Precisamos falar sobre Cyberbullying

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Precisamos falar sobre Cyberbullying

Enquanto para muitos a internet é vista de forma positiva e se torna uma grande aliada no trabalho, na comunicação e na interatividade, para outros a internet é motivo de preocupação. Isso porque, o mundo virtual muitas vezes é usado de forma negativa, para expor ou denegrir a imagem do outro, na ação conhecida como cyberbullying.

Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Intel Security, em 2015, com crianças de adolescentes brasileiros, de 8 a 16 anos, 66% dos pesquisados já presenciaram casos de agressões nas mídias sociais e mais de 20% afirmaram que já sofreram cyberbullying. Muitas vezes essas pessoas sofrem em silêncio, por medo ou por vergonha.

Para esclarecer alguns pontos desse delicado tema, o Notícias do Bem entrevistou João Marcelo Rondina, responsável pela coordenação dos cursos de pós-graduação em Tecnologia de Desenvolvimento de Sistemas e Tecnologias e Arquiteturas na Construção de Softwares no Senac São José do Rio Preto.

JoãoNesta quinta-feira (24/11), João Marcelo ministra, junto com Júlia Lucila de Moura, estudante do 3º ano do curso da Famerp, a palestra “Cyberbullying – o complexo bullying da era digital”. A atividade, que é gratuita, faz parte da programação do 5º Encontro de Conhecimento Integrado: educação e transformação para o mundo do trabalho, que acontece de 22 a 26 de novembro, no Senac São José do Rio Preto. Para saber mais sobre agenda de palestras e como participar acesse www.sp.senac.br/riopreto ou entre em contato pelo telefone (17) 2139 1699. Confira a entrevista e fique por dentro de como se proteger nas redes:

NOTÍCIAS DO BEM – Quais os principais tipos de ataques virtuais que existem?
JOÃO MARCELO RONDINA  Os ataques são feitos principalmente pelo celular, que burla o controle parental, no caso de crianças e adolescentes, e pelo computador. São quatro tipos principais: escrita-verbal que consiste em ligações telefônicas, mensagens de texto e e-mails, visual que consiste em divulgar imagens constrangedoras e/ou fotos, representação, que é mais sofisticado e ocorre quando o agressor assume a identidade da vítima e usa a sua conta online para divulgar informações falsas sobre ela, exclusão quando a vítima é excluída  deliberadamente de um grupo online.

NB – Há alguma explicação geral do motivo do bullying virtual acontecer?

JMR – As pesquisas indicam que o anonimato que a internet proporciona é o principal fator que propicia o bullying virtual. No bullying tradicional com as agressões físicas e verbais, tanto à vítima quanto às pessoas ao redor como pais, professores e amigos sabem quem é o agressor e ele se torna mais vulnerável a uma eventual punição. A vítima por sua vez sabe quem a agride e pode voltar seu processo de superação, ou luto ou raiva a um alvo específico. No mundo virtual o agressor se sente inatingível e mais encorajado pelo anonimato, tem mais recursos e liberdade de ação, enquanto a vítima está mais vulnerável porque além de não saber quem é o agressor,  não há hora nem lugar para as agressões ocorrerem, todos eu tem acesso a internet podem ter conhecimento das agressões e uma vez que elas estão na rede, é muito difícil tirá-las do conhecimento público.

NB – Existe algum perfil característico das pessoas que praticam o Bullying?

JMR – Não há um consenso na literatura científica sobre a questão do gênero no qual se encaixam os envolvidos no cyberbullying tanto vítimas quanto agressores. Quanto à idade ele é mais frequente na idade escolar e começa cada vez mais cedo à medida que as crianças estão dominando as tecnologias e as mídias sociais, cada vez mais novas, variando do ensino fundamental até o ensino médio ou superior. Segundo a psicanálise o agressor é antes de tudo, um sádico e um inseguro. Sádico porque exerce a violência sobre outra pessoa como se ela fosse um objeto, inseguro porque depende da vítima para se afirmar e sentir-se seguro, se identifica com o agredido e necessita da vítima para que possa ser reconhecido.

NB – E em relação a quem sofre o bullying?

JMR – Quanto ao  sexo é o mesmo que para agressores. Evidências sugerem que a vítima adolescente tende a continuar sendo vítima na fase de adulto, jovem, ou seja, uma vítima de bullying tende a se tornar vítima de cyberbullying, o qual persiste mesmo após a adolescência e aproximadamente um em cada quatro adultos tem experimentado abuso online ou conhece alguém que sofre com isso. Em relação ao perfil psicológico as vítimas de bullying tradicional tendem a extravasar sua raiva praticando cyberbullying como forma de defesa, mas no geral o perfil das cybervítimas não é de agressividade, o que sugere que sua tendência à solidão se deve a experiências ruins que tiveram entre pares, a maioria delas vem de família monoparental, sofre com a violência familiar e/ou manifesta efeitos psicossomáticos como distúrbios gastrointestinais, perda de peso, queda de cabelo e outros efeitos do stress profundo ao qual são submetidas.

NB – Há maneiras de prevenir o cyberbullying?

