Uma noite tranquila de sono é fundamental para o bom funcionamento do organismo. O sono é responsável pelo descanso da mente, da musculatura, da respiração e do coração. No entanto, são muitas as pessoas que acordam cansadas como se não tivessem dormido o suficiente, ficando sem disposição para suas atividades cotidianas.
O otorrinolaringologista Fábio Azevedo Caparroz, do Hospital de Otorrino e Especialidades de São José do Rio Preto (Hiorp), alerta que a sensação de sonolência e a falta de disposição durante o dia podem ser indicadores de apneia obstrutiva do sono.
A apneia do sono é uma condição clínica na qual obstruções repetitivas da garganta ocorrem durante o sono, gerando apneias (pausas respiratórias de no mínimo 10 segundos) e ou hipopneias recorrentes (quase apneias). Isso ocorre porque a garganta é estreita e, ao dormir, a pessoa relaxa a musculatura, ocasionando a queda da língua e o deslocamento posterior da mandíbula, o que pode impedir a passagem do ar (apneia).
Segundo o médico do Hiorp, a obstrução repetitiva, parcial ou completa das vias aéreas superiores provocam uma fragmentação do sono, com vários despertares noturnos, além da dessaturação da oxiemoglobina, ou seja, os níveis de oxigênio no sangue diminuem devido a essas pausas respiratórias.
Os sinais da apneia
Entre os sintomas de apneia obstrutiva do sono Caparroz destaca os roncos, os episódios de pausas respiratórias, sonolência excessiva durante o dia, sensação de sono não reparador (a pessoa acorda cansada mesmo tendo dormido por 8 horas), fadiga durante o dia, necessidade de urinar por mais de duas vezes à noite e até problemas de memória.
“A apneia obstrutiva do sono afeta diretamente na disposição da pessoa para o dia a dia. Se não for tratada, ela pode aumentar os riscos de problemas cardiovasculares, como arritmias, acidente vascular cerebral (AVC) e até infarto. Estudos científicos recentes relacionam a apneia ao prejuízo da memória e do sistema cognitivo. Ou seja, ela pode predispor doenças neurodegenerativas como o Alzheimer”, comenta o otorrino do Hiorp.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia alerta que a apneia do sono é um grave problema de saúde pública, com dados de prevalência bastante expressivos. Em estudo feito na cidade de São Paulo, 26% dos motoristas de caminhão tinham alto risco de ter apneia do sono e a maioria admitiu que já tinha cochilado no volante. Em outro estudo também na capital paulista, 32,8% da população geral tinha apneia do sono. Em grupos de risco, como, as pessoas obesas e hipertensas, a prevalência de apneia do sono pode ser ainda maior.
Diagnóstico e tratamento
Segundo o otorrino do Hiorp, a polissonografia é o exame mais comum para o diagnóstico da apneia obstrutiva do sono. Trata-se do monitoramento do sono do paciente em laboratório, com o acompanhamento de cada etapa desse processo. “Esse exame também pode ser feito de forma domiciliar, com uso de equipamento portátil. Em casos mais graves, também é possível um monitoramento cardiorrespiratório”, sinaliza.
Já o tratamento da apneia obstrutiva do sono pode ser feito por meio de tecnologias de saúde ou cirurgia, que atualmente estão menos invasivas e mais eficazes. Entre as tecnologias a mais indicado pelos médicos é o CPAP, ou ventilação mecânica não invasiva com pressão positiva.
O CPAP é um aparelho que produz uma pressão positiva e constante do ar para as vias respiratórias, impedindo que se fechem e permitindo um melhor fluxo de ar do nariz ou da boca até os pulmões. “Hoje, esses aparelhos diminuíram de tamanho e estão mais modernos e mais silenciosos, proporcionando mais conforto ao paciente. O médico consegue acompanhar os relatórios do sono de forma remota, via celular, e até mesmo o paciente consegue ter um feedback mais rápido de sua evolução no tratamento.”
Também há o aparelho de protusão intraoral, indicado para os casos mais leves de apneia obstrutiva do sono. Ele trabalha com a protusão (avanço) e manutenção da posição mandibular ou lingual, buscando a abertura do espaço aéreo e o afastamento dos tecidos da garganta para liberar a passagem de ar. “São aparelhos confeccionados e adaptados por dentistas especializados”, informa Caparroz.
O otorrino do Hiorp ainda destaca a estimulação elétrica do nervo hipoglosso, o que há de mais atual no tratamento da apneia obstrutiva do sono. No entanto, ele ainda não é realizado no Brasil, dependendo da aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “É como se fosse um marcapasso que estimula a protusão da língua em casos de apneia do sono. Os resultados são bastante satisfatórios em outros países”, comenta.