EPISÓDIO 3: entre descidas e subidas, monumentos, Nossa Senhora, frio e água benta

Santuário de Nossa Senhora Aparecida da Babilônia.

As bolhas ainda machucam, então arrisco quebrar o trecho entre São Carlos e Descalvado.

No vigésimo primeiro dia, saio de frente à Catedral de São Carlos Borromeu às 7h30. Infelizmente, a igreja estava fechada, então não pude conhecê-la. 

Na realidade deveria ter saído bem mais cedo, porque o percurso até a próxima cidade, Descalvado, é bastante longo (44 km), no entanto como o dia anterior foi muito cansativo, acabei acordando mais tarde.

Tempos atrás, fiquei sabendo pelo amigo Ozair Júnior, que entre São Carlos e Descalvado, tem o Santuário de Nossa Senhora Aparecida da Babilônia. No ano passado, ele passou por lá quando fez o Caminho. Ali estava depositada minha esperança, pois se não conseguisse pernoitar por ali, provavelmente só conseguiria chegar em Descalvado à noite.

E deu certo. Graças a Deus e ao padre Everton Luchesi, reitor do Santuário, pude descansar o restante do dia e dormir na casa da dona Isabel e do seo José, caseiros do Santuário que me acolheram em sua residência.

Vídeo do vigésimo primeiro dia – https://youtu.be/XAQt80MsY4c

Os caseiros do Santuário, dona Isabel e do seo José

No vigésimo segundo dia acordo revigorado. As bolhas ainda incomodam, mas depois de tomar café da manhã na casa da dona Isabel e do seo José, sigo rumo a Descalvado. Agora, o trecho diminuiu 13 quilômetros, além disso a dona Isabel me deu umas frutas para trazer na bagagem, meu almoço está garantido.

Meu amigo bicigrino Fred, havia comentado que a estrada que segue até Descalvado é super arborizada e, com isso, grande parte do trecho é feito à sombra.

Como é sábado, encontro alguns ciclistas que também desfrutam da bela estrada.

Chego no hotel em Descalvado, por volta das 16h, ainda consegui lavar a roupa e ir à missa. Amanhã, sigo rumo à Porto Ferreira. Serão 18km.

Vídeo do vigésimo segundo dia – https://youtu.be/qDjDhq3mX3M

Estátua de Santa Rita no caminho, proteção para os peregrinos.

No vigésimo quarto dia, saio de frente à igreja de São Sebastião, por volta das 7h20. Hoje, é segunda- feira, então o movimento nas ruas é bastante intenso,  neste horário grande parte das pessoas estão indo para o trabalho. 

O caminho é bastante bonito e há bastante subidas.

Chego em Santa Rita por volta das 12h20, então ainda foi possível rangar e depois ir para o hotel. Como cheguei mais cedo consegui lavar as roupas.

Vídeo do vigésimo quarto diahttps://youtu.be/gUtiEzHgZe0

No vigésimo quinto dia, saio da pousada um pouco mais tarde e começo minha caminhada às 8h30 em frente ao Santuário de Santa Rita. Após um longo trecho margeando vicinais, volto para a estrada de terra e almoço metade do lanche que comprei no dia anterior em Santa Rita do Passa Quatro. Esse trecho requer um pouco mais de atenção, pois em uma determinada altura, um outro trajeto também sinalizado por setas amarelas coincide com o Caminho da Fé.

Santuário de Nossa Senhora Aparecida em Tambaú

Passo pelo distrito de Santa Cruz da Estrela, como um salgado e reabasteço minhas garrafas de água. Já passam das 14h30 e falta bastante para chegar em Tambaú.

Depois de caminhar mais três horas, graças a Deus, estou em frente ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida em Tambaú, cidade do beato padre Donizette Tavares de Lima.

Vídeo do vigésimo quinto diahttps://youtu.be/GPXjyvFc0R8

No vigésimo sexto dia saio de frente ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida por volta das 7h40, passo em um bar para comprar amendoins. Acho que não mencionei antes, mas meu principal alimento é amendoim.

Uma suave brisa sempre me acompanhava em vários trechos da estrada.

