação e contemplar as belezas e a vida que Deus me proporcionou. Para você ver como Deus é tão perfeito, que até quando encontrei companhia para trilhar o Caminho, essas pessoas também estavam focadas em sua peregrinação. Diariamente eles também rezavam o Rosário, cada terço em um horário diferente; e eu os acompanhava.

Placa dos 200 quilômetros

Sem que percebêssemos já estávamos em Borda da Mata. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo estava fechada. Então, não conhecemos ela por dentro. Cada um pegou um açaí caprichado e comemos ali mesmo na praça.

Duas horas mais tarde, estávamos chegando em um dos lugares emblemáticos do Caminho, a Porteira do Céu; lugar onde é impossível não se emocionar. Nesse dia, também passamos pela placa dos 200 quilômetros e finalizamos o dia na cidade de Tocos do Moji. Confesso que estava difícil andar, pois os pés doíam bastante, mas ainda fomos à missa e recebemos uma bênção especial do padre Paulo Vieira, de quem tivemos um grande acolhimento. Hoje o dia foi bastante puxado. Amanhã seguimos para Estiva.

Vídeo do trigésimo terceiro dia – https://youtu.be/fZXPqTpR2XE

Capela de São Francisco de Assis

No trigésimo quarto dia, saio de frente da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Tocos do Moji, às 6h40.  Meus amigos já estão na estrada e eu sigo em meu ritmo. Com o terço na mão e rezando, observo a luz do sol descer as encostas das montanhas e alcançar as plantações de morangos.

Quando vejo a placa 194, faço uma foto. Poucos entenderiam seu significado para mim, mas já são 700 quilômetros percorridos. Esse trecho está bastante movimentado. Vejo vários peregrinos com carros de apoio. Muitos dos peregrinos e bicigrinos optam por fazer o Caminho com veículos de apoio. Ando por mais alguns quilômetros e encontro meus amigos rezando em uma igrejinha. A partir dali caminhamos juntos até chegar em Estiva.

Cada dia revela um lugar mais lindo que o outro. Neste dia, conhecemos uma pousada que fica em um lugar maravilhoso. Apesar de não mencionar nomes de pousadas, essa tem uma localização muito privilegiada e uma linda capela de São Francisco. Um lugar que fica na Fazenda Velha, já no município de Estiva. Ali comemos um lanche e seguimos.

Quatro horas e meia mais tarde, depois de subir e descer várias montanhas, chegamos em Estiva. Ali nos separamos novamente. Eu fiquei em uma pousada próxima à igreja e eles seguiram para outra alguns quilômetros para frente.

Vídeo do trigésimo quarto dia – https://youtu.be/2qpJ9xzLrwo

Percorrendo o caminho, você vê muitas plaquinhas com frases motivacionais

No trigésimo quinto dia, saio de frente da Igreja de Nossa Senhora Aparecida por volta das 7h. Depois de caminhar por algumas quadras, percebo que minha bagagem está mais leve. Esqueci de encher as garrafas com água. Passo em uma padaria, compro água e encho as três garrafinhas. Agora sim o peso está correto.

Atravesso a passarela sobre a Rodovia Fernão Dias e sigo sentido Consolação. Nesses dias, as quilometragens são mais baixas – ontem foram 22 e hoje serão 19. Por isso, não há tanta preocupação com o tempo. 

Logo no início da estrada de terra, encontro um grupo de peregrinos parados ouvindo uma pessoa. Essa pessoa é o Júnior Marques (@juniormarques.sb), um ser humano iluminado que sempre tem palavras de sabedoria para compartilhar com o peregrino que passa por ali; a famosa capelinha de São Bento. Percorrendo o caminho, você vê muitas plaquinhas com frases motivacionais, muitas dessas plaquinhas foram colocadas ali pelo Júnior. Tenho o privilégio de conversar um pouquinho com ele e lhe digo o motivo do porquê estou fazendo minha peregrinação.

Balanço no alto da Serra do Caçador

No bairro rural Boa Vista, ainda município de Estiva, encontro meus amigos e sigo com eles. Nesse dia, estava bastante difícil de caminhar. Os pés doíam muito por causa das bolhas. Nunca mencionei nenhum tipo de dor, mas acredito que estava visível em meu semblante. Em horas como essa a solidariedade do Caminho fica mais latente. Nós paramos e a Adriana passou uma pomada e fez curativos em meus dois pés.

