Espisódio 1: Fé, setas, suor, dores e encontros

Minha peregrinação teve início no dia 04 de junho deste ano. 

Edivaldo no ponto de saída na Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida em São José do Rio Preto

Bem cedinho, às 6h, familiares e amigos já estavam em frente a Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida para me desejarem boa sorte durante a jornada que estava prestes a começar. Meus pais caminharam comigo até a Represa Municipal, e de lá, segui rumo a Cedral, passando pelo distrito de Engenheiro Schmitt, com meu amigo Alex Angelino, que por acaso também é meu dentista.

Chegando em Cedral, a primeira surpresa para um peregrino iniciante, não tinha quarto no único hotel da cidade. Então, minha esposa me buscou e fui dormir a primeira noite em casa.

Vídeo do primeiro dia – https://youtu.be/6X_l0Z3pWr0

No outro dia, ela me levou até à Igreja de São Luíz Gonzaga,de onde parti para Potirendaba, começando minha caminhada solo (porém, sozinho nunca!). A presença de Nossa Senhora Aparecida e do meu Anjo de Guarda foi intensa, constante e importante. A caminhada foi tranquila, mas quando me ofereceram água no Caminho, deveria ter aceitado, já que antes de chegar no meu destino, minha água acabou. A cada trecho vamos adquirindo novos aprendizados.

Vídeo do segundo dia – https://youtu.be/4-APVDrqXE0

Terceiro dia de viagem, caminho para Ibirá.

No terceiro dia no Caminho da Fé, levantei às 5h e tomei café na padaria, pois o café no hotel só é servido a partir das 6h30 e queria aproveitar para seguir minha jornada. Peguei minha mochila no hotel, minhas garrafinhas com água, duas delas congeladas e segui para Ibirá. Uma dica para quem quer fazer esta peregrinação é redobrar a atenção para não perder nenhuma seta amarela, pois elas que nos indicam o caminho. Mesmo assim, eu me confundi, e contei com a ajuda dos amigos de um grupo de peregrinos no WhatsApp, voltando rápido para o meu trajeto. Depois de andar por um trecho, mais uma surpresa, parte do solado de minha bota descolou, mas havia levado supercola, colei o solado e voltei a caminhar. Cheguei em Ibirá por volta das 14h, fui para o hotel e percebi que as primeiras bolhas surgiram, mas nada de tão preocupante. Como a igreja de São Sebastião estava fechada, não fui assistir à missa, comi um pastel que parecia uma pizza e fui dormir.

as setas que nos guiam

Vídeo do terceiro dia – https://youtu.be/hmoFNelYnYc

No quarto dia, tomo café no hotel e saio de frente a igreja de São Sebastião às 7h05, rumo a Urupês. Já nas proximidades da saída da cidade, ouço uma voz me chamar e sinto o primeiro sentimento de peregrino quando uma senhora me pergunta se quero tomar café. O trecho entre Ibirá e Urupês é relativamente curto. Apesar do sol quente, uma brisa fresca me acompanha por todo o trecho e vai levando meus passos. Chego na praça em frente a igreja Matriz de São Lourenço às 12h15 e me informei onde é o restaurante e a pousada. Após rever o interior da linda igreja, pois já a conhecia há alguns anos, sigo para almoçar. Ainda tenho que caminhar alguns quilômetros, o restaurante e a pousada ficam no Caminho da Fé, mas afastados do centro da cidade. Quando terminei minha refeição, uma feliz surpresa, a Ramielle Campos, uma moça que trabalha no restaurante, paga meu almoço, um gesto de carinho na minha perigrinação. 

Quarto dia, caminho para Urupês.

De lá, sigo para a pousada. Quando chego ao quarto onde ficarei hospedado, tiro a bota para dar um alívio aos pés. A pele da bolha havia rasgado. Descobri a causa da dor insuportável que sentia. Mesmo assim, separei as roupas do dia para lavar; pois tem que secar até o próximo dia pela manhã, essa rotina faz parte da jornada.

Vídeo do quarto dia – https://youtu.be/z8ie9aSlkJI

Quinto dia, o chão do lado de fora do quarto amanheceu molhado. Parece que choveu durante à noite. As roupas não secaram como era o esperado, o que obrigatoriamente me fez refletir sobre as bolhas nos pés. Já pensei: pode ser um sinal. Diante disso, tirei o dia para descansar e cuidar dos machucados com as várias dicas que recebi de amigos e estar pronto no dia seguinte para uma pernada mais longa, 38 quilômetros rumo à Novo Horizonte.