Amendoins, castanhas e uva passa. Este mix de ingredientes são super nutritivos, além de trazerem energia na medida certa. Isso sem dizer que é muito prático. Eram 8h10 e eu já estava na zona rural de Tambaú. 

O dia estava muito quente, mas uma suave brisa sempre me acompanhava. Em vários trechos da estrada, parecia que eu caminhava sobre talco de tão fina que era aquela terra vermelha.

Ao chegar em Casa Branca o Caminho nos guia até o Santuário de Nossa Senhora do Desterro e depois termino minha jornada diária em frente a igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores. Uma igreja mais bela que a outra.

Amanhã, seguirei rumo a Vargem Grande do Sul.

Vídeo do vigésimo sexto dia – https://youtu.be/5TPf5l5zjWw

No vigésimo sétimo dia, sigo em direção à igreja de Nossa Senhora das Dores. O hotel onde pernoitei, apesar de ser credenciado, não está no Caminho e fica a mais ou menos oito quadras de distância da matriz, mas como já disse: “sempre que possível o início de minha caminhada diária é em frente a igreja ou seja, onde começo e termino o trajeto do dia”.

A caminhada do dia começa às 6h53. Hoje para mim, 30 de junho, é uma data muito especial, afinal de contas, não é para qualquer um comemorar o aniversário durante uma Peregrinação pelo Caminho da Fé, não é?

Em pouco mais de meia hora, meu primeiro presente. O trajeto oficial do Caminho, passa pelo Horto Florestal de Casa Branca. Digo oficial, porque muitos peregrinos e bicigrinos, quando saem do hotel, seguem direto para um outro trecho do Caminho, atalhando uma parte do percurso, mas perdem a oportunidade de conhecer um lugar maravilhoso.

Logo cheguei na cidade de Itobi, onde passei reto. Só me dando conta disso uns oitocentos metros depois. Retornei, carimbei meu passaporte no hotel, fui até a padaria e comi dois salgados, pois a maior parte do trajeto ainda estava por vir.

Já abastecido, volto a caminhar rumo a Vargem Grande do Sul, meu destino do dia. Grande parte deste percurso é margeando uma estrada vicinal, somente próximo da cidade é que retornei à estrada de terra.

Quando cheguei à cidade, fui direto para a igreja de Sant’Ana. Ali, foi onde tive a maior emoção nestes primeiros vinte sete dias de caminhada. Ao entrar pela porta central, vi que o padre abençoava os fiéis com água benta ao som da música Nossa Senhora do Roberto Carlos. Quando o sacerdote me avistou, mudou seu trajeto e veio ao meu encontro aspergindo a água sobre mim. Dá para imaginar a emoção que senti?

Depois de chorar muito de emoção e receber uma bênção especial do padre, sigo para o hotel, jantando por lá mesmo. Amanhã meu destino será, se Deus quiser, São Roque da Fartura.

Vídeo do vigésimo sétimo dia – https://youtu.be/2-RG3zEjPec

No vigésimo oitavo dia, tomo café no hotel e saio de frente à igreja Matriz de Sant’Ana às 7h25. De acordo com a planilha do Caminho da Fé, a distância de Vargem Grande do Sul e São Roque da Fartura são 29 quilômetros, mas o relevo é bem diferente,

Neste trecho entre Vargem Grande do Sul e São Roque começaram as famosas subidas e descidas do Caminho da Fé.

Já na saída da cidade, entrando na estrada de terra, me deparo com um lindo monumento em homenagem aos 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida, comemorado em 2017. Na sequência há uma via crucis nos primeiros 12 quilômetros do trajeto. Via Crucis, são aqueles catorze quadros que representam as cenas principais do sofrimento de Cristo antes da sua morte que a gente vê nas paredes laterais da igreja, no Caminho são 14 monumentos. Esqueci de mencionar, ao longo destes 29 quilômetros de trajeto, há vários pontos com água potável.

Nesse dia, como em vários outros, meu almoço foi amendoim e paçoca. A energia que esses alimentos proporcionaram foi fundamental, porque o relevo mudou bastante. Neste trecho começaram as famosas subidas e descidas do Caminho da Fé. 

Cheguei em São Roque da Fartura um pouquinho antes das 16h. Eita lugarzinho frio.