Refeito das dores, continuamos a jornada. Alguns quilômetros mais tarde avistamos um grupo de peregrinos reunidos. Todos observavam o Júnior, aquele mesmo que encontrei lá atrás na capelinha de São Bento, pregando uma nova plaquinha no Caminho.

No alto da Serra do Caçador, paro para comer dois pastéis, tomar um refri e fazer uma fotinho num balanço que já vi muito no Instagram. Os amigos continuam. Dali até Consolação sigo sozinho, enfrento umas descidas brabas e encerro a jornada do dia em frente à Igreja de Nossa Senhora da Consolação às 14h10. Conheci a igreja, carimbei meu passaporte e conversei com um senhor que estava na praça.

Hoje a caminhada acabou mais cedo, lavei a roupa e deu até para tirar uma soneca, estava precisando. À noite, todos jantamos juntos. 

Vídeo do trigésimo quinto dia – https://youtu.be/iPlFPEnG0NY

No trigésimo sexto dia, às 7h, estou em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Consolação para iniciar meu trajeto rumo a Paraisópolis. A caminhada começa pelas desertas ruas da pequena Consolação e está bem friozinho, acredito que todo mundo, com exceção dos peregrinos, resolveram acordar um pouquinho mais tarde.

Edivaldo com os amigos que o caminho lhe deu, Marcelo, Fabiana e a Adriana.

Quando já estou na saída da cidade, vejo ao longe, saindo de uma outra pousada, os peregrinos Paulo, Lívia e Elaine conversando com a bicigrina Camila. Estes são outros amigos que o Caminho me deu. Aceno para eles e sigo minha caminhada solitária, pois os amigos que dormiram na mesma pousada que eu já estão no trecho. Quando saio da vicinal e pego novamente a estrada de terra, avisto o Alemão, um dos vários apoios que alguns peregrinos contratam para percorrer o Caminho.

Alguns quilômetros pra frente, logo após passar pela ponte que cruza o rio que divide Consolação de Paraisópolis, passa por mim um senhor. Guardo o celular, pois estava fotografando uma placa e aperto o passo para alcançar o homem. Uma das coisas mais prazerosas do Caminho é conversar com moradores locais.

Apesar do senhor andar em ritmo de caminhada, consigo alcançá-lo e ele me conta que faz aquela caminhada diariamente por recomendação médica, e assim seguimos juntos por um bom pedaço, até que avisto meus três amigos de Santo André. O senhor pega o rumo de sua casa e dali em diante seguimos eu, o Marcelo, a Fabiana e a prima Adriana.

O trecho rumo a Paraisópolis fica mais tranquilo em relação às subidas e descidas.

Não sei se os outros peregrinos pensam assim, mas, até agora, esse foi o trecho que eu meus amigos julgamos mais tranquilo em relação às subidas e descidas.

Após almoçarmos em um restaurante que fica próximo a Paraisópolis, caminhamos mais um tempo e chegamos em nosso destino por volta das 14h30.

Ficamos em pousadas diferentes, mas bem próximas. À noite fomos à missa na Igreja Matriz de São José. Após a missa, cada um foi para seu canto.

Vídeo do trigésimo sexto dia – https://youtu.be/of9VTHji9TM

Placa de Fé no Caminho e ao fundo a Vila Luminosa ao fundo.

No trigésimo sétimo dia, às 6h15, estou saindo de frente da Igreja de São José, Matriz de Paraisópolis. Como nos dias anteriores, meus amigos de Santo André já pegaram o rumo e, como combinado, me encontrarei com eles mais tarde.

Após sair do trecho urbano, avisto ao longe várias pessoas caminhando ao som de músicas religiosas. Quando consigo me aproximar, vejo que se trata de um grupo de peregrinos de Mogi Guaçu (@jornadadoperegrino.caminhodafe). Caminho junto a esse grupo por um tempo. Ao pararmos ao lado de uma van que está lhes dando apoio, converso um pouquinho com a Ana Paula e a Zilda, elas me oferecem frutas e água. Pego duas bananas, agradeço e sigo meu caminho.

Após alguns quilômetros encontro meus amigos. Como era domingo, havia várias pessoas circulando pelo Caminho, muitas destas pessoas não são peregrinos. Dentre estes, o José Luiz, um senhor que mora em Paraisópolis. Percorreu uma grande distância comigo e com os amigos de Santo André. O senhor José Luiz é um peregrino experiente que, sempre quando possível, está a caminhar e conversar com os peregrinos, também ajudando com informações e explicações sobre o Caminho.