Vídeo do quinto dia – https://youtu.be/Le_B5M6wpC4

No sexto dia, Edivaldo e Ozair almoçam
juntos na estrada

No sexto dia, pulo da cama às 4h30. Nesse horário, não tem café da manhã, então saio da pousada às 4h50. Ainda bem escuro, mas enquanto estou dentro da cidade e a iluminação pública não deixou eu perceber o que estava por vir. Na zona rural, a única luz que tinha era da minha lanterna. Nessa hora, entendi as histórias que ouvia de meus pais e meus avós, mas segui firme andando devagar, por causa das bolhas nos pés, e com o medo de perder alguma seta amarela. Depois da tensão, lembrei que nesse dia meu amigo Ozair ficou de me encontrar para almoçarmos juntos. O Ozair é um antigo amigo que está trabalhando na assessoria de imprensa do Grêmio Novorizontino e fez o Caminho da Fé no ano passado (essa é a playlist do canal dele https://www.youtube.com/playlist?list=PLwWcgynDRxKH69BtKfkdCt-_EotFAruXY ), sentindo na pele os perrengues que eu estava passando naquele momento. Como eu disse, o trecho entre Urupês e Novo Horizonte é o mais longo do Ramal São José, por isso sempre há alguém para levar almoço ao peregrino que faz este trecho a pé. Nesse caso, dispensei o marmitex que o Juninho, outro peregrino,  que tem uma propriedade rural por onde o Caminho passa, ia me levar. Por volta das 13h10 o amigo Ozair me encontra, almoçamos juntos com a companhia do Juninho, que não levou o rango, mas foi até lá papear. De barriga cheia e ânimo recuperado, segui para a segunda parte do trajeto. O dia estava nublado, o que ajudou muito na caminhada, mas os pés estavam bem machucados por causa das bolhas. Resultado, um dia super exaustivo. Se tivesse sol, acho que teria chegado em Novo Horizonte somente à noite.

Chegada em Borborema. Foto Marciana Lopes

Cheguei na cidade, acredito que por volta das 17h (não sei corretamente o horário porque a bateria do celular esgotou). Começando a circular pelas ruas, logo que consegui, sentei no meio fio para descansar. Foi quando uma senhora parou o carro ao meu lado e veio conversar comigo me perguntando se eu era peregrino. Falou um pouco sobre sua vida e o milagre do nascimento de sua última filha e até pediu para tirar uma foto comigo. Cheguei ao hotel já estava começando a escurecer, nesse dia consegui ir à missa na igreja de São José, fui comer um lanche com o amigo Ozair e tentamos comprar Rifocina na farmácia. Dica de peregrino: Rifocina é um santo remédio para secar as bolhas que já foram drenadas. Mas não tive sucesso, o farmacêutico não vendia o medicamento sem receita médica.

Então, bora dormir, porque no outro dia o destino é Borborema.

Vídeo do sexto dia – https://youtu.be/cYtA6Fx9GZg

No sétimo dia, após tomar café no hotel, saio de frente a igreja de São José às 6h55. Após um longo trecho de asfalto entre as ruas da cidade e alguns quilômetros de estrada vicinal, volto para a estrada de terra. Aquele dia, o tempo estava novamente nublado, mas enfrentei um grande trecho de poeira. A região, como quase todo estado de São Paulo, é tomado por canaviais, mas para minha sorte estava havendo colheita. Eu não contei, mas sem dúvida nenhuma passou mais de 30 carretas por mim. E cada uma que passava, uma nuvem de poeira se levantava. Na segunda metade do caminho, encontro novamente meu amigo Ozair, que foi me levar almoço e o medicamento Rifocina, que foi doado pelo departamento médico do Grêmio de Novo Horizonte. Quando chego em Borborema, sou recepcionado pela amiga Marciana Lopes, peregrina experiente que foi me buscar e me deu hospedagem lá no Caminho Caipira.

Edivaldo na companhia de Marciana e Márcio antes de seguir para Itápolis.

Vídeo do Sétimo dia – https://youtu.be/Fr3eb-gnSJQ

No oitavo dia de minha peregrinação, decido usufruir da hospitalidade da Marciana e descanso mais um dia para zerar definitivamente as bolhas. Depois de ser convencido pela Marciana, deixo a bota de lado e passo a usar o tênis. Ah, já estava me esquecendo, houve um acidente no trecho entre Novo Horizonte e Borborema. Quando o Ozair me levou o almoço, precisou liberar a estrada para dar caminho a um trator. Na hora em que afastou o carro passou por cima do cajado. Mas o Ozair tem crédito de sobra e a Marciana me presenteou com um novo cajado. A partir de Borborema, sigo de cajado novo e na certeza de que os amigos que estão pelo Caminho são essenciais para seguirmos nossa jornada.

Vídeo do oitavo dia – https://youtu.be/BH5zpBQewVk

inspiração para seguir em frente

No dia número nove, acordo às 5h15, rumo à Itápolis. Tomo café na companhia da amiga Marciana, que cozinha e embrulha três ovos caipira para eu levar. Às 6h30, já estávamos em frente ao Monumento do Peregrino que fica na praça da igreja Matriz de São Sebastião. Ali, também estava o amigo Márcio que me presenteou com uma toalhinha do Ramal Centro Paulista. Fizemos uma foto e a Marciana me acompanhou (em seu carro) até a saída da cidade onde, há uma escrita no chão com uma seta amarela. Neste local, todos fazem um registro fotográfico. Depois de caminhar por vários quilômetros e comi os ovos caipiras. Era domingo e no caminho, vários carros passaram por mim. Todos indo para algum encontro. Mas o melhor foi no km 772, quando o Paulo, que estava andando de bike, me encontrou. Ele, que só me conhecia através do canal Expedição 19, ligou para a Silvana, mulher dele, e almoçou comigo bem antes de chegar em Itápolis. Preciso dizer mais alguma coisa? Naquele dia ganhei mais dois novos amigos. O Paulo e a Silvana foram os anjos que me presentearam com um almoço e ótima companhia. Mas, infelizmente, uma canelite braba me atacou. Canelite é uma inflamação nos tendões, músculos e no próprio osso tibial. De modo geral, a canelite é causada por um uso excessivo da canela e é relativamente comum em atletas que treinam de forma intensa. No meu caso, a caminhada. Mas conto mais na próxima semana. Até lá, se Deus quiser.

Vídeo do nono dia – https://youtu.be/_49m5fC3Iqc


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