Com pouca adesão, vacinação contra Pólio é prorrogada em Rio Preto

Dados divulgados pela OMS apontam a maior queda nas vacinações infantis dos últimos 30 anos

Doença que foi praticamente erradicada graças à ciência e à união da sociedade civil, a Poliomielite volta a ser considerada uma ameaça devido à baixa adesão à vacina, cuja eficácia é historicamente comprovada.

Em Rio Preto, a Secretaria da Saúde prorrogou as campanhas contra Poliomielite e de Multivacinação para o dia 30 de setembro. O motivo: até agora menos de 50% do público – crianças de até 5 anos – ainda não foi vacinado.

No Estado, foram vacinados 3,7 milhões de crianças contra a Poliomielite, com cobertura vacinal de 32,5%. Já para a campanha de multivacinação, foram vacinadas 537.252 pessoas em um total de 1.032.891 doses aplicadas.

Novas velhas doenças

Dados divulgados em julho pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), relatam a maior queda nas vacinações infantis dos últimos 30 anos, principalmente nos dois últimos anos de Pandemia da covid-19. O Brasil está entre os dez países com a maior quantidade de crianças com o calendário vacinal atrasado, com cerca de 25 milhões de crianças não vacinadas.  

As principais causas apontadas pela pesquisa revelam que os motivos foram, além da pandemia de covid-19, o empobrecimento das populações, o êxodo forçado de várias crianças de seus locais de origem e a desinformação sobre a importância da vacinação para a saúde infantil. A entidades alertam que a queda na cobertura vacinal aumenta o risco o risco das crianças.

A docente da faculdade de medicina da Estácio, vinculada ao Instituto de Educação Médica (IDOMED), Silvia Nunes Szente Fonseca, que é médica infectologista e epidemiologista, especialista em infectologia e pediatria, alerta sobre os riscos do retorno de doenças que já foram extintas no Brasil. “Eu costumo dizer que as vacinas se tornaram vítimas do seu próprio sucesso, pois as pessoas se esqueceram das doenças que somente as vacinas previnem. Muitas pessoas nunca viram Poliomielite, Paralisia Infantil ou a Tosse Comprida. Essas infecções ainda existem no mundo e são evitadas com uma vacina simples”, alerta.

Um exemplo é o Sarampo. O Brasil ganhou reconhecimento pelo controle do Sarampo em 2016 e 2017, mas em 2018 aconteceu um grande surto que atingiu mais de 18 mil pessoas. Em 2019, o surto causou 35 mortes de crianças pela falta de vacinação. “É uma doença horrível e o crescimento do desemprego, a dificuldade na aquisição de alimentos e o aumento de crianças desnutridas são alvos fáceis para a enfermidade, que nos casos mais graves, pode causar até cegueira”, alerta a especialista do IDOMED.

A vacinação infantil é altamente eficaz no controle de diversas doenças e com a queda nos índices de vacinação, diferentes doenças severas podem voltar ao País. Outra preocupação dos órgãos de saúde é o risco real de voltar a Poliomielite ou Paralisia Infantil “Depois de muitos anos que a Poliomielite. estava praticamente erradicada, ativa somente na região do Afeganistão e Paquistão endemicamente, voltamos a ter notícias sobre ela. Este ano, em março, tivemos casos de Poliomielite selvagem no Malaui e em Israel”, ressalta.

No caso da covid-19, a médica lembra que a vacinação reduziu as mortes e as contaminações, mas o vírus é resistente e a variante Omicron B é muito transmissível.  “A covid afetou pouco as crianças no início da pandemia, mas agora, elas estão sendo afetadas em grandes quantidades. Liberamos a vacinação contra a covid para crianças de 3 e 4 anos, felizmente isso se mostrou muito eficaz no Chile, por exemplo, onde vacinaram cerca de 3 mil crianças”, explica.

A docente da faculdade de medicina da Estácio, vinculada ao Instituto de Educação Médica (IDOMED), Silvia Nunes Szente Fonseca,

Para reverter esse quadro preocupante, somente a vacinação em massa pode ajudar, explica a especialista. “Temos que olhar o problema de muitos ângulos. Nós estamos em uma grande crise econômica, nossa população está sofrendo muito e a vacina deixou de ser prioridade para os pais. Os postos de saúde precisam ter mais flexibilidade nos horários e abrir aos finais de semana, além de ampliar cada vez mais a campanha vacinal.”

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