JMR – Sim. A principal delas é a educação das crianças e adolescentes quanto as regras de bom convívio online, a “netiqueta” ( etiqueta da internet), sensibilizá-los para que percebam a gravidade das consequências para uma vítima que um simples ”like” ou compartilhamento de um post ofensivo podem acarretar, porque as testemunhas no cyberbullying perpetuam a agressão e o sofrimento da vítima mesmo sem saberem quem ela é ou sem terem a intenção de fazê-lo e isso é muito grave. O tratamento psicológico de vitimas e agressores também é uma forma de prevenção para que eles não pratiquem mais o cyberbullying e não tenham mais seguidores. Além disso é muito importante o envolvimento de pais, que precisam monitorar a atividade online praticada por seus filhos, professores e profissionais de saúde, que tem que estar atentos aos sinais de isolamento ou stress profundo das vítimas.

NB – Para quem está sofrendo com o bullying virtual, qual a melhor maneira de agir?

JMR – Contar a um adulto. Seja ele pai, mãe, professor, pediatra, psicólogo. Conte a alguém! O maior medo das vítimas é contar pra alguém e serem desacreditadas ao terem restrições com relação ao uso da internet e das mídias sociais, mas muitas vezes ele não enxerga uma saída sozinha e acaba sucumbindo ao stress e ao sofrimento. Lembre-se que as pessoas só podem ajudar quando elas sabem que o problema está ocorrendo, então conte a alguém.

NB – Há uma incidência muito grande de adolescentes que sofrem e praticam cyberbullying. Qual o papel dos pais em relação a isso? Como os pais devem agir e como saber se seu filho está sofrendo ou praticando bullying pela internet?

JMR – Os pais tem que monitorar a atividade online dos filhos, saber quem são os amigos, com quem ele conversa pela internet, seja amigo do seu filho no facebook, siga ele no twitter, veja o que ele curte, o que ele compartilha e o mais importante converse com ele sobre isso. Os sinais que as vítimas costumam dar são de isolamento social e sintomas psicossomáticos de stress profundo, converse com seu filho, pergunte se algo o incomoda, insista, pergunte se ele sofre algum tipo de agressão online, não banalize nem ignore as suas queixas, porque o que para você parece bobo e inofensivo para ele pode ser algo muito complexo de lidar e causar sofrimento excessivo.

NB – Legalmente, há como se proteger do cyberbullying?

JMR – No Brasil hoje temos a recente lei, sancionada em novembro de 2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, a qual inclui bullying e cyberbullying, com o objetivo de dar assistência psicológica, social e jurídica a vítimas e agressores, além de promover a empatia e a cidadania, capacitando docentes, equipes pedagógicas, pai e familiares para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema e para a disseminação campanhas de educação, conscientização e informação. É uma lei de fato muito recente e não sabemos muitas informações sobre sua efetividade ainda. Temos ainda a LEI Nº 12.737/2012 que trata como crime virtual a invasão de computadores alheios ou redes de bancos, banco de dados, alterando, furtando dados e/ou apagando informações e arquivos, bem como a falsificação cartões de debito e credito.

NB – Qual o papel da mídia em relação ao cyberbullying?

JMR – A mídia deveria divulgar informações sobre prevenção, sobre a importância de pais, professores detectarem vítimas e agressores, e principalmente sobre o papel das testemunhas, conscientizar a população de que compartilhar um post, vídeo ou mensagem ofensiva é agredir a vítima repetidamente e prejudicá-la.

NB – Qual a mensagem que você deixaria para as pessoas que praticam bullying?

JMR – Tentem pensar  em como seria se alguém fizesse isso com você, com seu irmão, seu primo ou algum  ente querido e isso o fizesse ser infeliz consigo mesmo. Como você se sentiria, como a família dessa pessoa se sentiria? Para você parece besteira, mas para o seu alvo nunca será.

NB – Qual a mensagem que você deixaria para as pessoas que sofrem bullying?
JMR –
Procurem ajuda, contem a alguém que você confie, conte a seus pais, não fique tentando resolver isso sozinho ou achando que não vale a pena reagir e lutar contra isso, você não é o único a sofres disso e isso pode ter fim, mas a solução começa quando as pessoas sabem o que está acontecendo.

NB – Qual seria a “Notícia do Bem” que você gostaria de ver estampada nas mídias sobre o tema?

JMR – Campanha online de prevenção ao cyberbullying é o post mais compartilhado da internet. Compartilhamos tantas coisas inúteis todos os dias, que seria bom ver a comunidade online se mobilizando e usando o poderoso potencial de informação e educação que a internet tem para combater um mal amplamente veiculado por ela mesma.

Colabore na divulgação dessas informações, compartilhe a matéria em sua rede social e faça a “Notícia do Bem” de João Marcelo se tornar realidade. Quem sabe você não consiga também ajudar algum conhecido, amigo e até mesmo um familiar próximo que possa estar passando por essa situação #todoscontraocyberbullying!

Reportagem: Thais Alves / Notícias do Bem

Fotos: Ricardo Boni / Notícias do Bem

21/11/2016

21/11/2016 12:34

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