Professor do Ibilce indica livros para quem quer conhecer Clarice Lispector

Escritora é tema do filme ‘A Descoberta do Mundo’, que encerrou a última edição da Festa Literária de Paraty

Uma seleção de depoimentos inéditos de Clarice Lispector (1920-1977) dá vida ao filme “A Descoberta do Mundo”, cuja pré-estreia deu-se no último domingo (27), no encerramento da 20ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Dirigido por Taciana Oliveira, o filme leva o mesmo nome de um dos livros da escritora.

“A Descoberta do Mundo”, mergulha na intimidade da escritora abordando aspectos pouco explorados da sua personalidade e da sua história, contada a partir de duas narrativas cinematográficas que deslizam de forma paralela: a narrativa das imagens e a do texto.

Clarice é uma personagem que oferece mil possibilidades de decifração, todas verossímeis. E a diretora opta por sequências marcadas pelo feminino, no que ele guarda de delicadeza e força e oferece aos espectadores uma descoberta interior do mundo da escritora: a narrativa da menina refugiada, paixões e desilusões, tragédias que marcaram o corpo.


Para ler Clarice
A convite do Notícias do Bem, André Gomes, professor do curso de Letras e Tradução do Ibilce/Unesp, de São José do Rio Preto, e um dos idealizadores do pocast literário Horas Malditas, indica e comenta cinco livros para quem quer mergulhar no universo de Clarice Lispector:

1) Perto do coração selvagem (1943)
Primeira publicação da escritora, o romance narra a trajetória de Joana em busca de uma compreensão de si e seu embate com os que a cercam. Escrito de modo não-linear, o texto apresenta uma série de inovações estéticas no romance brasileiro, a exemplo do fluxo de consciência.

2) A paixão segundo G.H. (1964)
Constituído como testemunho de uma narradora-protagonista, o romance narra a experiência dessa narradora, G.H., uma mulher burguesa, escultora e moradora de um apartamento de cobertura que, ao demitir sua emprega, acredita que o espaço que esta ocupava na casa precisava de limpeza e tem uma surpresa ao notar um quarto branco e limpo, o que a faz entrar num estado de epifania em que descobre a realidade como artificial e o real como a estrutura indizível.

3) Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres (1969)
Um texto marcadamente experimental, O livro dos prazeres, mescla elementos de romances femininos de banca de jornal com aspectos presentes na filosofia, na psicologia. O romance narra o encontro e a proposição por Ulisses a Lóri – ambos protagonistas – de uma aprendizagem amorosa, daí a presença, na narrativa, da clicheria romântica e do kitsch.

4) Laços de família (1960)
Conjunto de contos publicados no início dos anos 1960, Laços de família se caracteriza pela inovação na produção de contos no Brasil. Personagens em estado de alerta epifânico vivem experiências de corte da realidade e de reentrada nelas. Destaques para os contos “Amor”, “A imitação da rosa”, “A menor mulher do mundo” e “O búfulo”.

5) A via crucis do corpo (1973)
Conjunto de contos que tematizam a sexualidade e as problemáticas morais construídas em torno dela, A via crucis foi alvo de críticas de uma série de estudiosos, aos quais Clarice responde em sua explicação inicial: “Mas há hora para tudo. Há também a hora do lixo”. Destaques para os contos “Miss Algrave”, “O corpo”, “Ele me bebeu” e “Ruído de passos”.

Bônus

1) A maçã no escuro (1960)
Escrito entre meados dos anos 1940, finalizado em 1956 e publicado somente em 1960, A maçã no escuro é um dos romances mais longos de Clarice. Martim – o primeiro protagonista homem da escritora – tenta matar a esposa e foge para o campo, onde passa a trabalhar numa fazenda, estabelecendo relações tensas com duas mulheres: Vitória, a fazendeira, Ermelinda, prima da fazendeira e amante do desconhecido. O romance tematiza o fracasso, afinal, Martim acaba descobrindo que não havia matado a mulher. Além disso, o homem fracassa ainda na sua tentativa de construir uma linguagem própria. Destaque para o diálogo final carregado de clichês entre o homem e o seu “criador”.

2) A legião estrangeira (1964)
Coletânea de treze contos publicados em 1964, A legião estrangeira, assim como A paixão segundo G.H., ocupa um lugar central nas novas inflexões que Clarice dá a sua obra a partir de 1964. Além dos contos, o livro portava uma sessão de escritos livres, experiências inacabadas e experimentações denominada pela própria escritora “Fundo de gaveta” e que tinha como introdução a afirmação “Por que publicar o que não presta? Porque o que presta também não presta”. Infelizmente a ganância dos herdeiros e das editoras desfigurou a publicação, retirando o “Fundo de gaveta”. Destaques para os contos “Os desastres de Sofia”, “Os obedientes”, “A legião estrangeira” e para a crônica “Mineirinho”.

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