Vídeo do vigésimo oitavo dia – https://youtu.be/O904kddcluw

Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, Águas da Prata

No vigésimo nono dia, saio de frente à igreja de São Roque às 6h30, com frio e vento forte. Sigo a caminhada e quando chego entre os quilômetros 326 e 327 tenho uma das visões mais deslumbrantes destes 29 dias de caminhada, o Mirante Azul. Chegando a este local, ao lado esquerdo da estrada tem uma capelinha com Nossa Senhora das Graças e ao lado direito o Mirante, com direito até a um banco, onde o peregrino pode sentar e ficar contemplando o maravilhoso visual. Fico ali por alguns minutos e volto para minha caminhada.

Após andar poucos quilômetros, encontro com dois ciclistas de Poços de Caldas, o Glauco e o João Guilherme. Pedaleiros experientes que conhecem muito bem aquela região. O Glauco me explica que dali alguns quilômetros encontrarei uma bifurcação no Caminho: à direita sigo para Águas da Prata por trecho exclusivo que passa por dentro de propriedades rurais. Neste trecho é proibida a circulação de carros e motos. Todas as porteiras são fechadas por cadeados. O peregrino que está a pé (quando a mochila deixa) tem a opção de passar por uma passagem ao lado da porteira, já para o bicigrino é mais complicado, tem que passar a bike por cima ou por baixo da cancela.

Até aqui, o vigésimo nono dia de caminhada, foi o trecho mais bonito que passei. Por se tratar de sábado, encontrei muitos ciclistas de final de semana. 

Cheguei em Águas da Prata às 13h15, fui para a pousada e ainda deu tempo de almoçar.

Vídeo do vigésimo nono dia https://youtu.be/kS6IxBTUJUY

Peregrinos de Águas da Prata.

No trigésimo dia, saio da pousada às 6h50. Vou para a frente da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes e dou início a minha caminhada diária. Hoje rumo a Andradas.

É o primeiro dia que vejo muita gente na estrada. A maioria dos peregrinos e bicigrinos saem de Águas da Prata.

Como é domingo, se juntam aos peregrinos muitos ciclistas de final de semana. Como disse, a estrada é bem movimentada, mas por ser final de semana também encontrei vários carros e caminhonetes com destino ao Pico do Gavião, local muito conhecido por amantes do voo livre (com voo não motorizado, que utiliza as térmicas (atividade térmica e do vento na Camada limite atmosférica) para realizar os voos.

São Roque Fartura – Águas da Prata, um dos trechos mais lindo do Caminho.

Como falei no dia de ontem, o relevo começou a mudar no trecho entre Vargem Grande do Sul e Águas da Prata.

Antes de chegar em Andradas, passei por umas descidas que caminhando eu mal conseguia ficar em pé, fiquei imaginando os bicigrinos descendo aquelas ladeiras intermináveis. Muito cascalho e super íngreme. Na minha opinião, as descidas são muito mais difíceis que as subidas. Força-se muito os joelhos e machuca a ponta dos pés.

Caminho entre Águas da Prata – SP – Andradas – MG

Cheguei em frente a igreja Matriz de São Sebastião às 15h20 e fui para o hotel, onde também estava uma turma de peregrinos da cidade de Serrana, São Paulo.

Quando pedi para o senhor do hotel carimbar meu passaporte, ele assustou, pois já havia muitos carimbos. Ele exclamou: “Caramba, você está vindo do ramal mais novo, são praticamente 900 quilômetros !!! Está sozinho? Então lhe respondi: Nunca. Estou sempre muito bem acompanhado de Nossa Senhora Aparecida, Deus e meu Anjo de Guarda. Subi para o quarto e à noite consegui assistir a missa na igreja de São Sebastião.

Na semana que vem, o último dia da série. Iremos reviver juntos os últimos dez dias de peregrinação, terminando com a emocionante chegada no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Até lá, se Deus quiser…

Clique aqui para ler a primeira parte da jornada peregrina de Edvaldo Santos
Clique aqui para ler a segunda parte da jornada peregrina de Edvaldo Santos

Vídeo do trigésimo dia – https://youtu.be/BAxX0ogYUNc

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