Projeto discute o conceito da masculinidade na educação de meninos

POR DETRÁS DA MÁSCARA

Projeto discute o conceito da masculinidade na educação de meninos

“Seja homem, essas são as palavras mais destrutivas que todo homem escuta quando garoto”, é o que diz o técnico da Liga Nacional de Futebol Americano, Joe Ehrmann, no documentário americano “The Mask You Live In” (na tradução literal “A Máscara em que você vive”) que apresenta uma análise sobre as expectativas sociais que cercam o conceito de masculinidade e a educação de meninos nos Estados Unidos.

Não seja covarde! Homem não chora! Pare de agir como mulherzinha! Resolva seus problemas como homem! A maioria dos meninos cresceu ouvindo – seja no meio familiar, pela boca dos pais e parentes, no círculo de amigos ou até mesmo em cena de filmes – essas e outras tantas frases que colocam à prova, a todo o momento, a masculinidade dos garotos. “Os meninos crescem acreditando em uma cultura que não valoriza o que é ‘feminizado’”, ressalta a educadora e psicóloga americana, Nlobe Way, em uma das entrevistas do documentário.

“The Mask You Live In” – escrito, dirigido e produzido por Jennifer Siebel Newsom – mostra alguns dados alarmantes da realidade norte americana como: “todos os dias, três garotos cometem suicido nos Estados Unidos…”, uma verdade triste que precisa ser discutida e transformada.

Uma das vertentes apresentada é que com a imposição da “masculinidade” tudo que é sentimental demais, seja falar de sentimentos, do que pensa, demonstrar algum tipo de afeto, fragilidade, ou mesmo reagir e se socializar de uma maneira que “não é esperada como atitude de homem”, se torna “coisa de menininha” e não aceitável na roda de meninos. Isso faz com que os meninos na adolescência, por exemplo, não tenham com quem se expressar verdadeiramente. Mesmo com aquele amigo mais próximo fica difícil falar sobre seus medos e sentimentos, afinal o “homem que é homem precisa ser contido, não pode expor suas fragilidades”, “ele precisa se impor”, é o que a cultura da masculinidade prega de forma indireta e muitas vezes diretamente.

E as questões abordadas, envolvendo masculinidade, nada tem haver com orientação sexual, muito longe disso. A reflexão é sobre a pressão de ter nascido menino, o que isso representa em uma sociedade enraizada em pensamentos machistas. O que quer dizer “ser homem” em nossa sociedade?

O medo do bullying, da não aceitação, de ser diferente, paralisa e muitas vezes afeta profundamente o menino como ser humano, reprimindo sentimentos, sensações e o ser que ele realmente é. “Se estamos em uma cultura que não valoriza o carinho, não valoriza os relacionamentos, não valoriza a empatia, nós teremos garotos e garotas, homens e meninas enlouquecendo”, analisa a educadora no documentário

Esse tipo de educação também coloca a mulher em uma condição inferior, afinal “ser mulherzinha” é usado pejorativamente para adjetivar uma fragilidade, influenciando negativamente até mesmo na maneira desses meninos lidarem com a figura feminina, seja ela a esposa, a colega de trabalho ou em outras relações sociais.

O nome do documentário A Máscara em que você vive já é uma crítica dura a tudo isso. Mas a frase do escritor George Orwell (autor de livros como 1984 e a Revolução dos Bichos) citada na filmagem vai mais além e em uma constatação nos provoca: “he wears a mask and his face grows to fit it.” na tradução literal ele usa uma máscara e seu rosto cresce moldado nela”. Que máscara é essa que os nossos meninos estão sendo moldados? Quando seremos realmente livres de qualquer máscara social?

O documentário traz à tona um recorte sobre a cultura da masculinidade nos Estados Unidos e o quanto isso afeta toda a sociedade. Uma realidade que não está distante de tantos outros países, nem de nós.

Uma constatação feliz é que percebemos que muitos pais e mães, dessa nova geração, têm mudado o jeito de lidar com a educação de meninos, muitas vezes quebrando o ciclo que era passado de geração a geração, no que diz respeito a essa diferenciação e negação de sentimentos e fragilidade. Mas com certeza ainda há muito que ser feito…

Homens e mulheres são diferentes em muitas coisas por sua própria natureza, mas ambos são seres humanos que pensam, sentem e precisam encontrar um meio de expressar  positivamente o que realmente são, sem amarras, nem convenções que os impeçam de ser.

Lançado nos Estados Unidos em 2015, o “The Mask You Live In” já está disponível no Brasil pelo Netflix, com legenda.  O documentário faz parte do “The Representation Project”, um projeto que tem como missão inspirar indivíduos e comunidades para desafiar e superar os estereótipos limitantes para que todos, independentemente do sexo, raça, classe, idade, orientação sexual, ou circunstância, possam desenvolver, plenamente, o seu potencial humano. A ideia do projeto é usar filmes como catalisadores para a transformação cultural.

Fica o convite a todos de assistirem ao documentário, como uma forma de nos enxergamos no meio dessa condição e o nosso papel como causador de mudanças.

Reportagem: Thais Alves / Notícias do Bem

11/07/2016

10/07/2016 21:49

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