Bairro rural de Cantagalo, que pertence a cidade de São Bento do Sapucaí, em São Paulo

Esse trecho é bastante interessante. Em uma certa altura, saímos do estado de Minas e voltamos para São Paulo. Passado o bairro rural de Cantagalo, que pertence a cidade de São Bento do Sapucaí, em São Paulo, retornamos para o estado de Minas Gerais ao atravessarmos a divisa de Luminosa .

Chegamos em Luminosa por volta das 13h30. Como meus amigos já tinham reservado uma pousada no meio da Serra, eles subiram. Eu almocei e fui aconselhado a ficar por lá mesmo, já que não tinha feito reservas. Além do Zé Luiz, hoje também conheci o Benê e o Luiz, que fazem apoio aos peregrinos no Caminho da Fé. Amanhã saio bem cedo para subir a Luminosa e chegar até Campos do Jordão. Meus amigos já subiram hoje e irão pernoitar em uma pousada no alto da serra.

Vídeo do trigésimo sétimo dia – https://youtu.be/ypgetGiKKVM

No trigésimo oitavo dia, acordo por volta das 6h. Como a pousada já está no Caminho, minha caminhada começou ali mesmo. Então, antes das 7h eu já estava na estrada. Este início de dia me reservou o visual mais deslumbrante destes 37 dias de caminhada. O distrito de Luminosa, de todos os lugares que conheci no Caminho, foi o que mais me chamou a atenção; e ver esse lugar com a névoa da manhã foi algo maravilhoso.

Um dos visuais mais deslumbrantes destes 37 dias de caminhada

Depois de caminhar por alguns quilômetros, não demora muito e começaram a passar por mim alguns bicigrinos. Quando chego ao primeiro mirante e olho para trás, vejo um cenário magnífico, que até então só conhecia através das redes sociais.

Eu achava que já estava subindo, mas a subida começou depois que passei uma porteira logo após o mirante. Dali para frente é uma verdadeira parede. A subida é em zigue-zague, muitos carros que dão apoio aos peregrinos sobem por uma rota alternativa; por ali, somente veículos 4×4. Depois de literalmente “escalar” um bom trecho, o terreno íngreme fica menos acentuado e as subidas voltam relativamente ao “normal”, se é que se pode dizer isso por aqui.

Assim como ontem, hoje o dia também foi de encontros. Caminho com o peregrino Éder, que, se não me engano, é de Curitiba. Logo depois, converso com a Camila, bicigrina de São Paulo que deu uma aula de Santiago de Compostela para mim e algumas pessoas que davam apoio àquele grupo de Mogi Guaçu que eu encontrei ontem. E por fim encontrei o Márcio e a Cláudia, casal paranaense que vi rapidamente no dia de ontem, mas tive o privilégio da companhia deles no dia de hoje por alguns quilômetros. Após ter uma aula de história do Paraná, fiquei sabendo também de uma baita ligação de sua cidade natal com alguns de meus antepassados. A conversa estava muito boa, mas eu precisava me adiantar. Então me despeço deles e acelero mais um pouquinho meu ritmo, para alcançar meus amigos de Santo André.

Dali em diante, segui só, mas, quando cheguei em Campista, encontrei o Paulo, a Lívia e a Elaine sentados em um bar. Eles haviam acabado de comer. Já passava do meio-dia e eu também estava com fome. Comi um misto quente e nós quatro seguimos até Campos do Jordão. A conversa fluiu tanto que, quando percebemos, já estávamos na pousada. Lá, encontramos nossos amigos de Santo André. Todos nós tivemos um bom papo saboreando pizzas. Acho que não tinha um que não estava varado de fome.

Vídeo do trigésimo oitavo dia – https://youtu.be/6MM-aD3AR8I

No trigésimo nono dia, meus seis amigos, que também dormiram na mesma pousada que eu, mais o Gil e a Iara, casal de peregrinos que dormiram em outra pousada, saíram mais cedo em uma van com destino ao horto florestal de Campos. Neste trecho entre a cidade até o horto florestal, é aconselhável ao peregrino pegar algum tipo de condução por se tratar de uma estrada estreita, movimentada e sem acostamento. Então, contratamos uma van e dividimos a despesa em 9 pessoas. Depois de muito refletir, não fui na van. Fiquei e continuei minha caminhada solo, mas mantive a palavra e participei do rateio. 

No dia anterior, conversei muito com meu amigo Fred, bicigrino que passou por ali há alguns dias, e com o Luciano Mesquita, proprietário da pousada que também faz apoio a grupos de bicigrinos no Caminho da Fé. Ambos me explicaram a situação desse trecho. O que eu fiz não aconselho a ninguém, mas também não foi uma atitude imprudente, porque, antes, verifiquei com quem já havia passado por lá e com um morador local e conhecedor do trajeto. Foi uma atitude consciente: “eu prometi a Nossa Senhora que iria caminhando de São José do Rio Preto até Aparecida, assim farei”.

Saí da pousada às 7h35, passei na Igreja Matriz de Santa Teresinha e depois segui para a tal estrada. Realmente, a estrada é bastante movimentada, mas com atenção e a proteção de Nossa Senhora tudo deu certo. Almocei por ali mesmo e depois segui até o horto florestal. Ali, eu voltei à estrada de terra. Todo meu percurso foi solitário, até que depois de uma curva encontrei um boi no meio da estrada. Não havia para onde ir, o único caminho que tinha era onde o boi estava. Fiquei parado ali por alguns minutos, mas o animal não ia pra frente nem pra trás. A única alternativa que tive foi fazer o sinal da cruz e passar. Graças a Deus, não houve nenhuma reação. Então, continuei firme na minha caminhada. Dos 39 dias de caminhada, até aqui, este foi o maior medo que passei. 

Por volta das 16h30, decidi parar e ficar numa pousada ali no alto da serra. Meus amigos pernoitaram em Gomeral, dez quilômetros à frente de onde fiquei. Bora descansar, porque amanhã, se Deus quiser, eu chegarei na casa da Mãe Aparecida.

Vídeo do trigésimo nono dia – https://youtu.be/CbaP3oBNOmI

No quadragésimo e último dia de caminhada, acordo às 5h, tomo café às 5h30 e saio da pousada às 6h. Quando saio, ainda está escuro, mas não demora muito e começa a clarear o suficiente para desligar a lanterna. Minha maior preocupação é alcançar meus amigos e chegar junto com eles no Santuário, porque, das outras vezes que saí ainda no escuro, minha maior preocupação era não perder setas amarelas no Caminho.

Quando já estava totalmente claro, fiquei sabendo porque grande parte dos peregrinos e bicigrinos escolhem vir por Pedrinhas. Explico: quando você chega em Campos do Jordão, há duas opções: seguir por Pedrinhas (Guaratinguetá) ou Piracuama (Pindamonhangaba). A descida por Pedrinhas é linda. Sem desmerecer o outro trajeto, mesmo porque eu não conheço.

Cheguei em Gomeral, já eram mais de 8h. Sempre estava em comunicação via aplicativo com meus amigos, mas eles sempre estavam bastante à minha frente. Ando mais um pouco e chego no asfalto. Praticamente tudo é descida e descida bastante íngreme. Quando passei pela placa que marcava 22 quilômetros para chegar no Santuário, eram 9h23. Dali para frente, o relevo da estrada é totalmente plano; tudo o que tinha para descer eu já havia descido, mas descida mesmo, cotovelo atrás de cotovelo.

No ano passado, eu acompanhei toda a peregrinação de meu amigo Ozair Júnior. Agora, já pertinho da casa da Mãe, eu vivo tudo aquilo que havia visto nos vídeos de meu amigo. A ansiedade foi aumentando cada vez mais, até quando eu avistei uma placa com a frase: “Agradeça sempre, fé sempre”. Ali eu desabei a chorar, pois é uma frase que eu sempre digo: “Fé sempre”. Naquele momento, passou um filme em minha cabeça.

Dali para frente, eu diminuí o ritmo, já sabia que não alcançaria mais meus amigos antes de chegar ao Santuário, mas sabia que eles estariam lá me esperando. Já passava das 13h quando atravessei a ponte sobre o rio Paraíba, na cidade de Potim, e avistei a Casa da Mãe Aparecida; e, às 13h50, eu estava chorando em frente à imagem de Nossa Senhora Aparecida. Dali, segui até o Centro de Informações Turística/Ponto de Encontro para pegar meu certificado e encontrar meus amigos. 

Esse foi o resumo de minha peregrinação de São José do Rio Preto até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. A partir da primeira e depois da última cidade que passei pelo Caminho, estiveram comigo somente Deus, Nossa Senhora e meu Anjo de Guarda, mas, durante o restante do trajeto, muitos amigos cruzaram meu caminho e caminharam ao meu lado.

Para tudo em nossa vida há um propósito. A providência divina se encarrega disso. Por isso temos que ter “fé sempre”.

Vídeo do quadragésimo dia – https://youtu.be/TqiMbPKSRWI

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